E antes que Kauan pudesse protestar, Fagner já a estava conduzindo para longe, como quem fecha um livro antes que alguém tenha a chance de ler as páginas certas. Yumi deu tchau desconcertada, foi sentar e ficou sozinha cabisbaixa. Quando saíram de lá, Kauan nem pôde se despedir.
O carro estava silencioso, Fagner com cara de quem comeu e não gostou. Yumi sabia que algo estava prestes a acontecer. Não demorou muito. Assim que entraram na casa dele, Fagner se virou para ela, os olhos carregados de irritação.
— Você quer estragar tudo? — A voz dele saiu firme, sem espaço para suavidade.
Ela engoliu seco, abaixando a cabeça instintivamente.
— Eu… eu só… ele é um amigo… — murmurou, quase sem voz.
Fagner soltou uma risada seca, sem humor.
— Amigo? E você achou que ficar ali trocando olhares com ele ia ajudar em quê? Acha que alguém vai comprar essa farsa se você age como se eu fosse um estranho perto dele?
Ela queria se defender. Queria dizer que não fez nada de errado. Mas as palavras travaram. Era sempre assim. Ela nunca soube como questionar. Como confrontar. E agora, ali, diante do olhar duro de Fagner, seu corpo já assumia o reflexo automático de se encolher.
— Me escuta — ele continuou, mais baixo, mas ainda ríspido.
— Se você não conseguir manter a pose, esse contrato não vale nada. E aí, eu quero ver como você vai se virar sem o dinheiro.
Foi cruel. Cruel porque era verdade. Cruel porque a lembrança de sua irmã doente a prendia naquele acordo como algemas invisíveis. Ela sentiu os olhos arderem antes de perceber que estava chorando. Abaixou mais a cabeça, mordendo o lábio para conter as emoções.
Fagner a observou por um momento, e então soltou um suspiro pesado, passando as mãos pelo rosto, como se tentasse se controlar. Ele não queria ser assim. Mas algo nele sempre teve essa tendência de partir para a agressividade antes mesmo de entender seus próprios sentimentos. Agora, olhando para ela, se sentiu… mal. Não era para ser assim. Não era para ser real, e deixar uma mulher gorda, ferir seu ego.
— Você entendeu, né? — disse mais baixo dessa vez.
Ela apenas assentiu, sem levantar o rosto, sem questionar, sem sequer tentar se defender.
E naquele instante, pela primeira vez desde que começaram aquilo, Fagner sentiu o peso do que estava fazendo. Ele tentou desconversar, a chamando para comer algo, fazer umas fotos cozinhando juntos. Yumi mudou repentinamente, como quem estava chateada.
Depois daquela bronca, depois das palavras duras e da postura rígida de Fagner, algo dentro dela se fechou. Antes, apesar da timidez, ela ainda tentava ser educada, puxava conversas casuais, sorria genuinamente de vez em quando. Mas agora, era diferente. Agora, ela estava calada. As respostas eram curtas, a presença era discreta, e o medo de falar algo errado pairava em seus olhos.
Ela só fez as fotos, foi embora sem comer nada. Fagner até pensou em se desculpar, mas seu orgulho não deixou. Querendo a agradar, ele a chamou para fazer compras no shopping. Ela inventou uma desculpa usando a mão e recusou, demorou mais de uma semana para ir vê-lo de novo.
Foram à inauguração de uma loja, Fagner estava incomodado com a mudança dela. Cada vez que estavam juntos, Fagner percebia que o brilho tímido dela tinha se apagado um pouco mais. Ela não confrontou. Não questionou nada. E isso o incomodava mais do que ele imaginava, porque queria entender o que exatamente tinha acontecido e até pensou que o Kauan era algum ex-namorado dela.
Ele esperava que ela discutisse, que pelo menos defendesse seu lado, mas não… Ela apenas aceitou. Como se estivesse acostumada a ser tratada assim. Como se aquela bronca fosse apenas mais uma na lista das muitas humilhações que já engoliu ao longo da vida. E isso mexeu com ele, vê-la tão calada, fingindo que nada aconteceu.
Fagner não era o tipo de homem que se arrependia facilmente. Mas algo na forma como Yumi se afastou, na maneira como ela baixou os olhos e se encolheu no dia da bronca, fez um incômodo crescer dentro dele, percebeu que a intimidou e ameaçou. Ela era gentil, sensível, e talvez ele nunca tivesse notado de verdade antes, quando os olhos dela, estavam tristes, cansados.
Agora, cada silêncio dela era um lembrete do erro que cometeu, e ela nem estava mais fazendo as refeições, após as fotos que faziam, também parou de pedir a opinião dele, sobre as roupas que iria usar, ela parecia desmotivada.
Então, ele decidiu fazer algo. Não podia simplesmente pedir desculpas, porque ele sabia que palavras vazias não bastariam. Precisava de um gesto, algo que mostrasse que ele via o que tinha feito. Que ele via ela e respeitava.
Depois de alguns dias de convivência fria, Fagner tomou uma decisão. Ele queria encontrar um jeito de mostrar a Yumi que não queria que ela se sentisse daquele jeito, acuada. Ele começou a observá-la melhor. Notou que ela sempre carregava um caderno pequeno na bolsa, rabiscando nele em momentos aleatórios. Notou como os olhos dela brilhavam discretamente quando viu livros, nas reuniões que foram na casa dos amigos dele, como se quisesse tocar mas não ousasse.
Foi então que ele teve a ideia. Não seria um pedido de desculpas comum. Ele queria dar algo que fizesse sentido para ela. Algo que mostrasse que ele se importava, mesmo que ainda não entendesse por quê. E assim, o plano tomou forma.
A ideia de Fagner era simples: fazer algo por Yumi que mostrasse que ele prestava atenção nela. Que ele via além da farsa e do acordo. Por isso, planejou uma viagem para um museu de literatura, algo que sabia que a interessava, mesmo sem ela nunca falar diretamente sobre isso.
Para completar o gesto, comprou um vestido para ela, fez reserva em um restaurante de luxo. O vestido era um azul bebê, de alças delicadas e tecido justo de bandagem, desenhado para moldar as curvas. Ele o deixou em cima da cama do quarto que ela usava quando ficava na casa dele, imaginando que seria uma surpresa agradável, que qualquer mulher iria gostar.
O problema foi que ele nunca pensou no que aquilo significaria para Yumi, caso desse errado.
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Atualizado até capítulo 47
Comments
Rosa Oliveira
Ele é muito egocêntrico, só pensa nele.
2025-10-06
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