Aurora nem foi para o hospital naquele manhã , voltou direto para o apartamento, o coração pesado e cheio de raiva contida.
Quando chegou, encontrou Luna no sofá, os copos vazios ao redor, o rosto pálido e os olhos vermelhos de tanto chorar e beber durante a noite. A visão era dolorosa, a confirmação de tudo que ela temia.
— Luna… — começou Aurora, a voz trêmula, mas firme. — Assim mesmo… não vai ter volta.—
Luna ergueu o olhar, tentando encontrar alguma esperança na expressão de Aurora, mas só viu firmeza e desapontamento.
— Eu… eu posso mudar… — começou Luna, a voz embargada, tentando se levantar, tropeçando levemente nos copos.
— Não, Luna. Não desta vez — disse Aurora, caminhando até o sofá, a raiva e a tristeza misturadas. — Eu te amo, mas eu não posso mais viver assim. Eu não posso mais conviver com seu vício, com suas recaídas. Não quando nossos filho depende de nós.—
Aurora respirou fundo, os olhos ainda marejados, mas cheios de firmeza.
— Hoje mesmo eu vou sair desta casa, Luna. Não posso mais ficar aqui… não assim.—
Luna levantou-se devagar, os joelhos ainda trêmulos. Tentou controlar a voz, mas a emoção transbordava.
— Aurora… não precisa sair hoje. Eu… eu vou procurar um lugar para mim. — disse, a voz embargada. — Só… só me deixa uma semana. Uma semana para eu ficar aqui, organizar minhas coisas… por favor.—
Aurora a olhou com pesar, o coração apertado.
— Uma semana… — murmurou, como se cada palavra custasse a ela respirar. — Você sabe que está sendo difícil para mim só de olhar para você assim, não é?—
Luna aproximou-se lentamente, apoiando as mãos nos ombros de Aurora, tentando transmitir sinceridade.
— Eu sei… eu errei demais… eu sei que estou te magoando, mas só mais uma semana… depois eu juro que saio. — seus olhos brilhavam de lágrimas, e a voz tremeu. — Por favor, Aurora… deixa eu consertar algumas coisas antes de você ir embora.—
Aurora suspirou, sentindo a dor de cada promessa quebrada, mas também o peso da realidade.
— Está bem… — disse por fim, com um suspiro longo. — Uma semana. Mas depois disso… é definitivo, Luna. Não adianta mais chorar, não adianta mais prometer. Eu preciso proteger a mim e à nossa filha.—
Luna assentiu, sentindo um misto de alívio e desespero.
— Obrigada, Aurora… só uma semana… eu prometo que vou tentar me recompor.—
Aurora deu um passo para trás, mantendo a distância, os olhos cheios de lágrimas, enquanto Luna permanecia ali, tentando absorver a dor do que estava prestes a perder.
O silêncio se instalou no apartamento, pesado e doloroso. Ambas sabiam que aquela semana seria a última — e que depois disso, nada seria como antes.
Aurora foi para o seu quarto, e Luna pegou sua mochila, como sempre, e foi trabalhar.
Chegando lá, as garotas já estavam presentes.
— E aí, Luna? Tava no bar? — perguntou Annie, preocupada.
— Sim… ontem eu bebi bastante. E Aurora foi lá hoje! E falou que ia sair do apartamento hoje — respondeu Luna, sem conseguir olhar nos olhos de nenhuma delas.
— E então? Ela vai sair? — perguntou Alice, aflita.
— Não, Alice! — disse Luna, respirando fundo. — Eu vou sair. Não é justo ela sair de lá se sou eu que estou errada! Vou procurar um cantinho para morar.—
— Se você quiser, pode ficar lá em casa, Luna — disse Annie, passando a mão em seu ombro.
— Não, gente! Vocês também não merecem passar por isso! Eu vou procurar um lugar só pra mim — disse Luna, deixando uma lágrima rolar.
As meninas a observaram com preocupação, mas sabiam que Luna precisava enfrentar seus próprios demônios… mesmo que não estivesse completamente sozinha, porque elas sempre estariam ali por ela.
— Ok, Luna… mas nós estamos aqui, sempre — disse Annie, com voz firme.
— Eu sei… e por isso não quero magoar mais ninguém! Porque vocês são tudo que eu ainda tenho — respondeu Luna, emocionada.
As três se abraçaram, selando a amizade de anos, que até hoje resistia, firme diante de todas as tempestades que enfrentaram juntas.
Já era fim de tarde, e Aurora tinha acabado de buscar as crianças.
Lorenzo estava sentado no sofá assistindo desenho, enquanto Hellena, com toda calma do mundo, penteava os cabelos da mãe.
— Mamãe... você brigou com a mamãe Luna? — perguntou Hellena, com a voz baixinha.
Aurora engoliu em seco, surpresa com a pergunta.
— Não, filha... a gente só conversou. — respondeu, tentando sorrir.
— Então por que ontem a gente teve que dormir na vovó? Eu não gosto de ficar longe da mamãe Luna. — disse Lorenzo, sem desviar os olhos da TV.
O coração de Aurora apertou.
— Eu também não gosto de ficar longe da sua mãe, Lorenzo... — suspirou ela. — Mas um dia vocês dois vão entender o que está acontecendo.—
— Eu sei, mamãe... — murmurou Hellena, os olhos marejando. — Mas eu não quero ficar longe da mamãe Luna. — disse antes de correr pro quarto.
— Hellena, espera! — Aurora se levantou rápido e foi atrás dela.
Encontrou a filha deitada na cama, chorando baixinho. Sentou ao lado e passou a mão no rostinho molhado de lágrimas.
— Ei, meu amor... por que está chorando assim?—
— Eu não quero que a mamãe Luna vá embora... — soluçou Hellena.
Aurora respirou fundo, sentindo a própria garganta fechar.
— Quem disse que a Luna vai embora, meu amor?—
— Eu ouvi você falando pra vovó no telefone... — respondeu a menina, fungando. — Eu não quero, mamãe.—
Aurora a abraçou forte, tentando segurar o choro que queimava dentro dela.
Luna chegou no apartamento com o corpo cansado e a mente ainda mais pesada. Decidiu não dobra a noite no hospital, não tinha forças para encarar ninguém — queria apenas o silêncio da casa.
Ao abrir a porta, encontrou Lorenzo sentado no sofá, vidrado nos desenhos da TV.
Ela se aproximou, depositou um beijo demorado na testa do menino e forçou um sorriso.
— Oi, campeão... — murmurou com a voz embargada. — Cadê a mamãe Aurora? E a Hellena?—
Lorenzo desviou os olhos da tela por um instante, sem perder a inocência do tom:
— A mamãe tá no quarto com a Hellena. Minha irmã saiu chorando...—
O coração de Luna afundou. Ela fechou os olhos por um instante, sentindo a culpa a consumir. Ajeitou a mochila no ombro, respirou fundo e acariciou os cabelos do filho.
— Obrigado, meu amor... — disse baixinho.
Luna então se levantou e, com passos hesitantes, seguiu em direção ao quarto. Já podia ouvir, mesmo antes de bater na porta, a voz embargada de Aurora tentando consolar a filha.
E só de ouvir aquilo, seu peito doeu ainda mais.
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Atualizado até capítulo 26
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