O bom negócio - Irmãos Grimm
Era uma vez um camponês que tinha levado a sua vaca para a feira, e a vendeu por sete táleres. No caminho de volta para casa ele tinha de passar por um lago, e já de longe ele ouvia os sapos gritando:
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O Rei Sapo ou Henrique de Ferro - Irmãos Grimm
Em muitos tempos remotos, quando ainda os desejos podiam ser realizados, houve um Rei cujas filhas eram muito bonitas. A caçula, sobretudo, era tão linda que até o sol, que já vira tantas e tantas coi
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O Furo
Quão azarada tem uma pessoa de ser para ter um furo a meio da noite, numa estrada secundária, com uma barra de rede no telemóvel que aparece e desaparece, em caprichos intermitentes? Contar já estar e
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Ámen
Superbia Deves levar uma vida humilde. Os teus feitos não são mais do que gotas no imenso oceano que é a vida. Esse brotar alegre e quente não te vale de nada. Não foi nada de mais. Tu não és nada de
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A Maldição
Começou de mansinho. Um pequeno aperto no coração. Depois, mais forte, o bater descompassado. Pum-pum, Pum-pum, Pum-pum. Será que vai explodir? Veio a respiração ofegante e o aperto na traqueia. Vou
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Mamã
Quero que saibas que segui as tuas regras. Não falei com estranhos. Fui a boa menina que me ensinaste a ser. Disse «olá» e «obrigada». Respeitei os adultos. Não revirei os olhos ou respondi torto. Fiz
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Auto-retrato
Consigo ver bem a minha cara, mas não gosto do ângulo. Inclino o espelho um pouco mais para a direita. Está melhor, mas longe de perfeito. Tento pintar o rosto que vejo, o resultado enerva-me. A forma
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A Dança das Ruínas
A dança tinha recomeçado. No escuro, podia ouvir a música e o som dos pés na madeira centenária do salão. A dor na perna era agora uma espécie de farol aceso, insuportável na sua intensidade, mas impe
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Cadeado
Junto a mim, choro. Como se nunca de mim tivesses levado uma vida. Uma vingança presa por ferros, nesses olhos que não sabiam dar sem tirar. Lembrar-me-ei daquele pequeno universo, como se dele não ho
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Cheiro a Velho
O n.º 8 da Rua das Margaridas estava trancado há demasiado tempo. Notei-o assim que passei a porta e tive de suster a respiração. O cheiro a velho entranhava-se-me nas narinas, na boca e na língua. To
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O Leiteiro
— Estão todos mortos — disse o senhor Lúcio. — O último matei-o esta manhã. — Levou à boca um copo de leite e limpou os beiços à manga da camisola, antes de prosseguir. — O corpo dele está por ali — a
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Inimiga Imaginária
A primeira vez que vi a Crocante, tinha seis anos. Estava de pé, encostada ao meu guarda-vestidos, de cabeça baixa, fixa na ponta dos dedos dos seus pés descalços. Chamei-lhe Crocante porque os ossos
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Cinzento
Quando ela se levantou, viu que ainda tinha a pedra na mão. Tinha dormido com ela. Era uma pedra achatada, com um formato oval quase perfeito e com a cor cinzenta que vemos em todas as pedras. Parecia
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A Carta
Já faltava pouco para acabar a carta. Tinha as mãos húmidas e os dedos tensos de segurar a esferográfica com um pouco de força a mais. Os pensamentos eram-lhe tão estranhos que lhe secavam a boca. Era
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Campo Santo
El que no sabe de amores llorona, no sabe lo que es martirio. Natalia Lafourcade, La Llorona Os lírios presenteiam o rio em tons de roxo, perdendo pedaços de si numa promessa de união que só se concre
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Crisma
Os vestidos e fatos elegantes dos crismandos brilhavam ao sol de uma manhã de verão e eram enriquecidos por sorrisos envaidecidos e delicados, enquanto as harmoniosas badaladas dos sinos já chamavam p
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Milagre
Não! Não!, exclamava ao ver-me ao espelho. A sua superfície refletora destruíra o aconchego proporcionado pelo sonho idílico da noite anterior. A realidade dura confrontava-me, atormentando-me cada ve
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A Queda
Perco as forças, caio para trás, fecho os olhos e deixo-me ir, em queda livre… Mas a queda não é tão livre assim. Pelo caminho, vou batendo em rocha e raízes. Uma pedra rasga-me o braço, fazendo-o san
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Foi A Noite Que Te Levou
El que no sabe de amores llorona, no sabe lo que es martirio. Natalia Lafourcade, La Llorona Chamei-lhe Noite e foi ela que te levou. Não porque fosse a noite em si, mas porque à escuridão pertencia.
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Variatio In Urbana Fabula
A mulher regressa a casa de automóvel, numa noite chuvosa, depois de um encontro que, de romântico, nada tivera. A meio da estrada que liga a metrópole à pequena localidade onde reside há pouco mais d
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