Ele disse aquilo com simplicidade, mas para ela, o impacto foi imenso. Ela nunca acreditou que alguém realmente gostaria de sua companhia, ela tinha medo, até de falar.
Tiraram fotos das mãos juntas, ele comeu frango com salada de folhas, tomou suco, ela comeu lasanha, picanha e muito refrigerante, de comer exageradamente, não teve vergonha.
Depois de postar as fotos, logo foram embora, separados. Ele pagou pelo encontro e ela foi embora feliz da vida, com a barriga cheia. As pessoas começaram a especular quem era aquela moça de mão gordinha com ele. Alguns dias depois, ele a chamou para sair e mandou duzentos reais para ela comprar uma roupa mais adequada.
Yumi comprou um vestido longo simples azul marinho, que realçava seu colo e valorizava as curvas. Era a primeira vez que os dois precisariam aparecer juntos em um evento público, foi um teste para Yumi. O medo de estar em evidência, de ser observada, de ser julgada como naquela noite do colégio, a fez estremecer.
Fagner mandou um carro buscá-la, se encontraram na frente da casa dele. Ele a cumprimentou formalmente com beijo no rosto. Durante o trajeto, ela ouviu as dicas dele calada, dizendo que deviam estar próximos, de mãos dadas. Quando chegaram ao evento, ela ficou travada olhando para fora, parecendo tensa. Ele se preparou para descer, murmurou antes de entrarem no salão:
— Está tudo bem!
— Não está — ela respondeu, respirando fundo.
E não estava. Desceram do carro, ele se aproximou, a segurando pela cintura. Ela sentiu os olhares sobre si. Os cochichos, verdadeiros ou imaginários, pareciam ecoar por todos os lados. Fagner a segurou pela mão, começou a cumprimentar pessoas, sentiu que a mão dela estava gelada, suando frio. Yumi estava constrangida, começou a mexer no celular. Mas então, algo aconteceu.
Quando ela parou por um segundo, os olhos de Fagner estavam fixos nela. Não com pena, não com deboche. Com compreensão.
— Se quiser sair um pouco, é só dizer.
Era um gesto simples, mas ninguém nunca tinha lhe dado uma escolha antes. Ela decidiu ficar, sorriu sutilmente cabisbaixa.
Yumi estava observando a tudo, mesmo tímida, era educada, comentou que não bebia. Lá tinha um buffet enorme, Fagner a chamou para irem comer, percebeu que ela não pegou quase nada, e questionou a razão, já que ela tinha falado antes que estava faminta.
Então cabisbaixa, ela respondeu, constrangida:
— As pessoas vão notar o que eu como e criticar, rir de mim.
— Não quero te envergonhar, você é um cantor importante, conhecido e...
Apontou para o abdômen dele:
— Tem um belo corpo, com tudo em cima.
Ele ficou surpreso, desconcertado, disse que aquilo era uma bobeira, pois ninguém tinha a ver com a alimentação dela. Atrás dele, tinham duas moças de beleza padronizada, cochichando e rindo. Na cabeça de Yumi, estavam caçoando dela. Totalmente desconfortável, ela decidiu comer pouco mesmo, foi embora com a barriga roncando.
Fagner sempre acreditou que ele era o dono do próprio destino. Mas ao conviver com Yumi, percebeu que ele também carregava marcas invisíveis. A diferença era que as dele estavam escondidas atrás de fama, polêmicas e conquistas. Mas no fundo, o medo de não ser aceito era semelhante, e ele passou a notar o quanto ela era discreta e gentil com tudo e todos.
Alguns dias depois, ele a chamou para fazerem umas fotos fakes de casal. Yumi chegou cheirosa, com o cabelo escovado. Ele sugeriu que montassem uma mesa de jantar, comprou comida mexicana. Enquanto ela arrumava a tudo, ele tocou no assunto da escolaridade dela, comentou que iriam fazer todo tipo de perguntas invasivas, quis saber se ela já tinha namorado, e quantas vezes.
Yumi começou a rir constrangida, falou do quanto sofria na escola e que por isso, nunca foi de namorar ou curtir, contou sobre o garoto que a ofendeu na festa, quando ela achou que iriam ficar, se emocionou ao explicar sobre a sensação de ser ridicularizada diante de todos.
— É como se eu fosse uma piada que todo mundo entendeu, menos eu — ela murmurou.
Por um instante, Fagner não soube o que dizer. Então, ele soltou uma risada curta e amarga.
— Eu também sou uma piada. Só que a minha vende ingressos para shows.
Ela o olhou surpresa. Pela primeira vez, viu além do cantor arrogante e do homem cercado por controvérsias. E talvez fosse ali que algo começou a mudar entre eles. Ele contou sobre sua infância pobre, falou muito sobre si, como adorava.
Com o tempo, as barreiras entre eles começaram a cair, as fotos eram abraçados, de mãos dadas, sentados perto e até dos pés na cama ou sofá. Ele quem escolhia tudo e ela só aceitava. Jantaram juntos assistindo a um filme que gostavam muito, de ação.
A timidez de Yumi aos poucos se transformava em conforto, tudo começou a fluir de maneira natural, como em um emprego qualquer. E Fagner, que nunca se importou com conexão real, começou a perceber que algo nele queria protegê-la. Não por pena. Mas porque ela era diferente de tudo que ele já conheceu e não parecia justo, deixar que a atacassem, enquanto ela o ajudava com a redenção pública.
Ele via que suas fãs, enchiam as fotos de críticas e deboches, tentava apagar constantemente, mas às vezes Yumi via e mesmo tentando disfarçar, ficava nitidamente triste, com vergonha de se expor assim.
Na noite em que deveriam fingir um beijo para uma campanha publicitária, ela foi sem saber de nada. Era uma foto sobre roupas da moda e foi difícil encontrar o tamanho dela. Fagner tentou lidar com tudo profissionalmente e acabou ameaçando expor nas redes sociais que queria o colocar com uma modelo, porque a namorada gorda dele, não "vendia" tanto. Yumi nem soube dos bastidores. Foi ao salão no dia, fez as unhas, o cabelo e até se depilou.
Ela não tinha amigas e nem com quem compartilhar. Na hora da empolgação, acabou enviando fotos para Fagner, perguntando se estava bom, e no fundo esperou um elogio, que não chegou. Fagner estava distraído e só disse que sim. Ela foi o encontrar ainda com a esperança de ouvir qualquer coisa que ressaltasse sua mudança, já que estava super maquiada, toda produzida. Fagner não parecia vê-la como uma mulher.
E ela começou a perceber o modo afetuoso dele com amigas, nas conversas, nos comentários em fotos, e para piorar, ele começou a chamar de fofinha, na frente das pessoas, a deixando muito constrangida.
Foram fazer as fotos e o agasalho dela quase não serviu. Ela começou a ficar nervosa emotiva, enquanto ele mexia no celular, incansavelmente. Quando ela ficou pronta, foi até ele. A fotógrafa explicou quais eram os planos, eles teriam que se beijar. Fagner estava tranquilo, se aproximou seguindo as instruções, a segurando pela cintura. Yumi hesitou.
— Eu nunca fiz isso antes — confessou baixinho.
Fagner sentiu algo incomum dentro de si. Uma mistura de surpresa e respeito, ficou desconcertado cochichando.
— Não precisa fazer nada que não queira.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 47
Comments