A manhã nasceu cinzenta sobre a mansão, como se até o céu pressentisse a tempestade que se aproximava. Helena, pálida, observava pela janela o jardim coberto de orvalho. A imagem parecia calma, mas dentro dela, a guerra era implacável. As palavras que ouvira na noite anterior — Arturo ordenando o fim de Miguel — ainda martelavam como um tambor de guerra em sua mente.
Sentia-se prisioneira de correntes invisíveis. Se denunciasse o marido, seria destruída junto com ele. Se permanecesse em silêncio, entregaria Miguel à própria morte. O coração batia em compasso de desespero.
Camila entrou no quarto sem bater, trazendo um vestido de seda nas mãos. Seus olhos curiosos varreram o semblante sombrio da cunhada.
— Dormiu mal? — perguntou com ironia.
Helena tentou sorrir, mas falhou. — Apenas pesadelos.
Camila deixou o vestido sobre a cama e aproximou-se. — Eu sei que não são pesadelos. — Sua voz desceu para um tom grave. — É Arturo, não é? Ele está tramando algo.
Helena não respondeu, mas o silêncio bastou como confirmação.
— Ouça, cunhada — continuou Camila, inclinando-se mais perto. — Arturo não é invencível. Ele tem segredos, tem inimigos. E se você tiver coragem… pode destruí-lo.
Helena sentiu o sangue gelar. A ideia de desafiar Arturo parecia impossível, suicida. Mas, pela primeira vez, uma fagulha de esperança se acendeu.
— E você… me ajudaria? — perguntou em sussurro.
Camila sorriu, mas seus olhos brilhavam com algo que Helena não conseguiu decifrar: vingança, talvez, ou simples prazer no caos.
— Se você confiar em mim, sim. — fez uma pausa dramática. — Mas saiba que confiança, nesta casa, pode custar muito caro.
---
Na cidade, Miguel também sentia o peso da ameaça. Um carro preto o seguira discretamente na noite anterior, e homens estranhos observavam sua clínica com atenção exagerada. Ele sabia: Arturo estava por trás.
Mesmo assim, não pensava em desistir. Helena era mais que um amor proibido; era a chance de dar sentido à própria vida. Encontrara nela um reflexo de dor e esperança que o prendia como corrente.
Naquela tarde, escreveu uma carta curta, mas intensa:
*"Helena, se o medo nos separar, ainda assim lutarei por você. Prefiro o risco da verdade à prisão da mentira."*
Dobrou o papel e o entregou a um menino de confiança, que tinha acesso à mansão como ajudante de jardim.
---
Quando Helena encontrou o bilhete escondido entre as páginas de seu livro favorito, quase desabou. As palavras de Miguel eram um chamado à coragem, mas também um lembrete cruel do perigo que os cercava. Guardou o papel junto ao coração, temendo que Arturo pudesse descobri-lo.
E, como se o destino gostasse de brincar com ela, naquela mesma noite Arturo entrou no quarto inesperadamente. Não sorriu, não falou. Apenas aproximou-se devagar, segurou o rosto dela entre as mãos e a olhou fixamente.
— Você me ama, Helena? — perguntou, em tom baixo, mas carregado de ameaça.
Ela conteve o tremor. — Claro que sim.
Arturo manteve o olhar, buscando qualquer sinal de mentira. Depois, beijou-lhe a testa e murmurou:
— Lembre-se: a mentira tem pernas curtas… e eu corto as pernas de quem ousa enganar-me.
Saiu, deixando-a trêmula, o bilhete escondido sob a almofada como uma bomba prestes a explodir.
---
Enquanto isso, Camila observava tudo das sombras. Espiava, ouvia conversas, juntava peças. Sabia que havia mais em jogo do que um simples romance proibido. Arturo escondia negócios sujos, contas secretas, inimigos poderosos. E agora, talvez, Helena fosse a chave para expor o império que ele erguera sobre mentiras.
No fundo, porém, Camila tinha seus próprios segredos. Segredos que nem mesmo Arturo suspeitava.
Na escuridão de seu quarto, abriu uma pequena caixa escondida no fundo de uma mala. Dentro, havia cartas antigas, fotografias e um medalhão. Entre as imagens, um rosto conhecido: Miguel.
Camila passou os dedos sobre a foto, os olhos marejados.
— Você não faz ideia, irmão… — murmurou. — O destino trouxe Miguel até aqui, mas não apenas por acaso.
---
No silêncio da madrugada, Helena acordou sobressaltada. Um estalo ecoara pelo corredor, como o som de uma porta se fechando às pressas. Levantou-se e, com o coração disparado, caminhou até a escada. No fundo do hall, viu a sombra de alguém desaparecendo pela porta dos fundos.
Seguiu, hesitante, e encontrou no chão um envelope caído. Dentro, não havia palavras — apenas uma fotografia.
Era ela e Miguel, juntos na praça, sob o guarda-chuva.
Helena deixou o envelope cair, o sangue fugindo do rosto.
Agora tinha certeza: alguém sabia.
E não havia mais volta. futuro.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 80
Comments