Capítulo 3 — Uma Oferta de Vida

O tempo na floresta se arrastava, medido não em minutos, mas em momentos. O zumbido insistente de um mosquito perto do ouvido. A queda lenta de uma folha encharcada. A gota de suor que se formou na têmpora de Jared e traçou um caminho frio por seu rosto, salgando o canto de seus lábios. Ele não sentia impaciência. A paciência era uma arma, forjada em desertos e selvas piores do que esta, e era talvez a mais letal de seu arsenal. Ele era uma estátua de caça, o corpo fundido à sua trincheira natural, a pedra fria e lisa ainda pesando em sua mão como uma promessa.

De sua posição, ele via o líder entrincheirado do outro lado da clareira, a uns quarenta metros. O homem estava tenso, a pistola em punho, alternando o olhar entre a área onde seus homens desapareceram e a direção do rio, de onde seu último reforço deveria surgir. Jared analisava a postura do homem, a maneira como seus ombros estavam contraídos, o jeito como sua cabeça se movia em espasmos. Medo. O medo o tornava previsível.

Passaram-se dois, talvez três minutos de silêncio denso. Então, o som de passos apressados e galhos quebrando veio do sul. Ramirez, o homem do rio, finalmente chegou. Ele correu para a posição do líder, a respiração ofegante, a AK-47 em mãos, os olhos arregalados.

— ¿Jefe? ¿Qué pasó? ¡No escuché nada!

— ¡Cállate! — rosnou o líder, a voz um sussurro áspero de pânico contido. — Mató a todos. Está aquí, en el bosque.

Os dois homens agora estavam juntos, agachados atrás da mesma árvore, ambos olhando na direção geral de Jared. Eles estavam focados, esperando um ataque frontal. A arrogância havia evaporado, substituída por um medo palpável, mas eles ainda cometiam um erro fundamental: olhavam apenas para onde esperavam que o perigo estivesse.

Jared esperou. Ele precisava que eles se virassem. Precisava de suas costas. A oportunidade veio quando o líder, frustrado com a espera e incapaz de suportar a própria inação, gesticulou para Ramirez.

— Vamos a rodear por la izquierda. Hacia el río. Lo empujaremos hacia el claro.

Eles começaram a se mover, lentamente, de forma agachada, dando as costas para a posição de Jared enquanto iniciavam sua manobra de flanqueamento. Era o momento.

O braço de Jared moveu-se em um arco rápido e potente. A pedra lisa voou, não para cima, mas em uma trajetória baixa e veloz, cortando o ar úmido. Ela passou sobre a clareira e mergulhou na vegetação densa a uns cinquenta metros de distância, muito além dos dois homens.

CRACK-TUMBLE-SPLASH!

O som da pedra batendo em um tronco, rolando por galhos e caindo na água parada de um igarapé escondido foi alto e claro na floresta silenciosa.

Imediatamente, os dois homens pararam, caindo na isca com uma perfeição patética.

— ¡Allí! — sussurrou Ramirez, apontando na direção do barulho. — ¡Está corriendo!

Eles mudaram de direção, agora se movendo mais rápido, com uma confiança renovada pela crença de que o alvo estava em fuga. Jared os observou se afastar, lendo a linguagem corporal deles como um livro aberto. A caça havia se tornado a caça mais uma vez.

Enquanto eles se concentravam no alvo fantasma, Jared emergiu de sua vala. Silencioso como a névoa da manhã, ele atravessou a clareira vazia, a pistola com silenciador agora em sua mão, pronta. Ele os seguiu a uma distância segura, uns trinta metros atrás. As costas deles estavam completamente expostas.

A distância diminuiu. Vinte metros. Quinze. Ele ergueu a pistola, o cano escuro parecendo um ponto final. Ramirez estava um passo atrás do líder. Uma linha de tiro perfeita.

Pffft.

O som foi um suspiro. Ramirez desabou sem um som, sua AK-47 batendo no chão com um baque surdo. O líder ouviu o baque e parou, o corpo enrijecendo. Ele começou a se virar, mas antes que pudesse completar o movimento, a voz de Jared cortou o ar. Fria, baixa e terrivelmente próxima.

— No te voltees.

O líder congelou.

— Ya está apuntada a tu cabeza. — continuou Jared, declarando um fato.

A pistola na mão do líder era um risco, mas um risco calculado. Um homem aterrorizado raramente age com lógica.

— Sigue caminando. — a ordem de Jared foi um sussurro áspero. — Hacia el río.

O homem obedeceu. Ele caminhou como um autômato em direção à margem lamacenta do igarapé, onde o barco deles balançava suavemente. Ele parou com as botas afundando na lama, de costas, a pistola ainda pendurada em sua mão inerte.

Jared, das sombras, removeu a última variável. Ele ajustou a mira.

Pffft.

O tiro foi preciso. A bala atravessou a mão do líder. Um grito agudo e animalesco rasgou o ar. A pistola voou e desapareceu na água escura. O homem desabou de joelhos na lama, agarrando o pulso destroçado.

Jared emergiu das sombras, parando na terra firme. Ele esperou o grito do homem diminuir para um gemido.

— ¿Eres el líder?

O homem, pálido de choque, conseguiu assentir. — Sí...

Jared o observou, a mente já calculando o próximo passo. Ele não precisava de nomes. Precisava criar um mito. Um fantasma que assombraria os corredores de poder do cartel.

— No. — disse Jared, negando a resposta. — Hay alguien por encima en la jerarquía.

Ele se aproximou, a voz baixando para um tom confessional e mortal.

— Odio las drogas. Odio los crímenes en general. Te ofrezco la oportunidad de vivir. Si te vuelvo a ver, seré tu última visión en esta vida. Y si veo cualquier crimen, especialmente la producción de drogas... ya sabes de lo que soy capaz. Deja que tu jefe lo sepa.

Lentamente, Jared abaixou a pistola. O gesto de misericórdia, vindo dele, era a forma mais pura de terror. Ele estava dando ao homem uma escolha que não era escolha. Continuar operando significaria viver olhando por sobre o ombro, esperando a sombra que viria para cobrar a dívida. A única decisão racional, a única forma de sobreviver, era fugir. Era pegar a história daquele massacre e levá-la ao seu chefe não como uma desculpa, mas como um aviso: aquela parte da floresta pertencia a algo que eles não podiam combater.

— Un consejo. — acrescentou Jared, apontando vagamente para o norte. — No voy hacia el extremo norte del bosque. No me encontrarás por encima del segundo paralelo norte.

A desinformação final. A isca para enviar qualquer futura caçada para uma busca inútil a centenas de quilômetros de distância.

Ele deu as costas ao homem, um ato de desdém final, e começou a caminhar de volta para a escuridão da floresta.

— Vete. — foi sua última palavra, uma ordem jogada por sobre o ombro.

Jared não olhou para trás. Ele não precisava. A mensagem fora entregue. A semente do medo fora plantada.

Ele parou no meio da mata, finalmente sozinho. O acerto de contas havia terminado. O cheiro de pólvora e sangue logo seria lavado pela chuva e esquecido pela terra. A floresta já estava retomando seu ritmo, apagando os vestígios da breve e brutal passagem do homem.

O caminho estava limpo. Agora, e só agora, ele podia finalmente se concentrar em sua verdadeira missão.

Continua...

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