O vento frio daquela manhã atravessava as janelas da mansão Olliver, mas nada era tão gelado quanto a sensação no peito de Mariah.
Faziam apenas três semanas desde que dissera “sim” a um casamento que nunca desejou.
E cada dia ao lado de Jordan era um lembrete doloroso de tudo que perdera: sua liberdade, sua dignidade e a fé no futuro.
A mansão, imponente e luxuosa, era como uma prisão dourada. Mármore por todos os lados, janelas altas e corredores silenciosos.
— um cenário que parecia bonito aos olhos de quem via de fora, mas que escondia a solidão sufocante de uma mulher que vivia entre as grades invisíveis do medo.
Jordan, desde o dia do casamento, deixara claro que não havia espaço para amor entre eles.
— Você está aqui porque precisa estar — repetia ele, quase como um mantra.
— Não espere afeto, Mariah. Você não é minha esposa por escolha.
Essas palavras ecoavam na mente dela todas as noites. Não importava o quanto tentasse manter a cabeça erguida, sempre havia uma lembrança cruel de sua condição:
ela era apenas um instrumento, uma peça de um jogo perverso pelo qual nunca pediu para participar.
Os dias se passavam lentamente, e Mariah começou a perceber que as humilhações vinham de todos os lados.
Solar, sempre presente nas reuniões sociais da família, fazia questão de lembrar-lhe de seu lugar.
— Que estranho ver uma ladra vestida de seda.
— disse ela certa vez, com um sorriso venenoso durante um jantar. — A vida realmente tem um senso de humor peculiar.
Mariah, com o coração ferido, abaixou os olhos e permaneceu em silêncio.
Nenhuma palavra que dissesse mudaria a opinião daquelas pessoas.
Para todos ali, ela não passava de uma oportunista que se aproveitara da situação para ascender socialmente.
E Jordan nunca se preocupou em defender sua honra — pelo contrário, muitas vezes a deixava sozinha no meio do fogo cruzado.
A única companhia que Mariah tinha era a de Helena, uma empregada antiga da família que, com olhos gentis e voz suave, tentava confortá-la.
— A senhorita não merece isso.
— disse Helena numa tarde chuvosa, ao servi-la no jardim.
— Um coração bom como o seu não foi feito para viver em jaulas.
— Às vezes acho que nunca vou sair daqui — respondeu Mariah, com lágrimas silenciosas escorrendo pelo rosto.
— Sinto que a vida me esqueceu.
Helena segurou sua mão com delicadeza.
— A vida nunca esquece dos corações justos.
Só está preparando o momento certo para surpreendê-la.
Enquanto Mariah enfrentava sua rotina de humilhações, os planos de Jordan seguiam conforme o esperado.
O casamento fora amplamente divulgado e os documentos da herança estavam prestes a ser liberados.
O que ele não imaginava era que, no fundo do peito, começava a surgir um medo que não admitiria nem para si mesmo: o medo de que Mariah, com sua bondade silenciosa, se tornasse uma ameaça à frieza com que sempre viveu.
— Ela precisa lembrar quem manda aqui — disse Jordan a Solar durante um encontro secreto.
— Não posso permitir que ela se sinta confortável.
— Não se preocupe.
— respondeu Solar, com um olhar cheio de desprezo. — Eu cuidarei para que ela nunca esqueça o lugar dela.
Foi numa noite de gala que a situação atingiu seu ponto mais doloroso.
Jordan insistiu para que Mariah o acompanhasse a uma festa importante da família Olliver, onde estariam empresários, políticos e toda a elite da cidade.
Mesmo relutante, ela aceitou. Queria ao menos tentar parecer digna, mesmo que por dentro estivesse em pedaços.
Vestida com um elegante vestido vinho.
— presente de Jordan, escolhido não por gentileza, mas por aparência.
—Mariah entrou no salão de cabeça erguida.
Cada passo era um desafio, cada olhar de desprezo um golpe em sua alma.
No meio da festa, Solar se aproximou com um sorriso falso.
— Está se divertindo, querida?
— perguntou, com a voz carregada de veneno.
— Imagino que não tenha frequentado muitos lugares assim… afinal, onde você cresceu, os bailes devem ser bem diferentes, não?
Mariah tentou ignorar, mas Solar foi além.
— Aliás, deve ser difícil estar aqui sabendo que a única razão de ainda estar livre é esse casamento.
Algumas pessoas acham que ladrões deveriam estar atrás das grades.
Antes que pudesse responder, Jordan se aproximou — não para defendê-la, mas para humilhá-la ainda mais.
— Solar tem razão — disse, com frieza.
— Lembre-se sempre do que você é, Mariah. Sem esse casamento, estaria em uma cela.
As palavras foram como facas afiadas em seu peito.
A dor era insuportável, e o salão começou a girar ao seu redor.
Sentindo o chão sumir sob seus pés, Mariah saiu apressada e se refugiou no jardim da mansão onde acontecia a festa. Lá, sozinha, desabou em lágrimas.
— Por que isso está acontecendo comigo?
— sussurrou, com a voz embargada. — Eu não mereço isso… não mereço…
Enquanto enxugava as lágrimas, uma voz suave e desconhecida soou atrás dela.
— Nenhum coração puro merece sofrer assim.
Mariah se virou, assustada.
Diante dela estava um homem alto, de olhar gentil e expressão sincera. Vestia um terno escuro simples, mas havia algo em sua presença que transmitia conforto e segurança — algo que ela não sentia há muito tempo.
— Desculpe-me…
— disse ele, se aproximando devagar.
— Não quis assustá-la. Vi você sair correndo e… achei que precisava de alguém para ouvir.
— Eu não preciso de pena — respondeu, com a voz trêmula, tentando esconder o rosto.
— E não é pena que estou oferecendo — disse ele, com um sorriso leve. — É empatia.
Houve um breve silêncio. Então, ele estendeu a mão.
— Lúcio Olliver.
O nome soou familiar, e seu coração disparou.
Lúcio… o filho de Joe. O sobrinho de Jordan.
Mariah hesitou, mas acabou apertando a mão dele.
Foi um toque simples, mas despertou nela algo que há muito estava adormecido — a sensação de que talvez, só talvez, ainda existisse bondade no mundo.
— Eu… sou Mariah — disse, quase num sussurro.
— Eu sei — respondeu Lúcio, com um olhar profundo. — E, pelo que ouvi, você tem carregado um fardo pesado demais sozinha.
As lágrimas voltaram a escorrer. Pela primeira vez, alguém não a olhava com desprezo.
Não a julgava, não a chamava de ladra. Lúcio a via como ela era: uma mulher machucada,
mas ainda de pé.
— Eu não sei por que estou lhe dizendo isso, mas…
eu não fiz nada do que dizem — confessou ela, como se tirasse um peso do peito.
— Eu acredito em você — respondeu Lúcio, sem hesitar.
Foi naquele instante que algo mudou.
Um sentimento leve, quase imperceptível, começou a nascer no coração de Mariah.
Depois de tanto tempo sufocada pela dor, sentiu que sua alma, enfim, respirava.
E sem saber, aquele seria apenas o primeiro de muitos encontros que transformariam completamente suas vidas.
— e fariam seus corações gritarem por um amor que nem o destino seria capaz de impedir.
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Atualizado até capítulo 80
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