O vento soprava forte naquela noite na mansão Olliver, como se quisesse arrancar as máscaras que cada um ali usava para esconder suas verdadeiras intenções.
O clima estava pesado, carregado de ressentimentos e segredos não ditos.
Desde a humilhação no jantar anterior, os ânimos se tornaram ainda mais tensos — principalmente porque Lúcio não recuara em sua defesa por Mariah.
Sua atitude repercutiu como um terremoto silencioso.
Nenhum dos membros da família esperava que ele se colocasse tão firmemente ao lado da mulher que todos consideravam uma mancha no nome dos Olliver.
Jordan estava furioso.
Solar, tomada pelo ciúme, tramava vinganças em silêncio.
E Anabete… ah, Anabete alimentava um ódio que crescia a cada olhar protetor que Lúcio lançava a Mariah.
Mariah, por sua vez, estava confusa.
A gratidão por tudo que Lúcio fizera crescia a cada dia, mas junto com ela vinha um medo silencioso.
Tinha medo de que suas atitudes o colocassem em perigo, medo de que sua presença causasse uma ruptura irreparável entre ele e a própria família.
E, acima de tudo, medo de que um dia ele se cansasse de lutar por alguém como ela.
Naquela manhã, caminhava pelos jardins da mansão com passos lentos, tentando encontrar algum consolo na beleza das flores que começavam a florescer com a chegada da primavera.
Foi quando ouviu a voz de Jordan atrás de si.
— Vejo que está confortável demais ultimamente — disse ele, com o tom carregado de desprezo.
— Acha mesmo que pode desfilar por aí como se pertencesse a este lugar?
Mariah se virou devagar, mantendo a cabeça erguida, embora suas mãos tremessem.
— Eu não quero causar problemas — respondeu calmamente. — Só quero viver em paz.
Jordan riu, um riso amargo e debochado.
— Paz? Você acha que merece paz depois de tudo? Está aqui apenas porque eu permiti.
Não esqueça que, se não fosse por mim, estaria apodrecendo em uma cela.
As palavras cortaram como navalhas. Mariah fechou os olhos por um segundo, tentando conter as lágrimas, mas quando os abriu novamente, um movimento repentino interrompeu o momento.
— Chega, Jordan! — A voz firme ecoou pelo jardim.
Era Lúcio.
Ele se aproximava com passos decididos e olhar de fogo. O vento balançava seus cabelos escuros enquanto sua presença parecia dominar o espaço inteiro.
Ele se colocou entre Mariah e Jordan, como um escudo humano.
— Você passou dos limites — disse friamente.
— Não vou permitir que a trate assim.
Jordan ergueu as sobrancelhas, incrédulo.
— Vai me dar lição de moral agora? Por defender uma mulher que destruiu a nossa reputação?
— sua voz subiu de tom. — Ela não merece estar aqui, Lúcio. É um erro que precisa ser apagado.
— O erro é você pensar que tem o direito de decidir quem merece respeito e quem não merece — rebateu Lúcio, firme.
— Ela é sua esposa. E, enquanto estiver sob este teto, será tratada com dignidade.
Jordan riu, sarcástico.
— Está se apaixonando por ela, é isso?
É esse o motivo de toda essa coragem?
Lúcio respirou fundo e manteve o olhar firme.
— Não. Não estou apaixonado por ninguém.
— Sua voz era fria, precisa. — Eu apenas não suporto injustiça. E não vou assistir calado enquanto você a destrói por um crime que ela não cometeu.
O silêncio que se seguiu foi denso.
Jordan cerrou os punhos, impotente.
Nunca fora confrontado daquela maneira, principalmente por Lúcio.
— Você está se colocando contra a própria família — disse Jordan, por fim, com os olhos estreitos.
— Isso vai te custar caro.
Lúcio deu um passo à frente, desafiador.
— Se proteger o que é certo me torna um inimigo da família… então que seja.
