Chegamos à mansão no final da tarde. O céu estava se pondo, refletindo nas paredes de vidro, e a piscina parecia um espelho gigante, absorvendo cada cor do horizonte. Catarina desceu do carro elegante, com o sorriso confiante que sempre carregava, enquanto eu permanecia no banco de trás, observando cada detalhe, cada sombra, cada movimento.
Ao abrir os portões automáticos, fui recebido pelo som discreto da música ambiente, uma seleção que Catarina havia escolhido — suave, moderna, impecável. Pierre estava à porta, impecável como sempre, vestido com seu uniforme preto clássico, expressão séria, mas com aquele toque de autoridade silenciosa que só anos de experiência conferem.
— Boa noite, senhor Caligari, senhora — disse ele, inclinando-se levemente. — Tudo está pronto conforme solicitado.
— Obrigado, Pierre — respondi, mantendo a voz firme, sem a menor sombra de cordialidade exagerada. — Catarina, veja os quartos.
Enquanto Catarina se dirigia ao interior, cumprimentando cada funcionário com a elegância natural que a definia, eu permaneci ali, analisando. A equipe estava impecável, cada um no lugar certo, cada um com a postura correta. Havia uma precisão quase militar na forma como todos se moviam, uma sincronia silenciosa que me agradava.
Pierre me guiou pela ala principal, mostrando cada sistema automatizado, cada função da casa. Luzes que se acendiam e apagavam conforme o movimento, cortinas que se abriam ao toque de um botão, controle total de climatização, segurança, entretenimento… cada detalhe pensado para reduzir o erro humano e aumentar a sensação de controle.
— Tudo sob controle, senhor — disse Pierre no final do tour. — Se precisar, estarei sempre à disposição.
Assenti, satisfeito. Ele era mais do que um mordomo, era um guardião silencioso da minha ordem. Enquanto Catarina continuava encantada com cada detalhe, eu percebi novamente a diferença entre nós: ela sentia a casa, eu a comandava.
E era assim que seria. Sempre.
No silêncio que se seguiu, observando a cidade se acender abaixo de nós, senti uma ponta familiar de expectativa: assumir o controle total do grupo Caligari, assumir o poder, o respeito, a autoridade. Mas, ao contrário de anos atrás, eu não era mais um menino apaixonado, vulnerável. Agora eu era Niko Caligari, e ninguém — nenhum obstáculo, nenhum passado, nenhuma lembrança — quebraria meu coração novamente.
A primeira noite na mansão caiu silenciosa. Enquanto a cidade do Rio de Janeiro se iluminava lá fora, refletindo nas paredes de vidro, eu estava sozinho no meu quarto. Catarina ainda circulava pelos corredores, verificando detalhes, cumprimentando discretamente algum funcionário que cruzasse seu caminho. Entre nós, havia o mínimo necessário de convivência — o casamento existia, mas o sentimento não. Não havia desejo, não havia intimidade, apenas a fachada impecável que nos permitia manter as aparências.
O quarto era amplo, moderno, planejado com linhas retas e móveis de design minimalista. As luzes automáticas se ajustaram ao meu movimento, e mesmo assim, senti o frio do espaço. Um frio calculado, como eu mesmo. Me sentei na poltrona de couro perto da janela, observando a cidade que se estendia lá embaixo, tentando encontrar algum resquício de emoção. Mas não havia nada. Apenas controle.
Eu me lembrava de Milena — como se fosse ontem — e do menino que fui. Mas aquele menino estava enterrado sob camadas de determinação e raiva. Prometi a mim mesmo que não me permitiria fraqueza, e, honestamente, não sentia falta de nada nem de ninguém. Catarina era conveniente, elegante, inteligente. Mas ela não despertava nada em mim além de respeito e, talvez, admiração pelo modo como conduzía tudo ao seu redor.
Deitei-me na cama, a enorme cama de casal que nunca seria compartilhada de verdade, e fechei os olhos. Ouvi apenas o som distante da cidade e o leve zumbido da automação da casa. Tudo funcionava conforme planejado. Tudo estava sob meu controle.
E era exatamente assim que eu queria. Um homem no comando de sua vida, dono de seu espaço, dono de si mesmo. Sem distrações, sem vulnerabilidades, sem fraqueza.
Niko Caligari dormia naquela noite como sempre dormira nos últimos quinze anos: com o coração blindado, pronto para enfrentar qualquer coisa que viesse, mas sem jamais deixar ninguém se aproximar de verdade.
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Atualizado até capítulo 102
Comments
Pati 🎀
quero só ver o encontro dos dois 🤭😬😍
2025-10-05
2
Maria Oliveira Poranga
Anciosa por capítulo Milena 🥺
2025-09-24
2