Acordei com a sensação de que minha pele queimava. O corpo inteiro latejava, cada músculo clamava por descanso, e por um instante não soube onde estava. O teto branco acima de mim, a luz suave de abajures laterais, o perfume de lençóis limpos e caros… aquilo não era o galpão fétido nem o pequeno apartamento em que vivi com Samuel. Era outro lugar, um espaço que respirava poder e silêncio.
Tentei me erguer, mas a dor cortou meu abdômen como uma faca. Um gemido escapou dos meus lábios, e imediatamente ouvi passos firmes se aproximando.
— Não se mova. — A voz dele, grave e autoritária, preencheu o quarto antes mesmo que eu pudesse vê-lo.
Lentamente, minha visão se ajustou, e ali estava ele. O homem que eu havia rejeitado, o herdeiro escolhido pelo meu pai, o noivo que deveria ser meu desde o início. Vestia uma camisa preta, mangas dobradas até os cotovelos, e os olhos escuros cravaram-se em mim como lâminas.
— Você está segura agora. — acrescentou, a firmeza na voz deixando claro que aquela não era uma promessa, mas uma ordem.
Meus lábios tremeram. A lembrança da noite anterior voltou como uma onda devastadora: os golpes, as risadas dos sequestradores, o telefone desligado por Samuel, e depois… ele, surgindo em meio ao caos, eliminando cada inimigo sem hesitar, até que restasse apenas eu em seus braços.
Engoli em seco, desviando o olhar.
— Não pedi para você me salvar.
Ele se aproximou da cama, parando ao meu lado. Sua presença era sufocante, não pela proximidade física, mas pela intensidade. Tinha o ar de alguém que não aceitava negativas, de alguém moldado para comandar.
— Não precisa pedir. — respondeu. — A sua vida é responsabilidade minha.
Olhei para ele, furiosa.
— Eu não sou sua posse. Não sou sua esposa. Nunca quis esse casamento.
Um músculo em sua mandíbula se contraiu, mas sua expressão permaneceu controlada.
— Você quase morreu. Se não fosse eu, estaria agora em um saco preto, enviada como recado para o seu pai. O seu namorado deixou você sangrar, mas eu não.
As lágrimas arderam nos meus olhos. O que mais doía não era ouvir isso, mas saber que era verdade. Samuel rira, duvidara de mim, desligara o telefone enquanto eu implorava por ajuda. Eu queria gritar, negar, mas a lembrança era cruel demais.
— Por que fez isso? — sussurrei, a voz embargada. — Por que arriscou sua vida para me salvar, se eu deixei claro que nunca quis nada com você?
Ele se inclinou um pouco, os olhos escuros refletindo algo que eu não conseguia decifrar.
— Porque você é minha noiva. Porque eu cumpro o que prometo. E porque não vou deixar ninguém tocar no que é meu.
Meu coração disparou, e uma mistura de raiva e medo me percorreu. Não queria ser propriedade de ninguém. Fugi justamente para não ser usada como moeda de troca, para não viver sob ordens de homens que decidiam meu destino. E agora estava ali, ferida, vulnerável, sendo cuidada por aquele que simbolizava tudo de que tentei escapar.
Mas, ao mesmo tempo, parte de mim se lembrava do momento em que seus braços me ergueram, firmes, como se nada pudesse me atingir enquanto estivesse ali. Lembrava da forma como ele atirou sem hesitar, protegendo-me com a mesma intensidade com que me possuía com o olhar. Era sufocante admitir, mas ao lado dele eu havia me sentido segura — mais do que em todos os meses com Samuel.
Tentei afastar esse pensamento.
— E agora? Vai me trancar aqui como prisioneira até o casamento?
Ele não respondeu de imediato. Apenas puxou uma cadeira e sentou-se ao lado da cama, cruzando os braços. Seus olhos não desgrudavam de mim, e aquilo me deixava inquieta.
— Você precisa se recuperar primeiro. Depois conversaremos sobre o casamento.
Soltei uma risada amarga.
— Conversar? Ou você vai apenas repetir as ordens do meu pai?
Um silêncio pesado pairou no ar. Por um instante, achei que ele fosse se irritar, mas ao invés disso, inclinou-se para frente, aproximando o rosto do meu. Seu olhar queimava de intensidade.
— Eu não sigo cegamente as ordens do seu pai. Eu escolho o que fazer. E, neste caso, eu escolhi salvar você.
Minha respiração falhou. Havia algo naquela firmeza que desmontava todas as minhas defesas. Eu queria odiá-lo, queria gritar que era um tirano, mas meu corpo tremia de uma maneira que não sabia explicar.
Ele se levantou e andou até a porta. Antes de sair, lançou-me um último olhar.
— Descanse. Estarei aqui quando acordar.
Quando a porta se fechou, deixei que as lágrimas corressem livremente. O coração apertado, a mente em caos. Eu me sentia partida ao meio: de um lado, a dor da traição de Samuel, que me deixara nas mãos da morte; do outro, a presença sufocante do homem que eu rejeitara, mas que agora era o único que parecia capaz de me proteger.
Enterrei o rosto no travesseiro, soluçando baixinho. O destino que tanto temi estava de volta, e talvez nunca tivesse deixado de me perseguir.
E no fundo, eu sabia que, quanto mais tempo passasse ao lado dele, mais difícil seria continuar fugindo.
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Atualizado até capítulo 51
Comments
Maria Luísa de Almeida franca Almeida franca
não acredito que ela ainda está pensando no bastardo do Samuel
2025-09-11
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Sandra Camilo
tomara que vc enxergue ele como seu protetor
2025-09-11
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Dulce Gama
querida vc tem que aceitar o homem te salvou cadê o.homem que vc escolheu riu AFF 👍👍👍👍👍❤️❤️❤️❤️❤️🎁🎁🎁🎁🎁🌹🌹🌹🌹🌹🌟🌟🌟🌟🌟
2025-09-11
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