Ele poderia ter simplesmente cumprido o papel dele a coagindo. Poderia ter ignorado o segredo dela. Mas naquele instante, ele soube que não queria que ela se sentisse desconfortável, coagida.
Yumi respirou fundo nervosa:
— Vai ser técnico, né? Sem língua?
Fagner sorriu sutilmente desacreditado e disse que sim, só um selinho demorado. Se aproximou e a mandou fechar os olhos. A beijou sutilmente encostando os lábios, chupou a boca dela lentamente, a sentindo nervosa ofegante. Ao se afastarem, ele perguntou se doeu e sorriram espontaneamente, muito próximos. E essa foi a foto escolhida, mostrando uma química que escondia um grande segredo.
Yumi estava constrangida, ficou sem conseguir olhar diretamente nos olhos dele, foi embora cheia de pressa, e dormiu tocando os lábios, pensando na sorte que tinha, por ter dado o primeiro beijo com um homem tão lindo quanto ele.
Fagner começou aquele namoro como uma estratégia de marketing, despreocupado. Mas agora, tudo parecia diferente, ele percebeu que não fez uma boa escolha, pois ela era vulnerável demais. O olhar dela já não era de julgamento ou medo. Pela primeira vez, ele sentia que alguém mais próximo o via além da imagem construída para os jornais, pois ela não fazia perguntas ou críticas, lhe ouvia e apoiava gentilmente, com otimismo e ainda parecia muito grata por tudo o que ele fazia, principalmente pagar pela companhia dela.
E pela primeira vez, ele se perguntava se aquilo era apenas um papel dela, uma obrigação ou algo que ele queria que fosse verdade. Os encontros tinham prazo de validade. Yumi começou a imaginar, mas e se, pela primeira vez repentinamente, nenhum deles quisesse que o prazo acabasse? E ele avançasse o sinal, quebrando regras. Na cabeça dela, o mundo era pequeno demais para coincidências e coisas tão clichês, porém ela gostava de fantasiar que talvez fosse o destino tentando pregar uma peça, a fazendo gostar do namorado de mentira.
Fagner achou graça dela estar o evitando e a convidou para ir acompanhar um ensaio. Yumi se arrumou bem, como podia, maquiagem caprichada, roupas que, pelo menos visualmente, não estavam estragadas, colocou uma saia longa, camiseta simples, tênis casual. Ela fazia questão de ir encontrar Fagner no local marcado ou na casa dele, porque queria esconder onde morava.
Ele estava a esperando na garagem, já dentro do carro. Quando o Uber chegou, ele foi abrindo o portão. Ela entrou no carro séria, deu bom dia. Ele ficou olhando pelo canto dos olhos, reparando que ela parecia diferente, talvez triste ou envergonhada. Postaram uma foto dele dirigindo com a mão na perna dela. Ela ficou apreensiva, com a respiração ofegante, mãos suando frio. Ele percebeu porque entrelaçou na dela, para fazer um vídeo que representava carinho.
Assim que chegaram no local, Fagner comentou como lá funcionava, e algo ruim já aconteceu, eles precisavam entrar por uma catraca, que Yumi não passava. Fagner entrou na frente distraído e ao ouvi-la o chamando logo atrás, se virou e notou o constrangimento dela, mas demorou alguns segundos para entender. Yumi sorriu sutilmente:
— Não consigo passar, digo, não me cabe.
Fagner voltou para trás, chamou um funcionário que a deixou passar por uma porta. Yumi ficou cética, sem saber como puxar assunto, teve vergonha de si. Fagner queria fingir que nada aconteceu, mas perguntou com certo deboche:
— E aí, Yumi, já pensou em começar a treinar comigo, fazer dieta? Vamos ficar no hype. Eu pago tudo! Vou ver se consigo uma avaliação hoje. Com a nutri.
Ela não respondeu como gostaria, porque chegaram pessoas perto. Ela estava em pé, mexendo no celular, viu um rosto que lhe pareceu familiar. Yumi nunca imaginou que veria Kauan novamente. Quando eram crianças, ele era seu porto seguro. O único que nunca riu dela, que nunca a fez sentir como um erro. Mas o tempo passou, cada um seguiu sua vida, e o contato se perdeu. Agora, anos depois, ele estava ali, parado diante dela, e pior, trabalhando com Fagner.
Eles se reencontraram onde a banda ensaiava. Kauan fazia parte da equipe de produtores de eventos do cantor. Mas naquele momento, nada disso importava. O choque de ver sua amiga de infância, a garota que costumava dividir lanches e segredos com ele, ao lado do maior cafajeste do show business, era mais impactante do que qualquer show que ele já tivesse assistido.
— Yumi?! — Ele piscou várias vezes, como se estivesse tentando se certificar de que não era uma miragem.
— Oi, Kauan… — a voz dela saiu hesitante.
— O que você está fazendo aqui? — Ele olhou para Fagner ao lado dela, as mãos dele descansando de forma casual na cintura de Yumi, como se quisesse marcar território.
Fagner percebeu a tensão, mas apenas observou, divertido.
— Ela é minha namorada — Fagner respondeu antes que Yumi pudesse formular uma desculpa.
Kauan franziu a testa, claramente confuso. Essa era a mesma Yumi que sempre foi tímida, insegura e discreta? A mesma que ele conhecia melhor do que ninguém? Algo estava errado. Muito errado.
O desconforto foi imediato. Ele olhou nos olhos da amiga e viu algo que só quem a conheceu de verdade poderia perceber: medo. Não de Fagner, mas de ser exposta. De ser questionada.
— Você… vocês estão juntos? — Kauan repetiu, dessa vez direcionando a pergunta a Yumi.
Ela quis responder com confiança, quis sustentar o papel que deveria interpretar. Mas antes que conseguisse, sentiu o olhar afiado do amigo. Ele sabia. Ele sabia que algo estava errado.
E naquele momento, Yumi percebeu que, pela primeira vez, alguém poderia destruir seu segredo. Ela sorriu nervosa, disse que sim. O reencontro com Kauan durou poucos minutos. Rápidos, sufocados, interrompidos antes mesmo que Yumi pudesse sentir qualquer conforto na presença dele.
Fagner percebeu a conexão entre os dois assim que os olhares se encontraram. Talvez tenha sido o jeito como Kauan disse o nome dela, com surpresa e familiaridade. Ou talvez tenha sido a forma como os olhos de Yumi se iluminaram por um instante, como se algo dentro dela tivesse se lembrado do que era ser reconhecida de verdade. Ele não gostou.
Fagner nunca foi do tipo sentimentalista. Mas no jogo da aparência, ele sabia que não podia perder o controle da narrativa, e naquele momento, uma antiga amizade parecia um risco. Ele não ia deixar que Kauan tivesse tempo para perguntas. Para dúvidas. Para brechas.
— Precisamos ir, amor, quero você me assistindo — ele disse, com um tom propositalmente firme.
Yumi piscou, confusa, e Kauan franziu a testa. “Amor?” A palavra soou deslocada, errada, forçada. Fagner deslizou a mão pela cintura dela, puxando-a sutilmente para perto, marcando território como se sua presença ao lado dela precisasse ser reafirmada.
Kauan sentiu uma pontada incômoda no estômago. Algo estava muito errado ali.
— A gente ainda pode conversar depois, certo? — Kauan insistiu, tentando ignorar a hostilidade implícita.
Yumi abriu a boca para responder, mas Fagner foi mais rápido.
— Não sei se vai dar tempo. Temos uma agenda cheia, ela não sai sem mim — ele disse, com um sorriso que não alcançava os olhos.
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Atualizado até capítulo 47
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