Capítulo 4

Alexia, você está bem? - perguntei ao tentar segura-la.

- Olha só, o cara chato, me deixa em paz, eu preciso dormir! - Alexia disse ainda com dificuldade de ficar em pé soltando-se de mim e tentando se apoiar em Vanessa.

- Estou levando ela para casa, coitada,ela precisa descansar. - O rapaz disse ainda com um sorriso no rosto.

- Não precisa, eu levo. - Não sei o que tinha dado em mim, mas eu não podia deixar aquele cara levá-la para qualquer lugar que seja.

- Não, cara, eu vou levar, você nem conhece ela.- Ele disse ao tentar pega-la dos ombros de Vanessa. Foi quando meu subconsciente falou mais alto, fazendo com que eu desse um empurrão no modo automático.

- O que está acontecendo aqui? - Ouvi a voz de Roy se aproximando, a música já estava mais baixa.

- Acho que esse cara batizou a bebida dessa garota.

- O que? Você fez isso J.P.? Como pôde? Cai fora daqui AGORA!.

- Ele está mentindo, eu só estava tentando ajudar a garota.

- Lucas não mente, Saia! - Roy estava começando a se alterar.

Então J.P ergueu as mãos para cima em forma de rendimento e saiu. Respirei aliviado.

- Vou levá-la embora, depois volto. - Eu disse para Roy ao pega-la no colo, ele apenas ascendeu com a cabeça. Alexia ainda estava um pouco acordada. Indo em direção a saída, tentei continuar conversando para que ela não desmaiasse, pois precisava do seu endereço.

Ao chegar no carro, coloquei ela no chão para escorar na porta do passageiro enquanto eu abria.

- Me leva pra casa por favor. - Ela disse, sonolenta, enquanto eu a sentava no banco do passageiro.

- Me mostre o caminho da sua casa. - Liguei o carro e parti na direção do semáforo. - Pra onde eu viro agora?. - Alexia estava em silêncio, olhei para ela, estava dormindo. - Não, não! Acorda por favor! - comecei a dar leves tapas em seu rosto, mas sem sucesso. - Droga!

Tive que fazer a única coisa que passava pela minha mente, ir embora para meu apartamento, não podia deixar Alexia desacordada por aí.

Após uns quinze minutos chegamos, abri a porta do passageiro e retirei Alexia sem dificuldades, ela era magra e baixa, consegui coloca-la em meus ombros, não era difícil carrega-la. Subi as escadas até o segundo andar, pois o elevador precisava de conserto há uns dois meses. Já estava começando a sentir o peso nas minhas costas.

Abri a porta e fui direto para o quarto, coloquei Alexia com cuidado em minha cama. Observei por alguns minutos, mesmo estando com a maquiagem borrada e cabelos desgrenhados, ela continuava bonita, seu rosto era fino e delicado, sua boca era pequena, desci meus olhos para seu corpo, seu vestido estava bagunçado quase que aparecendo tudo, não pude negar que me chamou atenção.

Tentando conter meus pensamentos, peguei um cobertor e a cobri, a noite estava um pouco fresca. Ajeitei seu cabelo para que não ficasse em seu rosto , virei as costas e saí, fechando a porta do quarto.

Devo ter demorado uns vinte minutos no banho, vesti uma roupa qualquer que estava no banheiro e me deitei no sofá. Lembrei de Vanessa que deixei sozinha por causa dessa garota, talvez ela me perdoe, quem sabe.

***

Eu estava sentado tentando me concentrar na aula de Geografia, mas a professora era muito chata, uma senhora ranzinza.

- O que você vai fazer depois da aula? - Susy me cutucou e cochichou. Antes que eu pudesse responder meu celular vibra com uma mensagem de texto:

"Olhe para fora"

Era Emily, a minha garota, ela estava acenando para que eu saísse da sala de aula, estava com um sorriso radiante. Levantei a mão e pedi para ir ao banheiro, a professora me olhou desconfiado mas deixou, então segui meu rumo para fora da sala, Emily era do mesmo ano que eu no ensino médio, porém estudávamos em salas diferentes.

Saímos correndo pelo corredor e nos escondemos quando apareceu a zeladora. Fomos até um canto próximo ao banheiro, um lugar onde ninguém podia nos ver.

