Cap. 2

Rafael encostou-se no guarda-corpo da varanda, sentindo o ar quente da noite de verão tocar sua face. A cidade piscava ao longe, com as luzes dos edifício e os faróis de carros cortando a escuridão, mas ele mal notava. A cerveja gelada em sua mão começava a esquentar, esquecida enquanto seus pensamentos giravam em torno de uma única imagem: Laura, sorrindo enquanto conversava com outro homem na festa.

O jeito como ela jogava o cabelo para o lado, o brilho nos olhos, o vestido que parecia feito para destacar cada detalhe dela. Rafael tomou um gole da cerveja, tentando apagar a sensação incômoda que apertava seu peito.

_ Que merda é essa? Se perguntou, balançando a cabeça como se pudesse espantar os pensamentos que surgiam em sua mente. Ele não era assim. Não era o tipo de homem que ficava remoendo coisas, que se deixava afetar por algo tão simples. Mas quando o assunto era Laura, não era nada simples, pelo contrário, era complicado.

Rafael fechou os olhos por um instante, escutando o som abafado da música da festa chegar até ele. A imagem de Laura com aquele homem  voltava sem permissão a sua mente. A forma como ele se inclinava para falar com ela, o sorriso confiante, a proximidade que parecia natural demais, e tudo isso mexia com Rafael de um jeito que ele não conseguia explicar. Ou talvez não quisesse admitir.

_ Eu com Ciúmes? Perguntou em voz alta, quase rindo daquela hipótese.  _Eu? Com ciúmes da Laurinha? Aquela constatação soava ridícula, como se ele estivesse traindo alguma lei.

Laura era a irmã de Bruno, seu melhor amigo. A menina que ele conhecia desde que ela usava aparelho nos dentes, e passava horas tentando acompanhar ele e Bruno nas brincadeiras de rua. A ideia de sentir algo por ela era tão absurda que quase fez Rafael voltar para a festa para provar o contrário.

Naquele instante, Rafael se lembrou do pacto  feito  anos atrás, entre ele, Bruno e outros amigos. Eles eram adolescentes na época, cheios de hormônios e ideias idiotas, mas uma regra era clara: nunca se envolver com as irmãs dos amigos. Era uma linha que ninguém cruzaria, era uma questão de respeito, de lealdade. Para Rafael, Bruno era como um irmão. Eles cresceram juntos, dividiram segredos, brigas e vitórias. E Laura, ela era parte daquele pacote, intocável, como uma extensão da família.

Rafael passou a mão pelo cabelo, um gesto nervoso que traía a calma que tentava projetar.

_ Laura é só a irmã do Bruno... e é assim que eu devo vê-la... Disse tentando se convencer.

Mas suas palavras soavam vazias. Porque, no fundo, Rafael sabia que não era só isso, pois há muito tempo ele não conseguia tirar da cabeça o jeito como Laura sorria, ou como o vestido verde abraçava sua silhueta, ou como, por um breve segundo, os olhos dela encontraram os dele na festa e fizeram seu coração dar um salto que ele não estava preparado para sentir.

Rafael tomou outro gole da cerveja, o gosto amargo agora combinando com o que sentia. Ele tentou se lembrar de todas as vezes que viu Laura como apenas a “irmãzinha”. As memórias estavam lá: ela correndo atrás deles com uma bicicleta pequena demais, ela sentada no sofá com um livro enquanto ele e Bruno jogavam videogame, ela fazendo caretas quando Bruno a provocava. Mas essas imagens estavam sendo apagadas por outras, mais recentes. O jeito como ela falava com confiança nas conversas com os amigos, o brilho nos olhos quando ria, a forma como ela parecia carregar um mundo inteiro dentro de si, um mundo que Rafael, de repente, queria desesperadamente conhecer.

_ Isso é loucura... Rafael riu baixo, mas sem humor. Ele olhou para a cerveja, girando o líquido dentro do copo. _ Você tá ficando maluco, cara. É a Laurinha. A Laura. A irmã do Bruno. Toda vez que ele repetia o nome dela, parecia menos convincente.

E então veio a lembrança de uma conversa com Bruno, meses atrás. Eles estavam no bar, depois de um jogo de futebol, e Bruno havia dito, meio brincando, mas sério quando alguem elogiou Laura: “Ela é minha irmã... não se esqueçam do que combinamos". Rafael riu na hora, concordando com um aceno, mas agora aquelas palavras pesavam em seu peito. Bruno confiava nele. E ele estava ali, fugindo da festa porque estava sentindo ciúmes de um cara qualquer que falava com Laura, imaginando coisas que nunca deveria imaginar.

Ele suspirou, encostando a cabeça no guarda-corpo. A verdade era que Laura não era mais uma menina. Ela era uma mulher, com 19 anos, com sonhos, com um sorriso que podia parar o tempo. E, pela primeira vez, Rafael percebeu que ele não era imune a isso. A ideia o assustava tanto quanto o atraía.

_ O que está acontecendo comigo? Perguntou ao vazio, a voz quase engolida pelo barulho que vinha da festa. Ele sabia que voltar para a festa significaria enfrentar aquela sensação de novo. Ver Laura, talvez ainda conversando com Lucas, talvez rindo, talvez sendo tudo o que ele não conseguia parar de notar. E, pior, significaria encarar Bruno, seu melhor amigo, com quem ele dividia um pacto que agora parecia mais frágil do que nunca.

Rafael terminou a cerveja em um gole longo, como se pudesse engolir também a confusão que o dominava. Ele precisava se recompor. Precisava lembrar quem ele era, quem Laura era, e o que estava em jogo,.mas uma parte dele sabia que algo havia mudado. E que, talvez, não tivesse mais volta.

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Comments

Charlotte Peson

Charlotte Peson

Huuu será um covarde com os sentimentos e fiel a amizade !!! É um preço muito caro !!😩

2025-10-01

6

Sthela Oliveira

Sthela Oliveira

ele devia conversar com o Bruno se os sentimentos dele forem verdadeiros

2025-10-01

1

marluce afleite

marluce afleite

Tem que conversar com o Bruno!
Falar que tá gostando de Laura! deixe a covardia de lado !🤭

2025-10-01

0

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