Sombras Entre Nós

As grandes portas do castelo se abriram com um estrondo quando Adam entrou, ofegante, coberto de folhas e com marcas de luta nos braços. Seu olhar era sombrio... mais intenso do que nunca. O ar ao redor dele parecia mais pesado, carregado de uma energia que fazia até os servos mais ousados evitarem cruzar seu caminho.

Subiu as escadas com passos largos, sem se importar com os cortes em sua pele ou com a terra presa em suas roupas. Seu único pensamento... era ela.

Ao chegar diante da porta do quarto de Mei, parou por um instante. Encostou a mão na madeira como se precisasse se controlar... respirar fundo... sufocar a raiva e o medo que ainda queimavam dentro dele.

Então, abriu a porta devagar.

Mei estava sentada na cama, pálida, abraçando os joelhos, com os olhos baixos... mas ao perceber a presença dele, ergueu o olhar devagar, como se sentisse que algo nele havia mudado.

Adam se aproximou. Seus olhos ainda carregavam um brilho avermelhado, e sua expressão oscilava entre preocupação e pura fúria contida.

— Você... está bem? — ele perguntou com a voz baixa, mas havia uma urgência no tom, como se precisasse se certificar de que ela estava realmente viva.

Mei assentiu com um leve movimento de cabeça, mas então olhou para ele de forma mais atenta. Notou os arranhões, o sangue seco no canto da boca dele, a roupa rasgada.

— O que aconteceu com você...? — sua voz saiu quase como um sussurro.

Adam desviou o olhar por um segundo. Não queria assustá-la... mas também não conseguia mentir.

— Precisei resolver... algo. — respondeu, sentando-se na beirada da cama, com os ombros tensos.

Mei puxou o lençol contra o peito como se buscasse alguma proteção, mas, ainda assim, criou coragem para perguntar o que mais temia.

— Adam... e o lobo...? — sua voz falhou no meio da frase.

Silêncio.

O ar pareceu congelar entre os dois.

Adam fechou os olhos com força, respirando fundo como se as palavras que prestes a dizer fossem veneno.

Ele se levantou abruptamente, caminhou até a janela e apoiou as mãos no parapeito de pedra, olhando a noite lá fora. O vento soprou contra seu rosto, como se tentasse acalmá-lo... em vão.

— Ele voltou... — respondeu por fim, a voz grave e cheia de tensão.

Mei arregalou os olhos, sentindo o sangue gelar em suas veias.

— Voltou...? — ela repetiu, com a respiração acelerando. — Mas... você disse que ele estava morto!

Adam virou-se para ela num movimento brusco, os olhos vermelhos agora mais intensos do que nunca.

— Eu o matei, Mei! Eu o destruí naquela noite... mas... — ele fez uma pausa, apertando os punhos com força — ...há forças em jogo que nem eu consigo explicar. Ele não é apenas um lobo comum... ele é algo... diferente... algo que me desafia... e que... quer você.

O quarto pareceu encolher ao redor deles.

Mei levou a mão à boca, os olhos marejados de medo.

— Ele me quer...? — sua voz saiu trêmula.

Adam avançou até ela em dois passos rápidos, ajoelhando-se ao lado da cama. Segurou o rosto dela entre as mãos, com um toque firme e ao mesmo tempo cuidadoso.

— Escute o que vou te dizer, Mei... — sua voz agora era mais baixa, mas com um tom possessivo, carregado de promessa e ameaça ao mesmo tempo. — Enquanto eu existir... enquanto meu coração bater... ninguém... absolutamente ninguém... vai tirar você de mim. Nem aquele maldito lobo... nem o inferno inteiro...

Mei o olhou nos olhos, com o coração disparado, dividida entre o medo e algo mais... algo que começava a crescer dentro dela... uma confiança perigosa... uma conexão que ela mesma não entendia.

Por fim, ela apenas sussurrou:

— Eu acredito em você...

Adam fechou os olhos por um segundo... e encostou a testa na dela, respirando fundo como se aquele simples contato fosse a única coisa capaz de acalmá-lo naquele momento.

Lá fora, a noite parecia observá-los... como se a própria floresta esperasse o próximo movimento daquela disputa entre predadores.

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