capítulo 4

Me assunto com a imagem de Rafael de braços cruzados parado bem na minha porta.

Eu deveria ignorar a campainha instante, porém mesmo sabendo que era ele meus dedos também insistiram em abrir aquela porta.

__ O que você está fazendo aqui? — Perguntei sem jeito. Mesmo sem entender o motivo de estar tão sem jeito assim.

__ Como eu disse antes, a cidade anda perigosa de mais para uma dama. Só vim conferir se você chegou bem. — Respondeu com um sorriso estridente.

__ É, eu, estou muito bem. — Vou tropeçando nas palavras.

Uma novidade.

Uma novidade e tanto.

Uma falta de controle surreal.

Isso é estranho. Muito estranho!

Eu nunca perco o controle, nunca mesmo, mais ele, o seu jeito de falar, de me olhar, tudo nele me descontrola totalmente.

__ Tem certeza? — Fiz que sim com a cabeça — Àqueles olhos negros passaram a percorrer o meu corpo.

__ Muito bem por sinal. — Meu corpo vidra como um fio elétrico quando ele desce aquele olhar.

Ele conseguiu tocar os meus pensamentos sem nem mesmo atingir meu corpo, era como se ele conseguisse me despir com os olhos, me deixar exposta, vulnerável, só pelo fato de me olhar.

Era um sentimento tão novo, tão diferente de tudo que um dia eu já senti que é quase impossível de se descrever, tudo que sei é que é algo forte o suficiente para me fazer perder o chão.

Sem palavras meus olhos analisaram aquela beleza toda encostada na minha parede.

Era tão lindo de se ver...

Os traços daquele rosto perfeitamente esculpido por baixo daquela sua fisionomia forte e fria era um atrativo visual e tanto, aquela barba que foi deixada por fazer propositalmente, aqueles lábios rosados que nem pareciam reais completando o pacote.

Era tudo tão perfeitamente perfeito que era quase irrealista.

Não teve um primeiro beijo, não teve uma pegada súbita, más mesmo assim eu senti o fogo subindo rapidamente, senti um calafrio estranho arrepiando-me até a alma, incendiando o meu corpo todinho, foi a pegada sem pegada mais louca de toda a minha vida.

__ Você parece, estranha. Está tudo bem mesmo? — Com um sorriso largo ele me tira daquele transe.

__ Sim, tudo bem mesmo. — Disfarço.

__ Então até amanhã Elena. — Ele se vira e sai. Com ele leva o peso de um mundo que a pouco havia jogado sobe o meu corpo.

Entro e me jogo na cama me sentindo a mulher mais horrível do mundo.

Eu tipo trai Santiago mentalmente, e tipo, também desejei que aquilo acontecesse fisicamente.

Estou ficando louca!

Luto para dormir e depois de uma eternidade de pensamentos sórdidos, só consigo fazer após me aliviar com os dedos.

E o x da questão... Faço isso pensando nele, imaginado ele, aqui, comigo, tocando-me, beijando-me, me fazendo mulher.

Na manhã seguinte, na verdade, na tarde seguinte, como mostra o sol quente lá fora e o relógio de parede que já marca mais de meio dia, acordo com o meu celular tocando insistentemente.

__ Alô. — Depois de procurá-lo com as mãos pela cama, atendo a ligação sem nem olhar.

__ Que merda Elena, o que aconteceu? — Santiago está bravo do outro lado da linha.

Sua voz nada boa é o suficiente para me fazer pular da cama e despertar de vez.

__ Fiquei até tarde analisando o caso. — Minto, e logo minha mente me leva ao caso que eu analisei.

Caramba.

Pensar nele homem já me deixa daquele jeito. E isso não é uma boa, não quando eu estou conversando com meu chefe e namorado.

__ Estava quase montando uma operação para resgatar você e nem sabia de quem.

Se ele soubesse que o perigo que anda me rondando é bem pior que um assassino eu estaria em maus lençóis.

__ Me desculpa. — Peço ao recobrar o juízo perfeito.

__ Tá bom amor, você sabe que eu não consigo ficar bravo com você por muito tempo. — Me sinto horrível, ele é tão gentil e amoroso comigo.

Eu preciso parar de me sentir atraída por aquele homem, preciso parar de pensar nele, de desejar ele tão ferozmente sem nem conhecê-lo.

__ Me desculpa. — Mesmo sem dizer o real motivo, agora peço desculpas pela minha traição mental.

__ Tá tudo bem, é sério. Só me preocupei mais do que deveria como sempre.

Alguém bate na porta insistentemente.

__ Amor depois nos falamos, preciso ir trabalhar já estou atrasada.

__ Tá bom amor. Te amo.

__ Eu também te amo. — Desligo a ligação e vou conferir quem é.

Abro a porta e vejo meu descontrole vestindo um terno preto, de braços cruzados, com aquele seu resto seriamente lindo, encostado na minha parede mais uma vez.

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