Não Há Como Fugir Dessa Ligação

Quando o dia amanheceu a claridade suave atravessava a janela do quarto de hospital. Valentina piscou algumas vezes, o som contínuo dos monitores preenchendo o silêncio. Sentia a cabeça pesada, mas estranhamente não havia dor forte, nem arranhões e nem hematomas leves.

Ao virar o rosto, viu Alisa, sua mãe, sentada ao lado. Ela segurava firme sua mão, com os olhos marejados de alívio.

ALISA: Graças a Deus… você acordou, minha menina.

Valentina sorriu de leve, tentando tranquilizá-la.

VALENTINA: Estou bem, mamãe. Foi só um susto, nada demais…

Logo depois, Lucas, seu noivo, se aproximou apressado. O olhar dele estava cheio de preocupação, embora tentasse disfarçar com firmeza. Ele tomou a mão livre dela e a beijou suavemente.

LUCAS: Você quase me matou do coração, Valentina. Não faz mais isso comigo.

Ela soltou uma risadinha fraca, tentando aliviar o peso do momento.

VALENTINA: Ei, não foi culpa minha… eu só… acho que me distraí um pouco. Mas eu estou bem, de verdade.

LUCAS: Como isso aconteceu?

VALENTINA: Foi tão rápido, eu estava dirigindo ouvindo uma música e eu não percebi o carro que vinha na frente, quando ele se aproximou eu tentei desviar e meu carro saiu da estrada e bateu na árvore.

Do outro lado, Estela, sua melhor amiga, inclinou-se com um sorriso trêmulo.

ESTELA: Você não imagina o pânico que causou em todos nós! Quando sua mãe me ligou eu vim correndo pra cá.

ALISA: Quando eu cheguei no local você estava desmaiada, mas graças a Deus sem nenhum arranhão, o que é um milagre pois o vidro da frente quebrou e o carro estava todo quebrado na frente.

VALENTINA: Pois é, mas que bom né.

ALISA: Mesmo assim eu liguei para a ambulância e mandei o carro para o conserto.

Valentina apertou a mão dela com carinho, emocionada. Mas no fundo… havia algo estranho. Uma sensação que não conseguia explicar. Seu corpo parecia diferente, mais forte, mais desperto e havia uma lembrança vaga, como um sonho perdido: um par de olhos azuis intensos, observando-a na escuridão.

Um arrepio percorreu sua espinha.

Ela piscou, afastando o pensamento, sem coragem de contar a ninguém.

Enquanto isso, Alisa acariciava seus cabelos, murmurando baixinho:

ALISA: O importante é que está bem, meu amor. Isso é tudo o que me importa.

[ MANSÃO DUVALL ]

Quando a noite chega o vento soprava pelas janelas altas, agitando as cortinas pesadas. No salão principal, Adrien permanecia em silêncio, de pé diante da lareira apagada, os olhos fixos na escuridão.

Ele tentava ignorar a sensação que queimava dentro de si… mas era impossível.

O laço estava ali.

Cada batida do coração de Valentina ecoava em sua mente como se fosse o dele próprio. Ele sentia sua respiração irregular, a confusão em seus pensamentos, até mesmo o medo leve que a envolveu quando despertou no hospital.

Ele fechou os olhos, apertando as mãos atrás das costas, como se isso pudesse silenciar a força do vínculo.

ADRIEN: Maldição… eu nunca deveria ter me envolvido.

Atrás dele, passos leves ecoaram. Catarina entrou no salão, observando-o com um meio sorriso, como alguém que já sabia o que estava acontecendo.

CATARINA: Você a marcou, Adrien. Não importa o quanto negue. Agora, não há como fugir dessa ligação.

Ele se virou lentamente, os olhos azuis faiscando com raiva contida.

ADRIEN: Foi um erro. Eu apenas a salvei. Nada além disso.

Catarina arqueou a sobrancelha, cruzando os braços.

CATARINA: Três séculos sem olhar para ninguém… e justo agora chama de "erro"? Não se engane. Você sente o que está acontecendo.

Adrien desviou o olhar, o maxilar tenso. Ele não queria admitir, mas as palavras dela eram verdadeiras. Desde o momento em que provou a essência de Valentina, algo havia despertado, algo que ele acreditava ter sido enterrado junto com Elizabeth, sua noiva morta há tanto tempo.

Adrien fechou os olhos por um instante, tentando sufocar a raiva e o desejo. Ele não podia permitir que Valentina fosse arrastada para o mundo das sombras. Não ela.

ADRIEN: Ela nunca deve saber.

Mas, no fundo de sua alma imortal, ele sabia que era apenas uma questão de tempo.

[ CASA DA VALENTINA ]

No amanhecer do dia seguinte o sol da manhã iluminava suavemente o quarto de Valentina em sua casa. Ela ainda se recuperava do susto do acidente, mas estava animada e feliz por estar cercada pelo conforto do lar.

O som da campainha tocou e, em poucos segundos, Lucas entrou, com o sorriso preocupado no rosto.

LUCAS: Bom dia… como você está se sentindo hoje?

Valentina sorriu, sentindo o calor do carinho dele.

VALENTINA: Estou bem, Lucas. Um pouco assustada ainda, mas me recuperei rápido.

Ele aproximou-se dela, segurando suas mãos com firmeza, e seu olhar se encheu de preocupação.

