Todos nós acreditamos em alguma coisa, seja acerca do mundo, dos outros ou de nós mesmos. Nossos personagens, assim como os escritores que os conceberam, também precisam acreditar em algo. Muitas vezes, é através dessa crença que surgem os conflitos mais interessantes e as oportunidades de desenvolvimento mais inesperadas de uma narrativa. Outro nome para a crença é visão de mundo: a lente pela qual o personagem enxerga a própria realidade.
Nesta aula, conversaremos sobre as visões de mundo dos seus personagens — e as maneiras pelas quais você pode utilizá-las ao seu favor. Então, vambora?
l. Descubrir como seu personagem pensa do mundo
Maneira pela qual o personagem reage ao que acontece com ele (e a volta dele), assim como os meios que ele escolhe para continuar avançando, são escolhas narrativas quase que totalmente dependentes da visão de mundo adotada pelo personagem.
Para que você saiba qual é essa visão de mundo, você precisa entender seus personagens. Pense em como eles vivem suas vidas e pensam sobre o grande esquema das coisas. Tente fazer uma lista de suas responsabilidades, as coisas que os irritam, seus momentos felizes, suas visões político-ideológicas, seu engajamento a comunidades (desde família até o grupo de aventura). Agora você já consegue ter uma perspectiva mais profunda sobre os grupos nos quais seu personagem se insere, do que ele gosta e das coisas que o irritam. Legal.
Por enquanto, crie uma lista de perguntas para os personagens que você criou para poder conhecê-los melhor.
ll. Traga as visões de mundo dos personagens para situações reais
Como tornar seu personagem mais real?
Preencha a rotina dos seus personagens com evidências de suas visões de mundo. Dessa forma, os leitores podem perceber um padrão de ação em como seu personagem vive, deixando tudo mais autêntico. Essas evidências podem ir desde o jeito de preparar comida até o jeito de escolher as magias no mundo mágico. Lembre-se que as escolhas são o modo pelo qual as visões de mundo aparecem e se revelam ao leitor. Visões de mundo diferentes produzem escolhas diferentes, mesmo que a situação seja a mesma.
Um personagem que não se importa com o resto da humanidade não teria razão para assistir a canais de notícias ou até mesmo ter uma televisão. Talvez ele não tenha nem redes sociais, afinal, nada daquilo importa mesmo. Talvez ele invente uma desculpa que não precisa de nada dessas coisas porque não tem tempo para tais baboseiras; está ocupado demais estudando e trabalhando. Mas você sabe o verdadeiro motivo dessas escolhas. E, visualizando as cenas certas, seu leitor também será capaz de ligar os pontinhos. Nesse momento, tudo fará sentido.
lll. Confronte as visões de mundo com os objetivos pessoais mais importantes
Agora que você já conhece as visões de mundo dos seus personagens e teve um gostinho de como apresentá-las naturalmente, está na hora de dar o último passo. Escolher quais visões de mundo de quais personagens são mais importantes para a história e confrontá-las!
Coloque seu personagem em situações que confrontem sua perspectiva, seja com relação a si mesmo ou aos outros. Faça com que esse novo problema esteja repleto de tensão ou, pelo menos, seja desconfortável para o personagem que o vive.
Nosso personagem odeia as outras pessoas, mas e se uma bolsa de estudos para sua faculdade dos sonhos viesse com um preço: se tornar o representante da sala? Ou, talvez, o pai de um dos colegas (que admirava nosso protagonista por suas boas notas) peça a ajuda dele para cuidar de seu filho que acabou de sofrer um acidente esquisito, envolvendo um mistério que envolve a família do protagonista? O que o personagem fará: continuar agarrado a sua visão de mundo ou caminhar em direção ao seu objetivo?
Pense aí em todas as cenas de confrontação que seus personagens podem viver. Depois, pense no que aconteceria com a visão de mundo desses personagens: continuaria a mesma, mudaria um pouco ou o personagem tentaria se sabotar para sair disso logo?
E esse é o fim de hoje! Espero que tenha dado para perceber como as visões de mundo são importantes para enriquecer os personagens e motivar sua mudança.