El que no sabe de amores llorona, no sabe lo que es martirio.
Natalia Lafourcade, La Llorona
Chamei-lhe Noite e foi ela que te levou. Não porque fosse a noite em si, mas porque à escuridão pertencia. Veio pela calada, num voto de sigilo e promessa.
Não lhe reconheci a forma ou o modo como se movia.
Só a reconheci pela cor do véu; o véu que a cobria.
As mãos eram quatro largas conchas, mas os braços seis e esguios; não eram humanos ou animais, e certamente não eram divinos — eram de qualquer outra força que só as trevas entendia.
Foi com elas que te pegou.
Neles que te carregou.
Vi o teu rosto branco e a tua expressão retorcida perante a queda do véu,.
A visão do que ocultava.
A sentença que ditava.
Não tinha olhos, mas sete imensas bocas das quais ardiam chamas quentes, roubadas das velas que suplicaram pela sua presença.
Deleitou-se com a tua carne e a tua alma. Foi-lhe dada a minha licença.
Chamei-lhe Noite porque toda ela era preta, e porque respondeu ao meu pedido. Porque te levou sob o luar, pelo que tenho sofrido.