O outro dia

A luz fraca da manhã entrava pelas frestas da cortina, pintando o quarto com tons suaves de dourado. O ar cheirava a perfume amadeirado misturado ao suor da noite anterior. Mariana despertou devagar, sentindo o calor do corpo de Romeu ao seu lado. Um arrepio percorreu sua espinha; ela adorava estar ali, aninhada entre os braços fortes dele, ouvindo o compasso calmo da respiração, como se nada no mundo pudesse alcançá-la.

Por um instante, quis simplesmente ficar. Fingir que não havia regras, convenções, compromissos nem julgamentos. Apenas os dois, presos em um tempo que parecia suspenso. Mas a realidade veio como um soco: aquilo tinha sido uma noite, apenas isso. Ela não podia se dar ao luxo de sonhar além.

Abriu os olhos e encontrou o rosto de Romeu. Ele dormia tranquilo, uma mão repousada em sua cintura, como se quisesse impedir que ela se afastasse.

-Tentou sair do abraço dele sem acordá-lo.

Um sorriso preguiçoso surgiu nos lábios de Romeu ao perceber que ela estava acordada.

— Para onde vai, mocinha? — murmurou, a voz rouca pelo sono, mas firme, segura, como se tivesse plena consciência de tudo.

Ela respirou fundo, tentando esconder o turbilhão que a dominava. — Eu… eu preciso ir. Não podemos… não devemos. — A voz saiu baixa, mas carregada de urgência.

Romeu se inclinou, o olhar fixo nela, intenso, como se pudesse atravessar cada defesa que Mariana tentava erguer. — Não quer que eu lembre de nós? — perguntou, provocador, os lábios curvados em um sorriso lento.

Mariana corou, mordendo o lábio inferior. — Não tem como esquecer… mas foi uma loucura de só uma noite.

Ele se afastou apenas o suficiente para que ela respirasse, mas não soltou sua mão. — Só uma noite? — repetiu, com ironia. — Você pode até se enganar, Mariana, mas eu não. O que tivemos não pode ser só uma aventura de uma noite.

O silêncio entre eles pesou. Ela se levantou depressa, recolhendo as roupas espalhadas pelo chão. Cada gesto era apressado, quase desesperado, como se vestir-se pudesse ser a chave para trancar a lembrança daquela noite. Mas o corpo ainda ardia, cada toque dele estava gravado em sua pele.

Romeu a observava em silêncio, com os olhos semicerrados, como um predador que já sabe que a presa está marcada. Quando ela se virou para ir, ele falou baixo, mas firme:

— Cuide-se, Mariana. E lembre-se… você já é minha.

Ela hesitou por um segundo, antes de sair. Olhou para Romeu e foi embora como se tivesse um jeito de esquecer aquele homem.

E cada passo até chegar na mansão lhe pareceu mais pesado que o anterior. O que foi que eu fiz? Como vou sair dessa enrascada?

Mariana chegou na mansão e caminhava com o coração acelerado, tentando se recompor. O corredor imenso, decorado com quadros caros e tapetes orientais, parecia sufocante. O contraste entre o luxo da casa e a lembrança da noite passada com Romeu a fazia sentir-se dividida entre dois mundos.

O perfume dele ainda estava grudado em sua pele. O gosto dos beijos, a sensação de entrega, tudo era vívido demais para ser apagado com frases de auto engano. “Foi só uma aventura”, repetia mentalmente. “Um erro passageiro. Agora é hora de voltar à realidade.”

Mas o coração não obedecia. Cada lembrança vinha como um choque elétrico, aquecendo seu corpo e deixando-a vulnerável. Mariana se odiava por sentir tanto, mas, ao mesmo tempo, desejava mais só de imaginar a boca dele em contato com sua pele já sentia o calor subir no meio das pernas.

Quando entrou em seu quarto, encostou-se na porta fechada, respirando fundo. O espelho diante dela refletia não apenas sua imagem, mas uma mulher diferente: olhos brilhando de desejo, lábios inchados, cabelo bagunçado. Não era a Mariana da sociedade, a menina perfeita criada para obedecer. Era outra versão, livre, instintiva, marcada pelo Cowboy.

— Só uma noite… — murmurou, mas o sorriso involuntário que escapou denunciava a mentira.

---

Enquanto isso, Romeu deixou o quarto do hotel com passos firmes. Não parecia o homem de algumas horas atrás, que a devorou com paixão. Agora era o Romeu determinado, pragmático, consciente de que uma batalha maior começava.

Ele não podia deixá-la escapar. Mariana podia fingir que queria esquecer, mas ele sentia — no corpo dela, no olhar, nos gemidos abafados — que o destino dos dois estava entrelaçado.

O caminho até o escritório de Otávio Marcondes foi percorrido em silêncio. O sol ainda nascia, iluminando os telhados das casas ao redor, mas Romeu guiava como quem vai para a guerra.

Entrou no prédio refinado cheio de salas e foi levado pela secretaria até Otávio. Que estava sentado atrás da grande mesa de madeira maciça, folheando papéis como se nada fosse capaz de perturbar sua rotina.

— Romeu? — disse, sem levantar muito os olhos. — Veio falar das vacas? Já mandei o capataz calcular o prejuízo.

— Não é sobre vacas que quero falar — respondeu Romeu, firme.

Otávio ergueu a cabeça, avaliando-o com desdém. — Então fale logo. Não tenho tempo a perder.

Romeu respirou fundo. — Quero me casar com Mariana.

O silêncio caiu como uma pedra no ambiente. O empresário piscou devagar, até que uma risada estrondosa escapou, ecoando pelas paredes.

— Você só pode estar brincando! — disse, limpando uma lágrima de tanto rir. — Minha filha? Casar com um peão de fazenda?

Romeu não se abalou. — Sou o homem que vai fazê-la feliz.

Otávio recostou-se na cadeira, cruzando os braços. — Você não tem ideia de quem é minha filha. Ela nasceu no luxo, está acostumada ao conforto. Você acha mesmo que ela se contentaria com sua vida simples?

— Amor não se mede por luxo — respondeu Romeu, sem desviar o olhar. — Com carinho, com verdade, ela terá tudo.

Otávio riu novamente, mas dessa vez o tom era mais frio. — Está enganado, rapaz. Eu conheço minha filha, seja lá o que for que você ache que aconteceu entre você e Mariana, com certeza foi um engano.

Romeu se inclinou para frente, apoiando as mãos na mesa. — O senhor pode pensar o que quiser, mas Mariana será minha esposa, o senhor querendo ou não.

Por um instante, os dois ficaram em silêncio, apenas se encarando, como dois touros prestes a se chocar.

Otávio quebrou o momento, a voz mais dura: — Eu não vou permitir esse absurdo. Cuide da sua vida, Romeu, e esqueça minha filha que ela não cabe no seu mundo.

Romeu se endireitou, um meio sorriso no rosto. — Esse assunto está longe de terminar, senhor Marcondes.

Saiu do escritório sem esperar resposta. O coração batia forte, mas a mente estava clara: Otávio podia rir, podia desprezar, mas nada apagaria o que tinha acontecido.

Ao atravessar a rua, Romeu olhou para o horizonte e murmurou para si mesmo:

— Você vai ser minha esposa, Mariana. Querendo ou não, cedo ou tarde, vai ser minha.

E com essa certeza queimando dentro dele, Romeu voltou para sua caminhonete. O jogo estava apenas começando, foi você que me escolheu.

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New Biana

New Biana

Determinação pelo homem

2025-09-21

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