El que no sabe de amores llorona, no sabe lo que es martirio.
Natalia Lafourcade, La Llorona
Os lírios presenteiam o rio em tons de roxo, perdendo pedaços de si numa promessa de união que só se concretiza na morte e na penúria. O rio, incessável na sua correria até se desfazer no mar, tão escuro que não se deixa conhecer, murmura um «olá» e um «adeus» conjunto, levando as pétalas na sua frieza.
A água negra que receba as minhas lágrimas e as leve, que me lave a dor e a memória, e o sangue de dentro e de cima de mim. Pedi perdão, mas Cristo não mo concedeu; chorou quando ditou a minha penitência no seu silêncio de ferro, como tu choras por mim, eternamente, no rio. Há pecados que nem Deus pode perdoar.
Ouço a tua voz, lamuriando o meu nome. Há quanto tempo esperas por mim aqui, ao relento, sozinha? Choro, entrando nas águas às quais tu te uniste, na ânsia de me unir a ti. Deixo que me envolvas com o teu xaile, protegendo-me do frio. Há dores que só a morte pode mitigar.
O vento sopra, beijando o campo, e ouvem-se os lírios a chorar também.