A sala parecia fria, quase sufocante. Não era apenas pelo ar-condicionado, mas pela presença do homem sentado à frente dela. Leonardo Vilela não precisava de palavras para impor autoridade. O silêncio que o rodeava era suficiente para fazê-la se sentir pequena, vulnerável, quase esmagada.
Isabella apertava nervosamente as mãos sobre o colo. Nunca tinha estado em um lugar tão luxuoso na vida. As paredes de vidro revelavam a cidade iluminada lá fora, arranha-céus que pareciam tocar o céu. A mesa era longa, de mármore escuro, refletindo as luzes do teto como se fosse um espelho.
No entanto, nada disso conseguia afastar o peso do documento que ele havia acabado de deslizar até ela.
— Leia — ordenou ele, a voz grave, firme, sem qualquer emoção.
Com mãos trêmulas, Isabella abriu a pasta. Seus olhos se moveram rapidamente pelas linhas, mas cada palavra parecia um soco em sua consciência.
Cláusula 1: O casamento terá duração de doze meses.
Cláusula 2: Não haverá envolvimento emocional entre as partes.
Cláusula 3: Após o término do contrato, será realizado o divórcio imediato, sem direito a contestação.
Ela prendeu a respiração e virou mais páginas. Havia cláusulas sobre aparições públicas, sobre confidencialidade, até sobre como deveria se portar diante da mídia.
— Isso… isso é ridículo! — exclamou, jogando as folhas de volta sobre a mesa. — Você realmente acha que pode comprar um casamento? Que pode transformar a vida de uma pessoa em um negócio qualquer?
Leonardo arqueou uma sobrancelha, quase entediado.
— Eu não compro vidas, Isabella. — sua voz era calma, mas cada palavra parecia carregar veneno. — Eu ofereço escolhas.
— Escolhas? — ela riu sem humor, levantando-se da cadeira. — Isso não é uma escolha! É uma chantagem!
Ele se recostou na poltrona de couro, entrelaçando os dedos sobre o peito. Seu olhar frio a atravessou como lâminas de gelo.
— Você precisa de dinheiro para a cirurgia da sua mãe. Eu tenho esse dinheiro. Não é chantagem. É… oportunidade.
Isabella sentiu as lágrimas ameaçarem escorrer, mas não permitiria que ele visse sua fraqueza. Apertou os punhos com força.
— Por que eu? — a voz dela saiu quase em um sussurro. — Com certeza existem milhares de mulheres que adorariam se casar com você, mesmo que por contrato. Por que escolher alguém como eu?
Leonardo a observou por alguns segundos, como se calculasse cada palavra antes de responder.
— Porque você não é como as outras. — ele se inclinou para frente, os olhos fixos nela. — Você não me olha como se eu fosse um prêmio. Você me olha como se eu fosse um monstro. E talvez seja exatamente disso que eu precise.
O coração de Isabella disparou. Havia algo de perturbador na frieza dele, mas também algo misterioso, como se escondesse cicatrizes invisíveis.
Ela respirou fundo, tentando recuperar a razão.
— E se eu recusar? — perguntou, com um resto de coragem.
Um silêncio pesado caiu sobre a sala. Leonardo se levantou, caminhando lentamente até a janela. A cidade brilhava atrás dele, mas o reflexo de seus olhos gelados parecia mais intenso que qualquer luz.
— Então, prepare-se para assistir a mulher que mais ama definhar em um hospital público, esperando por uma cirurgia que talvez nunca aconteça.
A frase a atingiu como uma facada. Isabella sentiu o ar escapar dos pulmões. Ele havia tocado em seu ponto mais fraco, em sua ferida mais dolorosa.
“Minha mãe…” — pensou, desesperada. As imagens vieram à mente: sua mãe frágil, deitada na cama do hospital, sorrindo apesar da dor, tentando disfarçar o sofrimento para não preocupá-la.
As mãos de Isabella começaram a tremer. Parte dela queria gritar, correr daquela sala, nunca mais ver aquele homem. Mas a outra parte, a que amava a mãe mais do que a própria vida, sabia que não tinha saída.
Ela voltou a se sentar lentamente, como se todo o peso do mundo caísse sobre seus ombros.
— Você é desprezível, Leonardo — murmurou, encarando-o com ódio e desespero misturados.
Ele apenas sorriu de canto, satisfeito com a resposta.
— E você é corajosa o suficiente para dizer isso na minha cara. Isso só confirma que fiz a escolha certa.
Leonardo pegou a caneta dourada que estava sobre a mesa e a entregou a ela.
— Assine.
Isabella encarou a caneta como se fosse uma arma. Segurá-la parecia selar sua própria sentença. Sentiu o coração martelar dentro do peito. Cada fibra do seu corpo gritava para não fazer aquilo. Mas a lembrança da mãe no hospital, implorando silenciosamente por ajuda, era mais forte que qualquer orgulho.
Com lágrimas nos olhos, ela pegou a caneta.
— Eu nunca vou te perdoar por isso — disse com a voz embargada.
Leonardo a observava sem piscar, como se saboreasse cada segundo de sua derrota.
— Não estou pedindo o seu perdão, Isabella. Só o seu nome nesse papel.
A caneta deslizou pelo contrato. Cada letra parecia arrancar um pedaço de sua alma. Quando terminou, soltou o objeto como se queimasse em suas mãos.
Leonardo pegou a pasta de volta, guardando o contrato com cuidado, quase com reverência. Então, se aproximou dela. Isabella sentiu seu coração acelerar com a proximidade.
Ele inclinou-se levemente, trazendo seus lábios perigosamente perto de seu ouvido, e sussurrou:
— A partir de hoje, Isabella Monteiro… você é minha esposa. Pelo menos no papel.
Um arrepio percorreu a espinha dela.
Naquele momento, Isabella percebeu que sua vida nunca mais seria a mesma.
"E, enquanto as luzes da cidade brilhavam do lado de fora daquela sala, eu soube que não tinha apenas vendido minha liberdade… mas talvez também meu coração."
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Atualizado até capítulo 29
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