A discussão deixou a mansão em um estado ainda mais explosivo. Jordan trancou-se no escritório, furioso, e Solar foi procurá-lo pouco depois.
— Você precisa tirar Mariah daqui.
— disse ela, exaltada. — Agora não é só ela. É ele também. Lúcio está indo contra você por causa dela!
Jordan passou as mãos pelos cabelos, nervoso.
— Eu sei. Mas se eu a mandar embora agora, ele vai atrás.
— Então destrua a reputação dela de vez
— sussurrou Solar, com os olhos brilhando de ódio.
— Faça com que ele a despreze. Mostre a ele que ela não passa de uma ladra e uma aproveitadora.
Jordan a encarou por um longo instante.
A ideia era perigosa… mas tentadora.
Enquanto isso, Mariah estava sentada na biblioteca, tentando acalmar o coração acelerado.
A cena no jardim a deixara atordoada.
Lúcio enfrentara o próprio tio por ela — por alguém que, aos olhos do mundo, não valia nada.
Aquilo significava mais do que qualquer palavra de consolo poderia expressar.
Ela ainda não sabia o que sentia. Não era amor — não ainda. Mas havia algo crescendo dentro de si.
Algo que misturava gratidão, admiração e um desejo profundo de estar perto dele.
Talvez… talvez fosse o início de algo maior.
Foi então que a porta se abriu e Lúcio entrou.
Estava sério, como sempre, mas seus olhos revelavam um traço de preocupação.
— Está bem? — perguntou ele, aproximando-se.
— Sim… — respondeu, tentando sorrir.
— Não precisava ter feito aquilo. Agora Jordan vai odiá-lo ainda mais por minha causa.
— Ele já me odeia — disse Lúcio, dando de ombros. — E isso não muda o que é certo.
Mariah abaixou o olhar.
— Por que faz isso por mim? Eu não sou ninguém… não tenho nada a oferecer.
Lúcio se ajoelhou diante dela, forçando-a a encará-lo nos olhos.
— Você merece respeito. Isso é tudo que importa.
— Ele fez uma pausa e completou, mais baixo: — E eu não vou permitir que ninguém tire isso de você.
O coração dela disparou com aquelas palavras.
Era como se cada frase dele desfizesse um pouco das correntes que a prendiam desde o dia do casamento.
Pela primeira vez em muito tempo, ela sentiu que tinha um aliado. Um verdadeiro protetor.
Mas o mundo ao redor deles não descansaria.
Naquela mesma noite, uma notícia começou a se espalhar pelos jornais e pelas redes sociais: “A esposa de Jordan Olliver envolvida em novo escândalo financeiro.”
Documentos forjados, criados por Jordan e Solar, “comprovavam” que Mariah havia tentado desviar parte do dinheiro da fundação de caridade da família.
A imprensa caiu sobre ela como abutres famintos, e em questão de horas seu nome estava novamente manchado.
Quando soube da notícia, Mariah desabou.
Chorou como nunca havia chorado antes, sentindo que não havia saída. Mas, quando tudo parecia perdido, a porta do quarto se abriu. E lá estava ele. Lúcio.
— Vamos limpar seu nome — disse, com a voz firme. — Eu prometo.
— Eles vão destruir minha vida…
— soluçou ela. — Ninguém vai acreditar em mim.
— Eu acredito — respondeu ele, pegando-a pelas mãos. — E, enquanto eu estiver aqui, ninguém vai encostar um dedo em você.
E naquele instante, enquanto os olhos de Mariah encontravam os dele, ela soube que algo dentro dela tinha mudado.
A dor ainda estava lá, o medo ainda existia…
mas havia também um sentimento novo. Um sentimento que crescia cada vez que ele ficava ao seu lado.
Um sentimento que ainda não era amor — mas que já era esperança.
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Atualizado até capítulo 80
Comments
Noeli Viana
que família podre
2025-10-08
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