O quarto estava uma bagunça. Roupas espalhadas pela cama, sapatos jogados no chão, e eu parada no meio, sem saber o que levar primeiro. Eu, Elisa Figueiredo, nunca tinha feito mala na vida. A gente sempre vivia com o que tinha, sem pensar em escolher “isso ou aquilo”.
— Elisa, pelo amor de Deus, você não vai levar três vestidos iguais, né? — disse Carolina Freitas, revirando os olhos e tirando dois deles da minha mão. — Na cidade você vai ter chance de comprar roupa nova. Deixa essas tralhas pra trás.
Fiquei sem graça, abraçando o único vestido florido que não abri mão de levar.
— É que eu gosto deles… são confortáveis.
Carolina suspirou, mas depois sorriu daquele jeito que só ela tem, entre implicância e carinho.
— Você vai ver, amiga. A cidade vai abrir sua cabeça. Vai ser tudo diferente.
Sentei na beira da cama, mordendo o lábio.
— E a gente vai ficar onde? Hotel? Pensão?
Carol riu alto, se jogando na cadeira de palha.
— Você acha que eu ia te levar sem planejar? Escuta só: eu conheci uma moça pela internet. O nome dela é Sofia Becker. Ela tem só 21 anos, mas já é dona de um café na cidade. Mora sozinha num apartamento e tá precisando de gente pra trabalhar com ela. Eu conversei bastante, expliquei da gente, e sabe o que ela disse?
Meus olhos se arregalaram.
— O quê?
— Que a gente pode morar no apartamento dela até se ajeitar. De graça, Elisa! — disse Carol, rindo e balançando a cabeça, empolgada. — Ela é muito legal. Você vai gostar dela. E olha, trabalhar num café… não é nada de outro mundo. Muito melhor que ralar na enxada, fala a verdade.
Meu coração batia rápido. Morar com uma desconhecida? Na cidade grande? Era coisa demais pra minha cabeça.
— Será que vai dar certo, Carol? A gente mal sabe fazer café direito…
Ela ergueu a sobrancelha e me cutucou o braço.
— Você sabe sorrir, não sabe? Pronto. Isso já vale mais que experiência. A Sofia disse que quer gente de confiança, e confiança é o que a gente tem de sobra.
Olhei pra mala aberta, olhei pra Carol e depois respirei fundo. Talvez fosse mesmo a chance da minha vida.
— Tá bom… eu confio em você.
Carol sorriu satisfeita, fechando minha mala de qualquer jeito.
— E eu confio na gente. Vai dar tudo certo, você vai ver.
E foi assim, entre roupas emboladas, risadas nervosas e promessas de um futuro diferente, que a minha vida na roça começou a caber dentro de uma mala pequena.
O ônibus balançava pelas avenidas largas e cheias de luzes. Eu encostava o rosto na janela, os olhos arregalados diante de tanta novidade. Carros buzinando sem parar, prédios enormes que pareciam tocar o céu, pessoas andando apressadas, cada uma no seu mundo.
— Olha, Carol… quanta luz! Parece dia, mas é noite! — falei, encantada, como criança na primeira ida à cidade.
Carolina riu, ajeitando o cabelo e olhando pela janela também, mas com muito mais calma.
— Pois acostuma, porque aqui nunca escurece de verdade. Essa cidade não dorme, Elisa.
Meu coração acelerava. Era tudo tão diferente do silêncio da roça. Eu me sentia pequena, perdida, mas ao mesmo tempo… viva.
Quando descemos do ônibus, fui tomada pelo cheiro misturado de gasolina, comida de rua e perfume caro das pessoas que passavam. A mala parecia mais pesada, minhas pernas bambearam, mas Carol segurou firme meu braço.
— Vem, não fica parada no meio da calçada. A Sofia disse que mora a uns vinte minutos daqui. A gente pega um táxi.
O carro nos levou por ruas ainda mais movimentadas, e quando parou em frente a um prédio moderno, meu queixo quase caiu. Portaria envidraçada, jardim pequeno mas arrumado, gente elegante entrando e saindo.
— É aqui que ela mora? — perguntei baixinho, quase com medo de não merecer estar ali.
Carol sorriu de canto.
— É. E lembra do que eu disse: segura a vergonha, Elisa. Não mostra que a gente nunca pisou num lugar assim. Confiança é tudo.
Entramos pelo hall, e eu mal sabia onde colocar os pés. O chão brilhava tanto que parecia espelho. Um porteiro simpático nos cumprimentou, e Carol respondeu como se fosse da cidade desde sempre. Eu só balancei a cabeça, tímida.
O elevador subiu até o sétimo andar. Quando a porta se abriu, lá estava ela: Sofia Becker.
Sorriu quando nos viu, e a voz soou suave:
— Vocês devem ser a Elisa e a Carol, né? Entrem, sejam bem-vindas.
Eu olhei pra Carol, nervosa, e ela me respondeu com aquele olhar firme que sempre me acalma. Então respirei fundo, apertei a alça da mala e entrei no apartamento, sem saber que aquela porta aberta ia mudar minha vida pra sempre.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 43
Comments