O sucesso do primeiro cliente fidelizado foi como um raio de sol em um céu que rapidamente começou a escurecer. A euforia durou alguns dias, mas a realidade do empreendedorismo é implacável. Duas semanas após a assinatura com Seu Geraldo, a "Casa & Limpeza Express" enfrentou sua primeira crise significativa.
O problema veio de onde menos esperavam: o fornecedor. O atacadista onde Elias comprava os produtos, atraído pelo aumento gradual no volume de compras, decidiu subir os preços subitamente, alegando "ajustes de mercado". O aumento, de quase 15% em itens essenciais, foi um golpe brutal no já apertado fluxo de caixa.
Elias chegou em casa naquela tarde com o rosto desfeito. Ele não precisou dizer nada. Camila viu a tensão em seus ombros e a sombra em seus olhos e soube.
— Camila: O que houve, amor? — ela perguntou, deixando de lado a tábua de passar roupa.
— Elias: Os preços subiram. Tudo. Detergente, amaciante, sabão em pó... — Ele jogou as chaves do carro na mesa da cozinha com um som metálico de frustração. — Aquele maldito do atacado nos enfiou a faca. Como é que a gente compete assim, Cami? O kit do Seu Geraldo já está fechado, não posso aumentar o preço. Vamos ter que honrar o combinado e tomar prejuízo.
Camila sentou-se lentamente à mesa, processando o golpe. Sua mente, treinada pelas leituras de educação financeira, começou a trabalhar freneticamente, buscando soluções em vez de afundar na lamúria.
— Camila: Calma. Respira. — Ela pegou sua mão sobre a mesa. — Primeiro: honramos o contrato com o Seu Geraldo. Nossa palavra é nosso maior patrimônio. Segundo: precisamos de um plano B. Imediatamente.
— Elias: Plano B? O que? Outro atacado? Os outros são mais longe, a gasolina vai comer qualquer economia.
— Camila: Não necessariamente. — Seus olhos brilharam com um insight. — E se a gente for direto no distribuidor? Pula o atacadista. O volume ainda é pequeno, mas se a gente juntar a compra do mês toda de uma vez... e talvez... — Ela hesitou, pensando alto.
— Elias: Talvez o quê?
— Camila: Talvez a gente peça um empréstimo. Pequeno. Só para comprar um lote maior e conseguir um preço melhor no distribuidor. É um risco, Elias. Um risco grande. Mas se não fizermos nada, o negócio morre em três meses. A planilha não mente.
A sugestão pairou no ar como uma fumaça pesada. Um empréstimo. A palavra assustava. Era tudo que eles estavam tentando evitar: dívidas.
— Elias: Um empréstimo, Cami? A gente saiu do CLT justamente para fugir dessa corda no pescoço.
— Camila: É diferente, Elias. — Sua voz era firme, convincente. — Não é um empréstimo para pagar conta de luz ou para comprar um carro novo. É um empréstimo para capital de giro. É investimento. É para o negócio gerar mais dinheiro. É assim que funciona.
Eles discutiram. Não uma discussão raivosa, mas uma debate intenso, apaixonado, cheio de números riscados em pedaços de papel, projeções otimistas e cenários catastróficos. Foi Bruno, chegando da faculdade, quem quebrou o impasse.
— Bruno: Pai, mãe. Ouvi um pouco. — Ele puxou uma cadeira. — A mãe está certa. É a lógica do leverage. Usar dívida para alavancar o negócio. Mas tem que ser calculado. — Ele olhou para a planilha. — Vocês precisam de um plano de negócios muito claro para isso. Um empréstimo de X, comprando Y, conseguindo um preço Z, o que vai gerar de lucro L, e em quantos meses paga o empréstimo. Sem isso, é loucura.
A fala lógica e estudada do filho acalmou os ânimos. Naquela noite, em vez de fazer amor, Elias e Camila ficaram até tarde na mesa da cozinha, auxiliados por Bruno, desenhando o plano. Letícia ajudou a pesquisar distribuidores online e fazer cotações.
Era assustador. Mas era um medo diferente. Não era o medo paralisante do funcionário; era o medo calculado do empreendedor que enxerga um precipício mas também uma ponte frágil até o outro lado.
No dia seguinte, Camila, com seu nome limpo e score bom (fruto de sua organização financeira férrea), conseguiu um empréstimo consignado pequeno e com juros relativamente baixos. O valor era suficiente para uma compra volumosa.
Elias passou o dia telefonando para distribuidores. A maioria desdenhou do pedido, considerado pequeno. Mas um, um distribuidor menor e mais flexível, topou negociar um preço melhor para um pedido de maior volume, com a promessa de compras mensais.
Foi um salto de fé. Quando a van do distribuidor descarregou as dezenas de caixas na garagem, transformando-a em um verdadeiro depósito, o coração de Elias acelerou. Era muita mercadoria. Era muita dívida.
Mas a estratégia funcionou. O custo unitário dos produtos caiu significativamente. O lucro por venda aumentou. E, mais importante, eles puderam manter os preços para os clientes antigos e até oferecer os kits de fidelidade com preços mais agressivos para novos clientes.
Poucas semanas depois, a crise do fornecedor havia sido não apenas superada, mas transformada em uma vantagem competitiva. A "Casa & Limpeza Express" agora tinha um custo menor que a concorrência.
A noite após o primeiro mês com o novo modelo, quando viram que não apenas haviam honrado todas as despesas mas também pago a primeira parcela do empréstimo e ainda obtido um lucro recorde, a celebração foi intensa.
Na cama, a tensão dos dias anteriores se transformou em uma liberação explosiva de energia. Elias reverenciou o corpo de Camila com uma fome que ia além do desejo, era gratidão pura. Ele beijou cada curva, cada músculo, murmurando palavras de agradecimento entre um beijo e outro.
— Elias: Você salvou a gente, Cami. Sua cabeça... sua coragem... — Sua voz sumiu quando ela o puxou para cima de si, envolvendo-o com suas pernas fortes.
— Camila: Nós salvamos, Elias. Nós. — Ela o guiou para dentro de si, e o movimento foi tão profundo e certeiro que ambos suspiraram. — Sem você lá fora, vendendo, a minha estratégia não seria nada.
Foi rápido, intenso, quase primal. Uma confirmação física de que haviam enfrentado um leão juntos e saíram vitoriosos. Depois, ficaram deitados ofegantes, suados, e rindo.
— Elias: Então é assim que é ser dono do próprio nariz, né? — ele disse, brincando. — Um susto atrás do outro.
— Camila: É. — Ela se enrolou ao seu lado. — Mas pelo menos o susto é nosso. E a vitória também.
Eles haviam aprendido uma lição valiosa: crises viriam, mas a união e a inteligência estratégica eram os alicerces para não apenas sobreviver, mas para crescer. A confiança deles no negócio e um no outro saiu fortalecida daquela primeira grande tempestade.
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Atualizado até capítulo 30
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