- Senhorita\, Rinaldi. - Clara apareceu no meu quarto um tempo depois – O almoço será servido em dez minutos.
- Obrigada. - agradeci\, sem jeito.
Desliguei o notebook e me dirigi para a sala de jantar, um cômodo com uma mesa enorme para uma casa com tão poucas pessoas. Ninguém estava lá, por mais que os pratos estivessem em seus lugares.
Fiquei em pé, sem saber se havia alguma cadeira específica onde eu deveria me sentar. Selena disse ia até seu quarto só para se trocar, por que estava demorando tanto?
- Tia! - Nic passou pela porta correndo e abraçou as minhas pernas.
- Oi! - ri\, surpresa com a sua reação.
Don passou pela porta logo em seguida, abrindo os primeiros botões de sua camisa. Consegui ver que as tatuagens desciam pelo seu peito também, cobrindo toda a pele.
- Por que não se sentou ainda? - perguntou\, sem olhar para mim\, enquanto puxava uma cadeira. Nicolas também já estava se acomodando ao seu lado.
- Eu não sabia qual...
- São só cadeiras\, Elora. - ele me recriminou.
Escolhi um lugar do lado oposto ao dele. Jamais conseguiria comer me sentindo tão intimidada. Onde é que Selena estava? Eu precisava dela para deixar o clima mais leve.
Clara surgiu com Regina, que começou a servir a comida nos nossos três pratos. Eu estava quase perguntando pela minha irmã quando ela apareceu.
- Mamãe! - Nic exclamou\, acenando com a mão.
- Oi\, Nicolas. - ela disse\, sem emoção - Elora\, não quer almoçar fora com a gente?
O quê? Ela não ia comer em casa?
- A gente quem? - questionei.
Nesse momento, uma mulher surgiu ao seu lado usando um vestido provocante demais para o horário do almoço. O decote chegava a ser inadequado até para estar se usando na casa de uma amiga.
- Essa é Dália Rezende\, minha amiga.
A mulher cumprimentou a todos, e recebeu respostas nada animadas. Don nem mesmo olhou em sua direção.
- Não quer almoçar com Nic hoje? - ele perguntou suavemente - Só podemos almoçar juntos duas vezes durante a semana.
- Eu vou assistir um filme depois\, mamãe. Não quer assistir? - o garoto perguntou com olhos brilhantes.
Selena franziu um pouco a boca, como estivesse levemente enojada. Senti uma pontada no peito.
- Hoje não\, meus queridos. - mesmo com a palavra carinhosa\, sua frase tinha soado extremamente fria – Elora?
- Não\, obrigada. - respondi\, olhando para o rosto triste de Nicolas enquanto começava a comer – Eu vou ver o filme com o Nic.
No mesmo instante, o menino ergueu os olhos para mim e sorriu.
- Que seja. - Selena manteve o olhar de desgosto – Vejo vocês depois.
Foi difícil, mesmo para o rei do gelo Donatello Visconti, disfarçar o quanto tinha ficado insatisfeito com a escolha de sua esposa. Ele não olhou na minha direção, mas era fácil ver a tristeza disfarçada em suas feições neutras.
Será que era sempre desse jeito?
Pai e filho logo engataram em uma conversa sobre a escola e o filme que seria escolhido. Eu queria acreditar que Selena estava brava com o marido por algum motivo, e por isso estava evitando contato. Mas nada justificava tratar Nicolas daquele modo.
Aos poucos, Don pareceu esquecer da minha presença, e vi que ele era carinhoso e atento com o filho. Sempre prestava atenção nas histórias e fazia perguntas que demonstrava que guardava as informações de conversas anteriores.
Talvez meu cunhado não fosse exatamente um rei de gelo – pelo menos não em tempo integral.
Depois do almoço, Don disse para Nic que iria conferir suas atividades e que os dois deixariam todos os deveres em dia. Quando tudo estivesse em ordem, poderia assistir ao filme.
Aproveitei para ir para o meu quarto e conferir o celular, na esperança de que Selena tivesse mandado uma mensagem para que a esperássemos para o filme. Não havia nada.
Eu desejava estar errada em minhas observações, mas estava cedo difícil pensar em uma desculpa plausível para minha irmã. Um dia todo fora comigo, saindo de madrugada, outro dia fora com a amiga...
- Tia! - Nic entrou correndo no meu quarto – Hora do filme! - gritou\, animado.
Don já tinha fechado as cortinas da sala, deixando o ambiente mais confortável, e os sofás estavam cheios de almofadas que não costumavam ficar por ali. Esperei ele se sentar para escolher outro lugar para mim e Nicolas jogou uma porção de almofadas sobre o tapete macio e se esparramou no chão.
Fiquei feliz por ele realmente gostar de desenhos apropriados para a sua idade, e encantada em como realmente prestava atenção em cada detalhe. Seus olhos não desgrudavam da tela, e as vezes respondia aos personagens de tão entretido que estava.
Arrisquei olhar para Don, analisando sua expressão. Na maior parte do tempo, ele estava sério e perdido em pensamentos, mas as vezes olhava em direção ao filho com um carinho tão grande que eu me controlava para não sorrir. Ele amava aquele menino com todo coração, era impossível não notar.
De repente, Don ergueu os olhos para mim e me pegou olhando para ele. Foi apenas durante um segundo, antes que eu desviasse os olhos completamente constrangida, mas percebi que ele parecia repleto de perguntas.
Não desgrudei os olhos da televisão até o fim, torcendo para que meu cunhado achasse que aquilo não tinha passado de uma coincidência.
Quando o filme acabou, Don levou Nic para a cozinha para comer alguma coisa e eu fui para o quarto. Como ele não olhou para mim, ficou bem claro que não tinha achado que nossos olhares se cruzaram apenas por acaso.
Eu precisava evitar Donatello Visconti.
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Atualizado até capítulo 74
Comments
Solange Borkovski
tadinhos essa mulher é muito fria
2025-10-04
1
Angel Caldas
Será que ela tem um caso com essa " amiga"?🤭
2025-10-10
0
Solange Borkovski
o quê? como assim?
2025-10-04
1