Capítulo 2 — Onde as Árvores Engolem Homens

O amanhecer na Amazônia não era silencioso. Era uma orquestra caótica de vida, um zumbido constante de insetos, um coro de pássaros e o chamado gutural de macacos bugios ao longe. Jared Cortez aprendera a ler essa sinfonia como uma partitura, a identificar cada nota e, mais importante, a notar quando uma delas soava errada. E foi por isso que ele despertou segundos antes da explosão. Um compasso quebrado na música da floresta, uma anomalia que seu instinto, afiado por uma vida em estado de alerta, registrou antes de sua consciência.

Seus olhos se abriram na penumbra úmida. E então, o som veio.

BOOM!

A detonação, a quinhentos metros para leste, rasgou o ar da manhã como um trovão fora de época. Pássaros e macacos responderam com uma cacofonia de alarme, mas para Jared, aquele som era outro tipo de chamado. Não era um ataque. Era o seu alarme particular, a campainha que ele mesmo instalara em seu rastro no dia anterior, um fio de tropeço sutil conectado a uma carga precisa. Era o seu "bom dia", no idioma universal da pólvora.

Um sorriso quase imperceptível moveu o canto de seus lábios. Seu rosto, um mapa de traços duros e marcantes que lembravam os de um caçador indígena, permaneceu impassível. A ascendência mexicana e brasileira se mesclava em uma expressão de estoicismo perigoso, uma calma que parecia ainda mais ameaçadora do que qualquer demonstração de raiva. A caça havia chegado à sua porta.

Uma segunda explosão, mais próxima e visivelmente mais potente, fez o chão vibrar sob seus pés. Esta não era dele. Esta era a resposta. Impaciente, desleixada, irritada. E a irritação, Jared sabia, tornava os homens previsíveis e estúpidos.

Ele se moveu com a calma de quem executa uma rotina milimetricamente ensaiada. Não havia pressa, apenas uma economia de movimento letal. A camisa preta de algodão já colava em seu torso, delineando uma massa de músculos densos e funcionais, o físico de um lutador de elite forjado em dor e disciplina. Ele jogou a mochila de lona sobre o ombro com uma facilidade desdenhosa e caminhou, não para longe do perigo, mas em direção a ele. Seu destino era uma sumaúma anciã, uma torre de vigia natural cujas raízes e galhos ele já havia mapeado mentalmente.

A escalada foi fluida, quase animal. Seus dedos e a ponta de suas botas encontravam apoios no tronco irregular com uma certeza instintiva. A dez metros de altura, aninhado em um galho grosso e oculto pela cortina de folhas, ele se dissolveu no ambiente. Tornou-se o que sempre foi: um predador em seu território.

Abaixo, na clareira onde sua fogueira ainda liberava uma fina coluna de fumaça, o espetáculo começou. Cinco homens. A vestimenta deles era um insulto a qualquer força organizada. Camuflados baratos e desgastados misturados com camisetas sujas e calças cargo. Armas velhas, AKs mal conservadas. Eles se moviam com uma falsa bravata que mal escondia o nervosismo. Não eram soldados. Eram cachorros. E um deles, mais baixo, troncudo, com uma corrente de ouro brilhando contra a pele suada, latia ordens em um espanhol carregado. O líder de campo.

— ¡Busquen! ¡No puede estar lejos! — gritou ele, a voz quebrando a santidade da manhã. — ¡Quiero su cabeza!

Jared observou-os se espalharem, completamente alheios ao par de olhos escuros que os analisava de cima, registrando cada arma, cada hesitação, cada elo fraco na corrente. Um suspiro quase inaudível escapou de seus lábios, um som de pura decepção. Que pena. Ele esperava um desafio, adversários que ao menos respeitassem a arte do combate. A falta de uniformidade, os rostos expostos, a arrogância estúpida... era um insulto à sua preparação. A sutileza seria um desperdício com eles.

Com a mesma agilidade silenciosa, ele desceu, seus pés encontrando o chão úmido da floresta sem perturbar uma única folha seca. Agachado atrás das raízes gigantescas que formavam uma muralha natural, ele abriu a mochila. De dentro, retirou a pistola escura, uma ferramenta robusta e confiável. Com um movimento rápido e praticado, rosqueou o silenciador na ponta do cano. O som do metal se encaixando foi um clique seco e satisfatório. Acomodou a faca de lâmina grossa e serrilhada no cós das costas. Ferramentas. Extensões de sua vontade.

Um dos homens, o que fora enviado pelo líder, se afastava em direção ao rio. Um alvo fácil, isolado. A escolha óbvia. E foi exatamente por isso que Jared o ignorou. Eliminar o batedor solitário apenas os deixaria alertas. Um homem que não responde ao rádio, que não retorna. Isso geraria cautela. E Jared não os queria cautelosos. Queria-os arrogantes e agrupados. O plano era outro: ir direto ao coração do problema, deixar a ferida infeccionar de dentro para fora.

