O carro preto avançava pela estrada silenciosa, cortando a cidade iluminada. Isabella observava os prédios altos pela janela, como se buscasse alguma saída entre as luzes. Mas não havia saída. Ela tinha assinado. O contrato agora estava gravado não só no papel, mas também em sua alma.
Ao lado dela, Leonardo permanecia imóvel, olhando fixamente para frente. O silêncio dentro do carro era quase insuportável. Isabella se encolheu no banco, abraçando a própria bolsa, como se aquilo pudesse lhe dar alguma segurança.
— Para onde estamos indo? — arriscou perguntar, a voz baixa.
— Para a minha casa. — respondeu ele sem tirar os olhos da estrada.
A frase a fez estremecer. A minha casa dele agora era a dela também? Não, ela corrigiu mentalmente. Era apenas um contrato. Um teatro. Nada além disso.
O carro parou diante de uma mansão imponente, cercada por jardins perfeitamente aparados e guardas uniformizados. O portão de ferro se abriu automaticamente, revelando a entrada iluminada. Isabella engoliu em seco. Nunca tinha visto tanto luxo reunido em um só lugar.
Ao sair, foi recebida pelo mordomo, um senhor de meia-idade com expressão severa.
— Senhor Vilela. — Ele se curvou levemente. Em seguida, olhou para Isabella de cima a baixo, franzindo o cenho. — Esta é…?
— Isabella Monteiro. — Leonardo respondeu sem hesitar. — Minha esposa.
O mordomo não conseguiu esconder o espanto, mas se recompôs rapidamente.
— Muito bem. O quarto dela está preparado.
“Quarto dela.” As palavras ecoaram na mente de Isabella. Então seria assim: dois estranhos sob o mesmo teto, fingindo ser marido e mulher.
Ela seguiu Leonardo para dentro da mansão. Os olhos não sabiam para onde olhar: lustres de cristal brilhavam sobre suas cabeças, escadarias de mármore pareciam saídas de um palácio, obras de arte decoravam as paredes. Isabella sentia-se deslocada, como uma peça de roupa simples esquecida em meio a joias caríssimas.
— Está assustada? — A voz de Leonardo soou atrás dela, fria como sempre.
— Estou… surpresa. — respondeu, tentando parecer firme. — Nunca pensei que um dia pisaria em um lugar assim.
Ele a observou em silêncio por alguns segundos, mas não disse nada. Apenas indicou as escadas.
— Vamos.
Subiram até o segundo andar. No fim do corredor, duas portas se destacavam. Ele abriu a da direita.
— Este será o seu quarto. — disse com naturalidade. — O meu é ao lado.
O coração de Isabella acelerou. Estar tão perto dele a deixava desconfortável.
— Não precisa se preocupar. — Leonardo pareceu adivinhar seus pensamentos. — Esse casamento é apenas de fachada. Não tocarei em você, a não ser que as aparências exijam.
Ela assentiu em silêncio, mas algo no tom de sua voz a incomodou. Havia uma segurança quase arrogante em cada palavra, como se tivesse certeza de que ela jamais despertaria nele nenhum interesse.
O quarto era maior do que todo o apartamento onde morava com a mãe. Cama king-size, cortinas pesadas, móveis luxuosos. Isabella largou a bolsa na poltrona e olhou ao redor, tentando processar tudo aquilo.
Pouco depois, uma empregada entrou trazendo uma bandeja com chá e frutas.
— Senhora Vilela. — disse com um sorriso forçado, como se a nova “dona da casa” fosse um incômodo.
Isabella sentiu o rosto queimar. “Senhora Vilela”. Ela nunca imaginou ouvir esse título, ainda mais em circunstâncias como aquelas.
Assim que a empregada saiu, Isabella respirou fundo, sentando-se na beira da cama. O que estou fazendo aqui? pensou, desesperada. Tinha vendido sua liberdade, sua dignidade, em troca da vida da mãe.
Bateram à porta. Leonardo entrou sem esperar resposta.
— Amanhã teremos um jantar importante com investidores. Você precisará estar ao meu lado.
— Um jantar? — Isabella arregalou os olhos. — Mas eu… eu não tenho roupas para isso.
Ele a analisou por um instante, e então um sorriso quase imperceptível surgiu em seus lábios.
— Já pensei nisso. Amanhã cedo, uma estilista virá até aqui. Ela cuidará de tudo.
A frieza com que falava a deixava nervosa. Ele agia como se estivesse comprando não apenas sua presença, mas também sua imagem, seu corpo, cada detalhe da sua vida.
— Leonardo… — arriscou, reunindo coragem. — Eu sei que isso é apenas um contrato, mas… eu sou uma pessoa, não uma boneca. Não me trate como um objeto.
Os olhos dele se estreitaram. Por um instante, Isabella pensou que tinha ido longe demais. Mas, ao invés de se irritar, ele deu uma risada curta, quase sarcástica.
— Você é diferente mesmo. As outras já teriam se derretido por estar aqui, neste quarto, nessa mansão. Você… me enfrenta.
— Porque não tenho nada a perder. — respondeu com firmeza, mesmo sentindo as pernas tremerem.
Leonardo se aproximou lentamente, até ficar a poucos passos dela. Isabella sentiu o coração disparar. Ele era alto, imponente, e a proximidade dele parecia engolir todo o ar do quarto.
Ele inclinou a cabeça, os olhos azuis faiscando de intensidade.
— Apenas lembre-se de uma coisa, Isabella. — disse em voz baixa, quase um sussurro ameaçador. — Este casamento tem prazo de validade. Se ousar se apaixonar por mim… vai se arrepender.
Ela o encarou, engolindo em seco, sem conseguir responder.
Naquele momento, percebeu que seu maior desafio não seria sobreviver às regras do contrato.
Seria sobreviver ao próprio coração.
"Porque, apesar do aviso cruel dele, uma parte de mim já sabia que era impossível não sentir algo… mesmo que fosse ódio ou fascínio."
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Atualizado até capítulo 29
Comments
Elisangela Libano
ele vai se apaixonar primeiro kkkkk
2025-09-11
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