Capítulo 3

Na cozinha, a mesa já está posta: suco fresco, panquecas quentinhas, frutas cortadas com cuidado. Tudo preparado com amor, como faço todas as manhãs. Logo, os passinhos apressados ecoam pela escada, e Ethan aparece primeiro, já vestido, com o cabelo ainda úmido do banho.

ETHAN WHITMORE — Hmmm, panquecas! — ele exclama, sentando-se à mesa com um sorriso esperto.

Pouco depois, surge Liam, de mãos dadas comigo. Ele ainda está com aquela carinha de sono, mas seus olhos brilham ao ver a mesa.

LIAM WHITMORE — Mamãe, fez suco de laranja? — pergunta animado.

VALERIE WHITMORE — Claro, meu amor, do jeitinho que você gosta — respondo, enchendo o copo dele.

Os dois começam a comer, e a cozinha logo se enche de risadinhas, conversas infantis e pequenas disputas engraçadas sobre quem vai comer mais panquecas. Eu me sento com eles, observando cada gesto, cada detalhe, com o coração aquecido.

Mas, inevitavelmente, meu olhar acaba se voltando para a ponta da mesa. O lugar de Cassian está vazio. A cadeira dele continua intacta, sem nem mesmo uma xícara de café esperando. Respiro fundo, tentando não deixar que a ausência dele estrague aquele momento.

Ethan, com a boca cheia, comenta:

ETHAN WHITMORE — O papai já foi trabalhar, né?

Forço um sorriso.

VALERIE WHITMORE — Já sim, querido. Ele saiu bem cedo hoje.

Liam franze o nariz, desapontado:

LIAM WHITMORE — Ele nunca toma café da manhã com a gente…

Meu coração aperta, mas tento disfarçar, acariciando os cabelos do meu pequeno.

VALERIE WHITMORE — Ele anda muito ocupado, mas logo vai ter mais tempo, vocês vão ver.

No fundo, não sei se acredito nas próprias palavras. Mas, por eles, preciso manter a esperança.

O café da manhã termina em meio a risadinhas e migalhas espalhadas pela mesa. Ajudo Liam a limpar a boca com o guardanapo e Ethan a organizar a mochila. Subimos para escovar os dentes e logo descemos todos juntos, já prontos para sair.

No carro, o rádio toca baixinho uma música qualquer, mas as vozes dos meus meninos são o verdadeiro fundo sonoro da manhã. Ethan fala animado sobre um projeto da escola, enquanto Liam insiste em mostrar o desenho que fez na aula passada. Eu rio das travessuras, respondo às perguntas, e tento absorver cada segundo desse momento, como se fosse um antídoto para a falta que sinto de Cassian.

Chegamos à escola. Ethan corre para encontrar os amigos, mas ainda me dá um beijo rápido na bochecha. Liam, por outro lado, segura firme a minha mão.

LIAM WHITMORE — Mamãe, você vai me buscar hoje? — pergunta com aqueles olhos enormes e cheios de expectativa.

Ajoelho na altura dele, ajeito sua mochila e sorrio.

VALERIE WHITMORE — Claro que vou, meu amor. Sempre.

Ele me abraça apertado antes de correr para a sala, e eu fico ali, observando os dois sumirem pelos corredores. Sinto um orgulho imenso, um amor que transborda.

Mas assim que entro de volta no carro, o silêncio me engole. Coloco as mãos no volante e suspiro. Eu tenho tudo para ser feliz: filhos saudáveis, uma família, uma vida estável. Ainda assim, sinto esse vazio latejando dentro de mim. Um espaço que só Cassian poderia preencher, se ao menos ele estivesse presente.

Enquanto dirijo de volta para casa, penso: até quando vou fingir que está tudo bem?

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