Ele deu as costas ao homem que se afastava e começou seu arco pela mata, um fantasma deslizando entre os feixes de luz e as sombras profundas. Outro capanga, um dos que vestiam o camuflado desgastado, estava completamente focado em um rastro de pegadas falsas que Jared deixara de propósito. Um caminho que não tentava se esconder, mas que seguia em uma linha quase reta para dentro da mata. Uma isca óbvia para um amador. E o homem a mordeu sem hesitar.

Jared observou-o gesticular para o líder, receber um aceno e então mergulhar na vegetação. Perfeito. Jared não o seguiu diretamente. Ele se moveu em paralelo, uma sombra silenciosa, deixando que o homem se aprofundasse na armadilha. Dez metros. Vinte metros. O som da clareira se tornou um murmúrio distante. O capanga agora estava em um trecho mais denso, onde a luz do sol lutava para tocar o chão. Ele estava completamente isolado, um cordeiro perdido.

Jared parou. Seu corpo ficou imóvel, fundindo-se com a escuridão de uma figueira-brava. Ele ergueu a pistola. A respiração, calma e controlada, não causava o menor tremor em sua mão. A mira alinhou-se com a parte de trás da cabeça do alvo, a doze metros de distância. Não houve hesitação. Não houve emoção. Apenas o cálculo frio e a execução precisa.

Pffft.

O som foi um sopro, um estalo seco, imediatamente engolido pela imensidão da floresta. Foi menos barulhento que a queda de um coco.

O homem desabou instantaneamente, como uma marionete cujas cordas foram cortadas. Ele caiu para a frente, o corpo estatelado sobre o mesmo rastro que o levara à morte. Sem um grito, sem um espasmo.

Um a menos.

Jared permaneceu imóvel por trinta segundos inteiros, ouvindo. Apenas os sons da floresta responderam. Nada havia mudado na clareira. Ele continuou seu percurso mortal, contornando a área aberta, o silêncio como seu maior aliado. Seu próximo alvo era o outro homem de camuflagem, posicionado na borda leste, olhando fixamente para a direção errada, para a fumaça da primeira explosão. Ele estava de costas para a escuridão. De costas para Jared.

A cena era uma repetição grotesca da anterior, um testamento da incompetência de seus inimigos. Jared se posicionou atrás de um tronco caído coberto de musgo. A pistola subiu mais uma vez. Ele esperou. Um bando de araras coloridas passou voando e gritando alto sobre a clareira, um som natural, um presente da própria floresta. No auge do barulho, ele agiu.

Pffft.

O segundo homem caiu de joelhos primeiro, depois tombou para o lado, a queda amortecida pela vegetação rasteira.

Dois a menos.

Na clareira, a paciência do líder finalmente se esgotou. Ele não tinha resposta do homem no rio, nem do que seguiu o rastro.

— ¡Inútiles! — ele gritou, a voz carregada de frustração. Ele se virou para seu guarda-costas pessoal, o homem sem camisa. — ¡Vaya a ver qué pasó con Marcos! ¡Ahora!

O capanga assentiu e caminhou para a morte. Jared observou-o se aproximar do local exato onde o corpo de Marcos estava escondido. Viu-o se abaixar, afastar as folhas. Viu o choque congelar suas feições. Viu a boca se abrir para um grito que nunca nasceu.

Pffft.

O terceiro tiro da manhã encontrou seu alvo. O homem caiu sobre o corpo do companheiro, criando uma pilha macabra.

Três a menos.

Jared avançou, rápido e silencioso. Agachou-se ao lado dos corpos e pegou o rádio do último homem. Apertou o botão. Sua voz, um espanhol perfeito, cortou a estática. Baixa, calma, infinitamente mais aterrorizante do que qualquer grito.

— Ven a verme.

Uma pausa, deixando o veneno daquelas palavras se infiltrar.

— Estoy aquí. Donde los árboles se tragan a tus hombres. Al este de tu fogata. Te espero.

Ele jogou o rádio no chão e recuou para uma vala natural, uma trincheira coberta de raízes. Antes de se esconder, seus dedos se fecharam ao redor de uma pedra lisa e pesada. De sua nova posição, ele via a pilha de corpos e um trecho do rio ao longe.

Um grito de fúria pura veio da clareira.

— ¡HIJO DE PUTA!

O líder sacou sua pistola. Por um instante, a raiva o impulsionou para a frente, cego. Mas ele parou. A frieza calculada na voz do caçador foi um balde de água gelada em sua fúria. Ele olhou para a floresta silenciosa que havia devorado seus homens e recuou para a cobertura de uma árvore. Pegou seu próprio rádio.

— Ramirez, ¡vuelve del río! ¡AHORA! ¡Tenemos una rata!

O jogo mudou. A caçada virou um cerco.

O líder estava entrincheirado, esperando reforços. O último capanga, Ramirez, estava a caminho, vindo do rio, criando um segundo vetor de ataque.

E Jared, na sua trincheira, no centro de tudo, esperava. A pedra fria em uma mão, a pistola ao alcance da outra. A floresta, cúmplice, prendeu a respiração.

Continua...

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