Helena mal conseguiu dormir depois de encontrar a fotografia. A imagem dela e de Miguel, congelada em papel, parecia latejar em suas mãos como uma ferida exposta. Alguém os observava, alguém sabia — e esse alguém tinha acesso à mansão.
Na manhã seguinte, Arturo estava mais silencioso que de costume. Observava Helena durante o café com um olhar de caçador. Não perguntou nada, não fez acusações, mas o silêncio era pior que gritos. Cada gole de café parecia o prelúdio de uma sentença.
Camila, como sempre, quebrou a tensão com ironia. — Que seriedade, irmão… parece até que a casa está cheia de segredos.
Arturo lançou-lhe um olhar de gelo, mas não respondeu. Helena, por sua vez, engoliu em seco. Sentia que Camila sabia mais do que demonstrava.
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À tarde, Miguel a esperava discretamente na igreja. Helena hesitou em ir, mas o medo de nunca mais vê-lo a arrastou até lá. Encontraram-se no banco mais afastado, os vitrais colorindo seus rostos com tons de esperança.
— Recebeu meu bilhete? — ele perguntou em voz baixa.
Helena apenas assentiu, os olhos marejados. — Miguel, alguém nos viu. Alguém sabe. Encontrei uma fotografia…
Ele a segurou pelas mãos, firme. — Isso só prova que Arturo está cercando você. Precisamos agir antes que seja tarde.
Ela baixou o rosto. — Não sei o que fazer. Se ele descobrir… vai destruir você.
— Prefiro ser destruído por lutar, do que viver escondido como covarde. — Miguel inclinou-se mais perto, os olhos ardendo. — E você, Helena? Vai aceitar morrer em silêncio?
As lágrimas caíram. Ela sabia que Miguel tinha razão, mas o peso da submissão a Arturo era como correntes invisíveis. Desde o casamento, sua vida fora moldada pelo medo, pelo dever, pela obediência. A ideia de se libertar parecia tão doce quanto impossível.
No entanto, naquele instante, com as mãos de Miguel segurando as suas, uma força nova brotou dentro dela.
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Na mansão, Camila mexia os fios do destino. Vasculhava o escritório do irmão quando encontrou documentos que confirmavam suas suspeitas: Arturo estava envolvido em lavagem de dinheiro e acordos com figuras perigosas. No meio das pastas, reconheceu assinaturas de políticos, contratos falsos e transferências milionárias.
Sorriu sozinha, satisfeita. — Ah, irmão… você construiu seu império sobre areia movediça.
Mas o que mais lhe chamou atenção foi uma lista de nomes riscados. Pessoas que haviam desaparecido misteriosamente após confrontar Arturo. No final da lista, escrito à caneta, estava o nome: **Miguel Herrera**.
Camila fechou a pasta com força. O destino se aproximava como uma guilhotina.
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À noite, Helena tentou esconder a angústia, mas Arturo não se deixava enganar. Aproximou-se dela no quarto, puxando-lhe o braço com firmeza.
— Helena… olhe nos meus olhos.
Ela obedeceu, o coração disparado.
— Se algum dia você me trair… — a voz dele era baixa, controlada, quase calma. — Juro que não sobrará nada de você. Nem desse homem.
Helena sentiu as lágrimas ameaçarem cair, mas se conteve. Arturo a soltou, como se fosse apenas uma boneca.
Quando ele saiu, Helena desabou sobre a cama. O bilhete de Miguel ainda estava escondido na gaveta da penteadeira, e agora parecia uma bomba prestes a explodir.
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Na madrugada, Camila entrou no quarto dela em silêncio. Helena, surpresa, tentou esconder as lágrimas, mas a cunhada percebeu.
— Não precisa esconder. — Camila se sentou na beira da cama. — Eu sei que é Miguel.
Helena arregalou os olhos, assustada.
— Sim, sei de tudo — continuou Camila. — E também sei que Arturo já planeja eliminá-lo.
Helena levou a mão à boca, tentando sufocar um soluço.
— Escute-me. — Camila segurou suas mãos com força. — Talvez você não confie em mim, mas eu tenho motivos para querer ver Arturo cair. E você pode ser a chave para isso.
Helena hesitou. — Por quê?
Camila desviou o olhar, os olhos marejados. — Porque Arturo destruiu a única pessoa que eu amei. E eu não vou descansar até ver o império dele ruir.
Helena ficou em silêncio, absorvendo aquelas palavras. Pela primeira vez, sentiu que talvez não estivesse completamente sozinha. Mas confiar em Camila seria perigoso. Muito perigoso.
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Na manhã seguinte, Arturo saiu cedo para uma reunião. Helena aproveitou para encontrar Miguel novamente, desta vez em um casarão abandonado indicado por Camila.
O lugar cheirava a poeira e lembranças esquecidas. Mas, para eles, era o único refúgio seguro.
— Não temos muito tempo — disse Miguel, segurando-a contra o peito. — Arturo já colocou seus homens atrás de mim. Se não fizermos algo, será tarde demais.
— Miguel… — Helena ergueu os olhos marejados. — E se não houver saída?
Ele acariciou-lhe o rosto. — Sempre há saída. Mas você precisa escolher: viver como prisioneira ou arriscar-se pela liberdade.
O beijo que trocaram foi urgente, desesperado, como se cada segundo pudesse ser o último.
Do lado de fora, no entanto, olhos atentos observavam cada movimento através de uma janela quebrada. Um dos homens de Arturo já tinha em mãos a prova definitiva: Helena e Miguel juntos.
E, naquela mesma noite, Arturo veria a fotografia que selaria o destino de todos.
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Atualizado até capítulo 80
Comments
RosaMaria
Cada história tem sempre um delator🤔
2025-10-01
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