Assim que entrei, meus olhos percorreram cada detalhe do apartamento. O chão era de madeira clara, brilhando sob a luz suave de abajures. A sala tinha um sofá cinza enorme, almofadas coloridas e uma estante cheia de livros e plantas. Na parede, quadros modernos, diferentes de tudo que eu já tinha visto na vida.
Eu me senti entrando em outro mundo.
— Nossa… que bonito aqui… — deixei escapar, sem conseguir disfarçar o encantamento.
Sofia sorriu de leve, cruzando os braços.
— Obrigada. Eu gosto de deixar o lugar aconchegante, já que passo muito tempo fora, no café. Sintam-se em casa.
Carol, como sempre, já estava à vontade. Largou a mala num canto e foi logo perguntando:
— E a gente vai dormir onde, Sofia?
— Tem um quarto de hóspedes. Não é grande, mas dá pras duas dividirem por enquanto. Depois vocês podem se organizar melhor. — Sofia falou naturalmente, caminhando até o corredor e mostrando a porta.
O quarto era simples, mas muito melhor do que eu esperava: duas camas de solteiro, uma cômoda, cortinas claras. Eu olhei para Carol, sem acreditar que tudo aquilo era de graça.
— Vocês devem estar cansadas da viagem. — continuou Sofia. — Amanhã cedo eu levo vocês no café pra conhecerem. Não se preocupem, eu vou ensinar tudo. O que eu preciso mesmo é de pessoas de confiança. E a Carol me passou uma boa impressão.
Meu rosto corou. Eu me senti pequena, mas feliz por estar ali.
— A gente vai dar o nosso melhor… — murmurei, sem encarar diretamente.
Carol deu um tapinha no meu ombro, rindo.
— Pode confiar na gente, Sofia. A Elisa é meio tímida, mas tem um coração enorme. Você vai gostar dela.
Sofia me olhou de novo, dessa vez com mais calma, os olhos claros me estudando por um instante. Não sei explicar, mas senti como se ela tivesse visto mais de mim do que eu mesma mostrava.
Ela então desviou o olhar e disse:
— Bom, fiquem à vontade. Vou preparar algo pra gente jantar.
Enquanto isso, Carol já abria a janela do quarto, animada com a vista da cidade iluminada. Eu, por outro lado, sentei na beira da cama, apertando as mãos no colo.
Eu estava longe da roça, longe da vida que conhecia. E, pela primeira vez, senti que meu caminho tinha começado a mudar de verdade.
Sofia fez o jantar...
A mesa da cozinha estava posta com simplicidade: pratos brancos, copos de vidro e uma travessa fumegante de macarrão ao molho vermelho. O cheiro era delicioso e preenchia todo o apartamento.
Sofia mexia a colher de madeira com naturalidade, como se cozinhar fosse parte da rotina dela.
— Espero que gostem. Não sou nenhuma chef, mas dá pro gasto.
Carolina já se serviu sem cerimônia, sorrindo.
— Se tem molho e massa, pra mim já é banquete. Você ainda vai descobrir que a gente come de tudo.
Eu fiquei olhando, sem jeito, até Sofia me oferecer um prato.
— Quer que eu sirva pra você, Elisa?
— Ah… sim, obrigada… — respondi baixinho, corando.
Sentei-me à mesa, ajeitando a cadeira como se estivesse com medo de ocupar espaço demais. Carol, por outro lado, já puxava conversa.
— Então, Sofia… me conta desse café seu. Você falou que abriu faz pouco tempo, né?
Sofia assentiu, servindo-se também.
— Isso. Faz quase um ano. Foi um risco enorme, mas eu sempre sonhei em ter um lugar só meu. Eu mesma cuido de tudo: cardápio, compras, contas. Só que tá ficando puxado demais sozinha, por isso comecei a procurar ajuda.
— E encontrou a gente, — disse Carol com orgulho, piscando pra mim.
Eu sorri de canto, envergonhada.
— Mas… você não tem família por aqui? — perguntei, tentando puxar assunto.
Sofia apoiou o garfo no prato, pensativa por um instante.
— Minha família é de outra cidade. Eu decidi viver sozinha cedo. Acho que gosto da liberdade… e também da responsabilidade que vem junto.
Havia algo na forma como ela dizia isso… uma maturidade diferente. Eu me senti pequena diante dela, mas ao mesmo tempo curiosa.
— Eu admiro isso, — soltei sem pensar. — Coragem de cuidar de tudo sozinha.
Sofia me olhou, surpresa, e depois sorriu, de um jeito que deixou meu coração bater mais rápido.
— Obrigada, Elisa.
Carol, é claro, não perdeu a oportunidade de brincar.
— Viu só? Eu disse que a Elisa é toda coração. Vai ser uma ótima funcionária, pode apostar.
Eu ri, nervosa, e abaixei a cabeça.
O jantar continuou entre risadas e histórias de infância. Carol falava alto, animada, enquanto eu observava Sofia com olhos curiosos, tentando entender como alguém tão jovem já podia parecer tão segura.
Naquela noite, deitada na cama improvisada ao lado da minha melhor amiga, fiquei olhando o teto branco do quarto e pensei:
“Talvez a cidade não seja tão assustadora assim… não com elas por perto.”
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Atualizado até capítulo 43
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