O amanhecer chegou tímido naquela manhã, com o céu pintado em tons de ouro e lilás. Para Mariah, no entanto, o mundo ainda era um lugar cinza, frio e opressor.
A lembrança da noite anterior — da humilhação no salão e do encontro inesperado com Lúcio — ainda dançava em sua mente.
E, por mais que tentasse negar, o olhar dele a perseguia desde então.
“Eu acredito em você.”
Aquelas quatro palavras, simples e diretas, ecoavam dentro dela como um bálsamo.
Nenhuma pessoa naquela casa havia acreditado em sua inocência. Nenhuma… até ele.
Pela primeira vez desde que tudo começara, Mariah sentiu que não estava completamente sozinha.
Na manhã seguinte ao baile, a mansão Olliver estava em alvoroço. A família se reuniria para um café da manhã formal, tradição imposta por Joe Olliver nas raras vezes em que estava em casa.
Era o tipo de evento que Mariah detestava: um teatro de aparências onde ela sempre era a vilã da peça.
Vestiu um vestido simples de tons claros e desceu as escadas com passos tímidos, tentando passar despercebida.
O salão principal estava repleto de rostos que a observavam com desprezo.
Solar, sentada ao lado de Jordan, sorriu ao vê-la entrar — aquele sorriso que não escondia nem um pouco o veneno por trás.
— Olhem só — disse Solar, alto o bastante para todos ouvirem —, a estrela da noite passada.
A ladra de vestidos finos chegou.
Alguns riram discretamente.
Mariah abaixou os olhos e tentou seguir em silêncio até seu lugar, mas a voz de Anabete, a madrasta de Lúcio, cortou o ar como uma navalha.
— Eu ainda não entendo por que Jordan insiste em manter essa… garota sob o mesmo teto — disse ela, sem disfarçar o desprezo.
— Uma mulher que manchou o nome da família com um escândalo.
— Ela é minha esposa, Anabete — respondeu Jordan friamente.
— E merece estar aqui tanto quanto qualquer um.
— Esposa? — riu Solar, debochada.
— Uma esposa que entrou pela porta dos fundos e arruinou nossa reputação. Que piada.
Mariah respirou fundo. As mãos tremiam sob a mesa e seu coração martelava no peito.
Queria gritar, queria contar a verdade, mas a vergonha a mantinha calada.
Ela já não tinha forças para lutar contra as mentiras.
Mas então, uma voz firme e inesperada ecoou pelo salão.
— Chega.
Todos se viraram para a porta. Lúcio estava parado ali, elegante como sempre, mas com um olhar que queimava em indignação.
Ele caminhou até a mesa com passos decididos e se posicionou ao lado de Mariah, como se aquele lugar tivesse sido feito para ele.
— Isso não é uma corte nem um tribunal — disse, olhando diretamente para Solar e Anabete.
— E mesmo que fosse, nenhum de vocês tem autoridade para julgar essa mulher.
O silêncio que se seguiu foi quase palpável. Solar tentou disfarçar o incômodo com um riso forçado.
— Estamos apenas comentando fatos, Lúcio — respondeu ela.
— Todos sabemos do que ela foi acusada.
— Acusada — interrompeu ele, com a voz firme.
— Não condenada. E até que provem o contrário, Mariah merece respeito.
Ele olhou para ela, e seu tom suavizou.
— Ninguém aqui tem o direito de humilhar você.
Mariah sentiu o coração acelerar. Nunca — jamais — alguém havia se levantado por ela daquela forma.
E o mais impressionante era que ele não parecia estar fazendo aquilo por educação ou piedade.
Havia verdade nas palavras dele. Havia coragem.
Anabete se levantou, visivelmente irritada.
— Você está se esquecendo do seu lugar, Lúcio.
Ela não pertence a esta família. Ela é uma mancha para o nome dos Olliver!
— Se há uma mancha aqui.
— respondeu ele, com frieza —, é a falta de humanidade de quem julga sem conhecer a verdade.
As palavras foram como um golpe direto. Jordan, desconfortável, tentou mudar de assunto, mas o ambiente já havia mudado completamente.
Mariah não conseguia parar de olhar para Lúcio. E, naquele instante, algo dentro dela mudou.