LUCAS: Ainda bem… mas por favor, tenha mais cuidado da próxima vez.

VALENTINA: Eu prometo, vou ser mais atenta.

Lucas respirou fundo, relaxando apenas um pouco, mas continuava com o semblante sério.

LUCAS: Você é preciosa para mim, Valentina. Não quero te perder.

Ela sorriu, emocionada, e apertou a mão dele levemente. Um calor doce percorreu seu peito, mas, ao mesmo tempo, uma estranha sensação insistia em chamá-la, como se algo ou alguém estivesse perto, observando, mesmo que ela ainda não conseguisse identificar.

[ MANSÃO DUVALL ]

Na mansão Duvall, Adrien permanecia em silêncio diante da grande janela do salão principal. O céu clareava lentamente com a manhã de Ashbourne, mas ele não percebia a luz do sol, seus olhos azuis estavam fixos em algo invisível, uma sensação que percorria sua alma imortal.

Ele sentia cada batida do coração de Valentina, mesmo sem saber onde exatamente ela estava. O vínculo recém-criado pelo sangue pulsava com força, uma chama invisível que ardia dentro dele.

ADRIEN (pensando, tenso):

Ela está viva… e está segura. Ainda está longe de perceber o que aconteceu.

Catarina, que se aproximava silenciosa, percebeu a intensidade do olhar dele.

CATARINA: Eu sabia que não seria capaz de ignorar isso por muito tempo.

Ele estreitou os olhos, desviando o olhar da escuridão.

ADRIEN: Não posso. Ela é humana… não posso arrastá-la para este mundo. Não agora.

CATARINA: Arrastar? Não, talvez guiar. Você sente isso porque ela está destinada a cruzar seu caminho. E você sabe que não pode resistir para sempre.

Adrien respirou fundo, a tensão percorrendo cada músculo de seu corpo. Tentava controlar o desejo de ir até Valentina, de vê-la, de sentir sua presença mais perto, mas cada instante longe dela era torturante.

ADRIEN: Três séculos e meio… e ainda não aprendi a me afastar de algo que me chama assim…

Catarina se afastou silenciosa, deixando Adrien sozinho, mas seu olhar cúmplice deixava claro que a batalha interna dele apenas começava.

[ CASA DE VALENTINA ]

Valentina estava sentada no sofá, tomando uma xícara de chá, tentando retomar a calma depois do susto do acidente. Seu corpo ainda doía levemente, mas nada grave.

ALISA: Valentina você tem certeza que está bem?

VALENTINA: Estou bem, de verdade. Foi só um susto mesmo.

Alisa apertou sua mão com carinho, o alívio estampado no rosto.

ALISA: Sério, Valentina… você precisa ter mais cuidado. Não quero passar por isso de novo.

VALENTINA: Eu prometo, mamãe. Vou ser mais cuidadosa.

Apesar da conversa leve, uma estranha sensação percorreu Valentina. Um frio súbito, quase como um arrepio, aquela sensação outra vez de estar sendo observada, embora ninguém estivesse por perto além de sua mãe.

VALENTINA (pensando):

Que estranho… parece que alguém… ou algo… está perto.

Ela sacudiu a cabeça, afastando o pensamento. Talvez fosse só a imaginação. Mas a sensação insistia, como se algo ou alguém estivesse tentando se comunicar com ela, algo que ela ainda não podia compreender.

Valentina vestiu uma blusa leve e calças confortáveis, ainda sentindo o calor do sol da manhã atravessando as janelas da casa. Pegou sua bolsa e, ao sair, respirou fundo, aproveitando a sensação de liberdade depois de tanto susto.

Valentina então pegou um taxi e no caminho até a casa de Estela, Valentina sentia algo estranho. Um leve arrepio percorreu sua espinha, e por alguns segundos teve a sensação de que alguém a observava, mas, ao olhar pelo retrovisor e para os lados, não havia ninguém.

VALENTINA (pensando):

É só impressão… deve ser o susto ainda.

O carro percorria as ruas tranquilas de Ashbourne, cercadas por árvores altas e casas antigas. Mesmo assim, Valentina não conseguia afastar aquela sensação: uma presença sutil, invisível, mas que parecia tocar sua alma.

Logo à frente, ela viu Estela acenando animadamente do portão de casa, os cabelos loiros refletindo a luz do sol e os olhos azuis brilhando de entusiasmo.

ESTELA: Valentina!

VALENTINA: Precisamos planejar tudo do casamento… ainda tenho algumas ideias novas!

Enquanto elas caminhavam juntas em direção à casa de Estela, Valentina sentiu novamente aquele arrepio súbito, dessa vez mais forte, como se algo invisível estivesse tentando se aproximar dela. Ela franziu levemente a testa, olhando ao redor.

VALENTINA (pensando):

Por que essa sensação insiste em aparecer? É como se… alguém estivesse perto, mas eu não consigo ver.

Ela deu de ombros, tentando ignorar o pressentimento e se concentrar na conversa animada com Estela. Mas, ao longe, na sombra de uma rua lateral, Adrien Duvall observava. Seus olhos azuis penetravam a luz do dia, fixos nela, sentindo o vínculo crescer mais intenso a cada instante, silencioso, invisível… aguardando o momento certo para agir.

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