Acordei com a claridade atravessando a cortina fina do quarto. Por um instante, pensei estar de volta à minha casa na roça. O canto do galo não veio, e sim o barulho distante de buzinas e motores. Só aí lembrei: eu estava na cidade, no apartamento da Sofia Becker.
Virei de lado e vi Carolina já de pé, arrumando o cabelo diante do espelho pequeno. Ela usava uma blusa simples, mas tinha um jeito de se portar como se fosse dona de si em qualquer lugar.
— Levanta, dorminhoca. Hoje é nosso primeiro dia de trabalho, — disse, rindo. — Você não quer fazer feio logo de cara, né?
Esfreguei os olhos, sentindo o coração acelerar.
— Ai, Carol… eu tô nervosa. E se eu atrapalhar?
Ela se aproximou, deu um tapinha no meu ombro e respondeu firme:
— Relaxa, Elisa. Você só precisa ser você mesma. Deixa o resto comigo.
Enquanto terminávamos de nos arrumar, ouvimos uma batida suave na porta. Era Sofia, já pronta: cabelo preso num coque prático, uma camisa branca dobrada nos punhos e um ar de quem sabia o que estava fazendo.
— Bom dia, meninas. Dormiram bem? — perguntou, com um sorriso gentil.
— Eu dormi como uma pedra, — respondeu Carol. — A Elisa aqui sonhou a noite inteira, aposto.
Corei na mesma hora.
— Não é verdade… — murmurei, envergonhada.
Sofia riu baixo, depois completou:
— Hoje vai ser tranquilo. Quero só que vocês conheçam o café, vejam como funciona. Não precisam se preocupar em acertar tudo de primeira.
Senti o peso nos ombros diminuir um pouco. A voz dela transmitia calma, mas também autoridade.
Fomos para a cozinha, onde Sofia já tinha deixado a mesa arrumada: café passado, pão fresco, geleia. Sentei-me tímida, mas Carol se serviu logo, como se estivesse em casa.
— Você trata a gente bem demais, Sofia. Vai acabar mimando, — disse ela, sorrindo.
— Não é mimo, — respondeu Sofia, com um olhar firme. — Vocês vão trabalhar duro. Então é justo começarem o dia com energia.
Enquanto eu mordia o pão, olhei de relance para Sofia. Havia algo diferente nela… uma força tranquila que me deixava ao mesmo tempo segura e curiosa.
Naquele instante, percebi: a cidade podia ser um mundo estranho, mas talvez aquele apartamento fosse o começo de um lar.
Saímos do apartamento com mochilas leves, mas corações acelerados. Carol caminhava confiante pela calçada, como se a cidade inteira fosse dela. Eu seguia atrás, observando cada detalhe: as vitrines, o cheiro de pão fresco vindo das padarias, o burburinho constante de pessoas indo e vindo.
— Fica tranquila, Elisa. A Sofia disse que o café não abre tão cedo, então vamos conseguir nos ajeitar sem correria, — comentou Carol, piscando pra mim.
Chegamos à rua onde ficava o café. A fachada era charmosa, com janelas grandes e um toldo verde com o nome escrito em branco: “Café da Sofia”. Havia mesas na calçada, algumas já ocupadas por pessoas com laptops e livros.
— Aqui é o nosso palco, — disse Carol, baixinho, enquanto nos aproximávamos da porta.
Sofia nos esperava do lado de dentro, sorrindo.
— Bom, meninas, esse é o lugar. Vamos começar com uma visita guiada.
Entramos e fui tomada pelo cheiro inebriante de café moído, pão recém-assado e doce de chocolate. O ambiente era pequeno, mas acolhedor: balcão de madeira, prateleiras com xícaras coloridas, uma vitrine com bolos e tortas, mesas espalhadas com arranjos de flores.
— Aqui é o balcão, — explicou Sofia, apontando para o espaço atrás do qual ela preparava os pedidos. — É onde vocês vão servir, anotar os pedidos, preparar algumas bebidas simples. Não precisa se preocupar com receitas complexas, pelo menos no começo.
Carolina observava tudo atentamente, absorvendo cada detalhe.
— E as mesas? — perguntei timidamente.
— Sim, vocês também vão atender as mesas. É importante ter cuidado e atenção. Nada de pressa, mas nada de distração.
Sofia nos guiou até a cozinha pequena, mostrando os utensílios, a máquina de café expresso e a área de armazenamento. Cada passo era acompanhado de explicações, e eu tentava decorar tudo sem perder nenhum detalhe.
— Vocês vão se adaptar rápido, — disse Sofia, sorrindo pra mim de novo. — Carol parece que já nasceu pronta pra isso. Elisa, você vai aprender com ela e comigo. Confio em vocês.
Enquanto caminhávamos entre as mesas, servindo água e observando os clientes, percebi que, apesar do nervosismo, havia algo fascinante naquele lugar: a mistura de cheiros, sons, vozes e risadas. A cidade podia ser grande e assustadora, mas ali dentro, eu sentia uma calma estranha, quase acolhedora.
Quando Sofia me deu um pequeno pedido para preparar sozinha, senti minhas mãos tremerem, mas respirei fundo. E, pela primeira vez, entendi que cada desafio podia ser uma oportunidade de crescer.
E naquele instante, ao olhar para Carol e Sofia, percebi que eu não estava mais sozinha.
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Atualizado até capítulo 43
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