A raiva, a vergonha e o medo que a dominavam começaram a dar lugar a algo novo… algo doce e perigoso: esperança.
Nos dias seguintes, Lúcio passou a aparecer com mais frequência. Às vezes era no jardim, onde Mariah gostava de caminhar sozinha;
outras, na biblioteca da mansão, onde ela tentava esquecer a realidade com os livros. Sempre com a mesma delicadeza, sempre com a mesma proteção silenciosa.
— Você não precisa se esconder de ninguém — disse ele certa vez, encontrando-a sentada no banco do jardim.
— Eles não conhecem você.
— Eles não querem me conhecer — respondeu, triste.
— Para eles, sou apenas um erro que manchou o nome dessa família.
Lúcio se sentou ao lado dela e ficou em silêncio por alguns segundos, observando as flores balançarem ao vento.
— Eu já vi muita gente fingindo ser o que não é — disse enfim. — Mas você…
você é a pessoa mais verdadeira que já conheci.
Mariah sentiu as lágrimas ameaçarem cair.
— Por que está fazendo isso? Por que me defende tanto?
Lúcio sorriu, olhando-a nos olhos.
— Porque é o certo. E porque…
— ele hesitou por um instante — porque eu não suporto ver injustiça, especialmente contra alguém que não merece.
O coração dela disparou.
Nunca imaginou que alguém como ele — forte, nobre e admirado por todos — pudesse ver valor nela.
E, ainda que não quisesse admitir, começou a esperar pelos momentos em que ele apareceria. Começou a contar os minutos para ouvir sua voz.
Começou… a sentir.
Mas o destino não permitiria que essa aproximação fosse fácil. A presença constante de Lúcio ao lado de Mariah passou a incomodar profundamente Solar e Anabete.
Elas sabiam que estavam perdendo o controle da situação — e que aquele elo crescente entre os dois poderia destruir seus planos.
— Você precisa afastá-los — disse Solar a Jordan numa conversa tensa.
— Lúcio está se apaixonando por ela. E, se isso acontecer, não conseguiremos impedir que ele a proteja de tudo.
Jordan franziu o cenho.
— Lúcio não se apaixona fácil. Ele sabe o que faz.
— Está enganado — rebateu Solar.
— Ele está diferente. Eu conheço aquele olhar…
ele está se apaixonando, e ela também.
Jordan permaneceu em silêncio.
Lá no fundo, sabia que Solar estava certa. E isso o assustava mais do que gostaria de admitir.
Naquela mesma noite, durante um jantar formal, a tensão atingiu um novo patamar. Solar, tomada pelo ciúme, decidiu atacar de forma cruel.
— Sabe, Mariah.
— começou ela, em tom provocador —, ouvi dizer que os ladrões sempre acabam voltando ao lugar do crime. Devemos trancar as joias esta noite?
Alguns convidados riram. Mariah abaixou a cabeça, sentindo o rosto queimar de vergonha.
Mas, antes que pudesse dizer qualquer coisa, Lúcio se levantou da mesa com firmeza.
— Basta, Solar — disse, a voz carregada de autoridade. — Essa piada perdeu a graça há muito tempo.
— Ora, estou apenas brincando — respondeu ela, com falsa inocência.
— Brincadeiras não machucam pessoas inocentes — retrucou ele. — E Mariah é inocente.
O salão inteiro ficou em silêncio.
Os convidados se entreolharam, surpresos com a intensidade da defesa. Mariah, com o coração disparado, mal conseguia conter as lágrimas.
Nunca, em toda a sua vida, alguém havia se colocado à sua frente assim.
— como um escudo, como um porto seguro.
Naquela noite, ao se deitar, ela fechou os olhos e sorriu pela primeira vez desde que tudo começara.
Ainda estava presa a um casamento sem amor, ainda era humilhada por muitos, mas agora havia uma chama acesa dentro de si.
E essa chama tinha um nome: Lúcio.
Ela ainda não sabia, mas estava começando a se apaixonar.
Não pelo homem mais rico, nem pelo herdeiro poderoso, mas pelo único que a via de verdade.
Pelo único que a defendia quando todos a julgavam.
Pelo único que fazia seu coração gritar — não mais por liberdade, mas por amor.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 80
Comments
Lilihh
escreve muito bemm
2025-10-09
1