- Eu estava com saudades, não pude esperar, fiz um presente pra você! - Emily estava radiante como sempre, me entregou um embrulho, dentro desse embrulho havia um papel dobrado. Uma carta. Para mim, era o melhor presente do mundo, tentei abrir para ler porém ela me impediu.

- Deixe para ler depois.

Estávamos felizes, nos beijamos por alguns momentos, até que ela me encarou com um olhar sério.

- Porque você estava olhando para aquela garota?

- O que? Quem?

- Você está me traindo, Lucas, você quer me deixar por ela, eu sei, eu vejo. - Emily começou a chorar em um desespero desproporcional a situação, suas mãos estavam tampando seu rosto, ao tirá-las percebi que chorava sangue. - Você quer me deixar! Você não me ama! - Eu não sabia o que fazer ou dizer então tentei abraça-la. Mas Emily simplesmente desmaiou em meus braços, eu não podia fazer mais nada, ela se foi, eu sentia isso.

***

Acordei assustado e percebi que já havia amanhecido, a dor do sonho ainda estava em meu peito.

- Quem é Emily? - Alexia estava sentada numa cadeira perto da cozinha.

- O que?

- Sua namorada? Ela te deixou?

Levantei sem responder e fui direto ao banheiro lavar o rosto e escovar meus dentes.

- Obrigada. - Ela disse ao meu lado, não havia percebido que estava me seguindo.

- Você já pode ir e toma mais cuidado, ok?

- Ta legal, bonitão, mas ainda estou te devendo.

- Devendo? E meu nome é Lucas, não bonitão.

- Agora além de estar devendo um celular, você ainda salvou minha pele ontem.

- Não, você já pode ir embora, não está...

- Agora você só precisa me fazer um último favor, me emprestar uma camiseta, eu não quero ir assim a loja. - Alexia disse, me interrompendo, fui até a cozinha e peguei uns biscoitos para comer.

- Você não vai me deixar em paz, não é mesmo?

- Depois, quem sabe.

- Ótimo, pega na segunda gaveta, qualquer uma.

Não parecia tão ruim, eu estava precisando de um celular novo mesmo, eu estava curioso para saber como ela iria pagar. Depois que ela saiu do banheiro de cabelos molhados, estava com seu vestido ainda, porém com minha camiseta por cima, fiquei observando por alguns segundos ela passar os dedos pelos cabelos, Alexia tinha retirado toda sua maquiagem, mas ela ficava bonita de qualquer jeito.

- Vamos acabar logo com isso. - Eu disse ao pegar a chave do carro, tentando afastar qualquer pensamento.

- Então, quem é? - Alexia pergunto enquanto estamos descendo as escadas.

- Quem?

- Emily, você dizia enquanto dormia "Não me deixe, Emily" - Alexia estava tentando imitar a minha voz.

- Não é ninguém.

- Sei, era aniversário de quem ontem?

- De um amigo.

- Quantos anos?

Apenas revirei meus olhos e não respondi. Chegando na garagem fomos até meu carro.

- Posso dirigir? Por favor?

- Nem pensar, ninguém digite meu carro.

- Você é sempre tão chato assim?

- E você é sempre tão irritante? Você fala demais, sabia disso?

- Você parece um velho de oitenta anos.

- Eu preferiria você dormindo. - Eu disse batendo a porta do carro.

Fomos em direção ao shopping. Alexia estava olhando para fora da janela do passageiro, ficou em silêncio por alguns instantes mas logo acabou a paz quando ela resolveu ligar o rádio, procurou por alguma rádio qualquer até que encontrou uma que estava tocando algum tipo de Hip Hop. Aumentou o volume e começou a balançar a cabeça, estava muito alto e a música era péssima, então desliguei o rádio.

- Chato. - Ela disse revirando os olhos.

- Meu carro, minhas regras.

- Que seja! - Disse Alexia ao começar a mexer no porta-luvas.

- Dá pra parar? - Ela era muito irritante.

Um alívio me deu ao ver a entrada do estacionamento do shopping. Fomos até a primeira loja que apareceu, Alexia foi direto para um aparelho atual, ele parecia ser bem caro, mas estava apenas observando a situação.

