costumes brasileiros

O cheiro de macarrão ainda pairava no ar, misturado ao perfume de temperos frescos que só Dona Gisele sabia colocar. Naerin estava sentada no sofá, olhando as fotos do morro no celular, tentando entender aquele lugar que parecia tão diferente de tudo que ela conhecia.

— Oppa… — murmurou baixinho, lembrando do que Japinha lhe ensinou — — O Rio é tão… intenso… tão vivo.

Depois do jantar, Terror já tinha saído, mas o coração dela ainda batia acelerado. Tudo era novo: a favela, o barulho, a maneira como as pessoas falavam, a música alta que ecoava pelos becos, os shorts curtos das meninas e a gíria que ela ainda mal entendia. Naerin se levantou e resolveu se trocar antes de dormir.

Pegou umas roupas que Dona Gisele tinha separado para ela: shorts jeans e uma regata simples. A ideia era ela começar a se acostumar com o estilo local sem chamar atenção demais. Tirou o vestido elegante, que ainda cheirava a perfume caro, e se dirigiu ao banheiro do quarto.

Estava concentrada em se trocar quando a porta se abriu de repente.

— Ahhhh! Nossa Senhora! — gritou Naerin, se cobrindo com os braços.

Dona Gisele ficou paralisada, piscando, surpresa.

— Menina! Quantos anos você não se depila?!

Naerin arregalou os olhos, corando feito pimentão.

— O-ó… depilar? Parte íntima?

— Sim, menina! — Dona Gisele respondeu, rindo e balançando a cabeça. — Aqui no Brasil a gente faz isso desde cedo, né?

— Na Coreia a gente… a gente não tem costume de raspar — disse Naerin, ainda cobrindo o corpo com o braço. Mas logo sorriu, percebendo o jeito leve da senhora

— Mas ainda bem que ta no Brasil… — a senhora riu entregando a lâmina. — Toma, vou até te apresentar o barbeador! Vai rapar, isso menina! nunca vi um matagal tão grande assim.—Dona Gisele riu alto, balançando a cabeça.

— Essa menina é demais… só podia ser estrangeira!

Depois de rir, Naerin finalmente conseguiu se trocar. Pegou os shorts jeans e a regata simples que Gisele havia separado. Olhou no espelho e percebeu que a roupa era confortável, prática, e que de fato ajudava a não chamar atenção demais no morro.

— Bem melhor… — murmurou, ajeitando a regata. — Aqui ninguém vai me olhar como se eu fosse uma princesa…

Japinha entrou no quarto, dando um tapa leve nas costas dela.

— Aí, Nae… tá mais à vontade, né?

— Sim! — respondeu ela, sorrindo, agora mais relaxada. — E confortável.

Ele riu.

— Tá vendo? Eu disse que tu ia pegar o jeito rápido.

Mais tarde, depois que tudo parecia mais calmo, Naerin decidiu explorar o som do morro. A música alta, os batidões de funk, o cheiro de comida de rua e o barulho das crianças brincando começaram a fazer sentido. Ela tentava dançar junto, tropeçando algumas vezes, rindo sozinha.

— Oppa… como vocês conseguem dançar assim sem cair? — perguntou, ainda tentando reproduzir os passos.

Terror, que tinha aparecido discretamente no portão, observava a cena de longe, acendendo um cigarro. Não podia negar: a coreaninha era engraçada demais, e aquela inocência misturada com curiosidade o fazia sorrir pela primeira vez em dias.

Quando ela percebeu, Terror se aproximou, cruzando os braços.

— Tá tentando dançar funk, é?

— Sim… mas… é difícil… — respondeu Naerin, rindo, tropeçando de novo. — Tudo é diferente aqui.

Ele soltou uma risada baixa.

— Difícil pra quem não nasceu aqui, né? Mas tu tá se saindo melhor que muito moleque da rua.

— Oppa… — ela falou, apontando pros pés dele. — Você dança?

Ele arqueou a sobrancelha.

— Eu? Não. Mas sei me virar.

Naerin riu, e o jeito descontraído dele a deixou mais calma. Aquele momento, simples e cotidiano, já fazia a favela parecer menos assustadora.

No dia seguinte, Gisele trouxe um monte de roupas novas para ela. Shorts, regatas, camisetas simples.

— Essas são melhores pra tu não ser o centro das atenções. Aqui no morro, roupa chique demais só faz a galera ficar olhando.

Naerin olhou para a pilha de roupas e sorriu tímida.

— Obrigada… vou usar. Aqui… me sinto estranha às vezes… — disse, com o sotaque coreano carregado. — Mas isso ajuda… é menos diferente.

— Tá vendo? — disse Japinha, piscando. — Aqui tu começa a se sentir parte do lugar.

Ela pegou um shorts jeans e uma regata amarela. Se vestiu e olhou no espelho.

— Confortável… e ninguém vai me encarar estranho agora.

— Menos estranho que ontem, pelo menos — disse Terror, entrando no quarto discretamente. — Mas ainda chama atenção, cuidado.

Ela riu, se cobrindo com os braços de brincadeira.

— Eu sei… mas tudo bem. Estou aprendendo.

Eles sentaram juntos na varanda, olhando a rua movimentada. A luz do sol refletia nas casas, criando aquele efeito de cidade viva que só o morro tinha. As crianças corriam, o som do funk ainda batia, e Naerin começava a entender: podia ser diferente, mas também podia ser divertido.

— Aqui tudo é intenso… — disse ela, olhando para o morro. — Diferente de Seul… mas intenso… bom intenso.

Terror soltou fumaça devagar, observando a reação dela.

— Pois é… mas quem sobrevive aqui aprende rápido.

— Oppa… — ela murmurou, quase sem perceber. — Posso te perguntar uma coisa?

— O que foi?

— Como… você… cuida de tudo isso… sozinho? — ela apontou para o morro, para as casas, para as crianças. — É muita responsabilidade…

Ele suspirou, olhando pro céu.

— Não é fácil… mas alguém tem que fazer. Se eu não fizer, ninguém faz. É pesado, mas é meu… e agora você vai ver como a coisa funciona aqui de perto.

Naerin sorriu, ainda tímida, mas agora mais confortável.

— Estou pronta pra aprender.

Ele olhou para ela, e por um momento, algo na expressão dele mudou. Não era só respeito ou curiosidade… havia algo mais ali, algo que ele ainda não conseguia nomear. Mas ela não precisava saber disso ainda. Por enquanto, era só o começo da adaptação dela, misturada ao ritmo da favela, aos risos, às roupas simples, à comida da Dona Gisele… e, claro, à presença inquietante e intrigante do Terror.

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