Suspirando, embalei minha última caixa com meus pertences e a empurrei para o lado. Meu querido apartamento, onde morei nos últimos cinco anos, estava completamente livre da minha presença.
Eu queria muito me sentar, mas não havia mais nem mesmo um sofá onde poderia fazer isso. Todos os móveis tinham sido vendidos junto com meus eletrodomésticos.
- Sinceramente\, não sei como você conseguiu viver aqui. - minha irmã passou pela porta com o nariz franzido.
- Eu amava esse lugar! - exclamei\, abrindo os braços e olhando ao redor – Foi o meu melhor apartamento.
Ela me olhou como se eu fosse louca, o que me fez sorrir. Do alto de seus saltos finos e o vestido de alguma grife que eu não conhecia, Selena balançou a cabeça em reprovação.
- Você consegue algo melhor\, com toda certeza.
Nós éramos muito diferentes desde sempre. Selena sempre buscou o luxo, e tinha encontrado quando conheceu seu marido Donatello – um homem sério, todo tatuado, CEO de uma construtora e incorporadora especializada em casas de luxo em condomínio.
- Vamos logo para minha casa. - ela apontou para a caixa fechada no chão - Só falta essa?
- Sim. - peguei a caixa do chão.
- Não sei por que precisamos lotar meu carro com essas caixas. Eu poderia ter pedido para alguém vir buscar as coisas para você. - ela reclamou\, saindo pela porta.
- Não precisava. São só três caixas e duas malas de roupas. - fui atrás dela.
Enquanto descíamos no elevador, voltei a pensar no que implicaria aceitar seu convite para morar por um tempo em sua casa. Eu teria que conviver com Donatello, e ele era incrivelmente intimidador.
Selena tinha me garantido que ele não tinha se incomodado por ter a cunhada, que ele tinha visto pouquíssimas vezes na vida, perambulando pela casa e atrapalhando sua rotina. Eu não tinha tanta certeza, mas não tinha muita escolha.
Os dois tinham começado a namorar logo depois de nossos pais morrerem, e eu fui para a faculdade no mês seguinte. Voltei a encontrá-lo na festa de noivado dos dois e depois no casamento, e só dei meus cumprimentos nas duas ocasiões - tremendamente intimidada pela sua altura e rosto fechado. Quando meu sobrinho nasceu, visitei Selena na maternidade somente quando Donatello não estava.
- Você tem certeza de que Donatello não vai se incomodar comigo mesmo? - perguntei mais uma vez enquanto Selena dirigia.
- Pela milionésima vez\, - ele ajeitou os óculos escuros no rosto – o Don não se importa de acolher minha irmãzinha recém desempregada. Não precisa se preocupar\, hoje ele está enfiado no escritório em uma reunião. Você vai poder se acomodar sem encontrá-lo.
Ela se inclinou e ligou o rádio, impedindo qualquer conversa pela meia hora seguinte. Eu me acomodei do banco e relaxei, de nada adiantava ficar tensa com isso agora que a situação já era certa. Eu poderia passar boa parte do meu tempo no quarto, que seria enorme com certeza, buscando um novo emprego e um novo apartamento.
Logo nós estávamos entrando na garagem de um prédio enorme e cinza escuro. Selena saiu do carro rapidamente e foi chamar o elevador enquanto eu retirava as coisas do porta-malas. Fiquei impressionada com o tamanho do elevador, perto dele o do meu antigo prédio parecia uma caixinha apertada e sem ar.
- O Nicolas está ansioso para te conhecer. - Selena comentou\, olhando para o celular.
- Mas nós já nos conhecemos. - rebati\, arrumando minhas malas e as caixas no chão.
- Não conta quando ele era apenas um bebê que não conseguiria lembrar de nada. - ela apertou o botão para a cobertura.
Meu sobrinho já tinha quatro anos e eu nem sabia muito bem como era. Selena não era de ficar enviando fotos dele, somente se eu pedisse alguma. Nicolas se parecia bastante com o pai, herdando a maioria dos traços dos Visconti.
Quando o elevador abriu as portas, era justamente ele quem estava na porta com os olhos brilhando de expectativa.
- Oi\, mamãe.
- Oi\, Nicolas. - minha irmã passou por ele sem dar muita atenção\, atravessou a sala e sumiu.
Fiquei um pouco confusa com aquela reação fria de Selena.
- Quer ajuda\, titia? - os olhos dele agora estavam focados em mim.
- Oi\, Nic. - me abaixei um pouco para ficar da sua altura – Acho que essas coisas são meio pesadas para você carregar.
Eu estava puxando as coisas para fora quando Selena voltou acompanhada de duas mulheres. Uma estava vestida de um jeito mais formal, com um conjunto de calça e blazer, e cabelo impecavelmente cortado na altura das orelhas – um corte parecido com o da minha irmã, apenas levemente mais curto. A outra mulher, com o cabelo longo preso com um elástico, vestia um uniforme mais simples de calça e camisa com um avental preso na cintura.
- Elora\, essa é Clara Bastos\, nossa governanta. - Selena apontou para a primeira mulher – E essa é nossa empregada\, Regina. - apontou para a segunda – Elas vão ajudar com a suas coisas.
As duas me cumprimentaram educadamente e com poucas palavras e começaram a pegar parte das minhas coisas. Peguei uma parte também e as segui através do imenso apartamento com Nicolas em meus calcanhares.
- Este é o seu quarto\, senhorita Rinaldi. - Clara disse formalmente\, passando pela porta.
Fiquei impressionada com o tamanho do ambiente.
- Uau! Isso é quase todo meu apartamento em um cômodo só.
Regina disfarçou um pequeno sorriso, mas Clara torceu um pouco o nariz.
- Aquela porta é do seu closet\, e esta a do seu banheiro. - prosseguiu – Se precisar de alguma coisa\, é só me pedir.
- Certo. Obrigada.
As duas se retiraram, Nicolas foi se sentar na minha cama – que era enorme, diga-se de passagem.
- Meu Deus\, Nic. Que quarto imenso!
As cortinas estavam levantadas, mostrando uma parede inteira de vidro. Havia até mesmo um grande sofá, muito maior do que o meu antigo. Espiei o closet e concluí que minhas roupas não ocupariam nem um terço de todo aquele espaço.
- Tudo aqui é em tons de cinza\, branco e preto?
- Sim\, titia.
Tudo muito bonito e confortável, mas um pouquinho frio demais para o meu gosto.
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Atualizado até capítulo 74
Comments
Josy Moura
Ela vai colorir tanto a casa como a vida deles 😍
2025-10-27
1
Fabrine Santos
cinza, preto e branco? já se acorda com depressão 🤭🤭🤭
2025-10-02
1
Solange Borkovski
A tia é mais simpática que a mãe.
2025-10-02
1