- Pode ser esse?

- Sei lá! Acho que sim - dei de ombros, nunca me importei com tecnologias, desde que dê para enviar e receber mensagens e ligações, por mim tudo bem.

Ela seguiu com o vendedor até o caixa e eu a segui. Alexia retirou de sua bolsa um cartão.

- Pode ser em três vezes, creio que conseguirei pagar.

- Tudo bem, moça, mais alguma coisa? - A garota do caixa disse educadamente.

- Só isso mesmo, obrigada.

Ao sairmos da loja, Alexia me entregou o celular, abri a parte de trás e ja estava com chip.

- Esse cartão é de quem? - Perguntei, curioso.

- Meu. Quer dizer. Meu padrasto me deu, acho que é alguma forma de me comprar, mas isso não vem ao caso, o que vamos fazer agora?

- Vamos? Nada, eu vou pra casa, adeus.

Quando me virei Alexia me segurou e puxou.

- Eu tive uma ideia, vem comigo.

Fomos até uma loja de roupas, uma senhora muito simpática veio nos atender, mas Alexia disse que não precisava de ajuda.

- Preciso de uma roupa nova e você precisa mudar esse visual.

Alexia olhou e pegou algumas peças de roupa para mim e para ela.

- Eu não preciso, não quero experimentar!

- Vai logo, cara, larga de ser chato pelo menos uma vez. - Ela disse me empurrando com as roupas para o provador, resolvi prova-las, já fazia muito tempo que eu não comprava roupas novas, então se eu gostasse, iria comprar eu mesmo.

Vesti uma camiseta azul que coube bem em mim, e uma calça jeans com um rasgo nos joelhos, apenar de não ser meu estilo, tenho que admitir que ela era boa nisso.

Ao sair do provador com as roupas nas mãos, ela estava com um vestido vermelho vinho, um pouco rodado, estava linda, seus cabelos estavam quase secos.

- O que achou? Acho que vou levar, você gostou das roupas que escolhi para você?

Demorei alguns segundos para voltar a realidade, eu não poderia estar sendo atraído por aquela garota, ela era muito diferente de mim, e eu não sabia absolutamente nada sobre ela.

- Hey!

- Ficou boa, vamos embora agora?

Alexia começou a rir, o som da sua risada até que era gostosa de ser ouvida.

Passamos no caixa e discutimos para saber quem iria pagar as minhas peças, ela ganhou.

- Você só ganhou porque é faladeira demais, a moça do caixa não estava te suportando mais.

- Sei. - Disse ela, rindo. - Olha só, vem comigo. - Alexia me puxou para uma loja de móveis de rico.

- Agora quer comprar um móvel?

- Me empresta seu celular. - Ela disse tomando ele da minha mão. - Na parte de cima tem a sessão de lustres e outras coisas a mais de vidro, vem, vou te mostrar.

Alexia segurou minha mão e me puxou. Quando subimos a escada rolante, um lugar bonito apareceu, era cheio de luzes, tinha uma mesa de vidro, era um lugar muito iluminado. Enquanto eu estava impressionado com algumas coisas, vi pela minha visão periférica Alexia tirando fotos minha.

- O que você está fazendo?

- Você está com uma cara de bobo, não podia perder. - Ela disse, rindo. Virou o celular e tirou uma self. - Vem! - Me puxou novamente, dessa vez para a sessão de sala de estar.

Nos sentamos numa sala montada, Alexia cruzou as pernas, segurou minha mão e tirou outra foto. Quando um vendedor se aproximou, ela ficou seria.

- Essa sala é pequena e simples demais, Alfredo! Não quero essa sala de pobre! - Ela disse e o vendedor simplesmente deu meia volta e saiu, Alexia começou a rir imediatamente.

- Hey, um sorriso? não acredito - Ela disse quando me olhou. Eu estava rindo dela, ela era engraçada e divertida, mas um pensamento tomou a minha mente, lembrei do dia em que eu e Emily compramos nosso primeiro televisor. Tudo a minha volta ficou cinza e escuro, minha respiração estava ofegante.

- Preciso sair daqui. - levantei imediatamente e fui direto para fora.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***