Helena passou o dia inteiro em um estado de nervosismo que parecia não ter fim. Desde o instante em que acordou, com os primeiros raios de sol atravessando a cortina fina do quarto, sua mente foi tomada por uma ansiedade sufocante. Cada movimento parecia mecânico: levantar, se arrumar, tomar café, sair de casa. Tudo se misturava em um emaranhado de pensamentos confusos.
Ele realmente viria?
Dante Salvatore.
O nome ainda não lhe era conhecido, mas a imagem daquele homem não saía de sua cabeça. O olhar cinza, penetrante, a forma como havia falado com ela ao telefone, como se tivesse todo o poder do mundo. Helena nunca havia conhecido alguém assim — alguém que parecia carregar consigo a noite inteira, um homem que irradiava tanto magnetismo quanto perigo.
Durante todo o expediente, tentou se convencer de que ele não apareceria. Talvez tivesse se esquecido. Talvez fosse apenas um jogo cruel, uma brincadeira estranha de alguém acostumado a brincar com a fragilidade alheia. Mas, no fundo, sabia que não. Não havia nada em Dante que soasse incerto.
Ele viria.
E a simples ideia a fazia estremecer.
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O dia arrastou-se com lentidão. Clientes entravam e saíam, pedindo recomendações de romances ou biografias, mas Helena mal conseguia focar nas palavras. O sorriso que costumava oferecer parecia forçado, e várias vezes se pegou ajeitando o mesmo livro na prateleira sem perceber.
Conforme o sol se punha e a cidade lá fora se iluminava com os neons, seu coração passou a bater cada vez mais rápido. Cada minuto parecia arrastá-la para mais perto do inevitável.
Às oito da noite, a livraria estava quase vazia. Dois clientes ainda folheavam distraidamente alguns títulos, e Helena tentava manter a calma, mesmo sabendo que a qualquer instante ele poderia entrar.
E então, o sino metálico da porta tocou.
Helena congelou.
Ele estava lá.
Dante entrou como se fosse dono do espaço. De terno negro impecável, ombros largos, postura ereta, ele caminhava com a confiança de quem não precisava pedir licença para existir. Seu rosto esculpido, os cabelos escuros penteados para trás, e aqueles olhos cinzentos — frios e intensos — fizeram o ar sumir dos pulmões de Helena.
Os dois clientes que ainda estavam na loja o olharam por um instante, como se sentissem um arrepio inexplicável. Sem trocar palavra, devolveram os livros às prateleiras e saíram rapidamente, deixando a livraria mergulhada em um silêncio pesado.
Dante avançou até o balcão com passos controlados, cada movimento calculado, como se tivesse todo o tempo do mundo. Helena, por sua vez, sentiu-se cada vez menor, como se fosse engolida por aquela presença.
— Está pronta? — ele perguntou, a voz grave ecoando no espaço silencioso.
Helena arregalou os olhos, confusa.
— Eu… eu não disse que iria — murmurou, as mãos suadas apertando o balcão de madeira.
O sorriso de canto surgiu nos lábios dele, carregado de algo que a fez tremer ainda mais.
— Mas também não disse que não.
O rubor subiu pelo rosto dela imediatamente. Era verdade. Não tinha recusado. Apenas… não tinha força para fazê-lo.
Dante inclinou-se sobre o balcão, diminuindo a distância entre eles. O perfume amadeirado dele a envolveu, deixando-a tonta.
— Helena… — disse em tom baixo, quase um sussurro. — Eu não estou acostumado a ouvir “não”.
As palavras caíram sobre ela como uma sentença.
— Mas… eu não sei nada sobre você — retrucou, tentando agarrar-se à razão. — Não sei quem é, o que quer… nada.
— Isso pode mudar hoje à noite — respondeu, firme, o olhar cinza fixo nos olhos dela.
O silêncio se prolongou. Helena sentiu o coração martelar, dividida entre fugir e se render.
E então, ele estendeu a mão.
— Confie em mim.
Helena olhou para aquela mão. Forte, marcada, de dedos longos. A mão de alguém que já havia vivido violências que ela jamais poderia imaginar. Hesitou, o coração acelerado.
Mas, como se uma força maior a guiasse, sua própria mão se ergueu e pousou sobre a dele.
Dante a envolveu com firmeza, sem machucar, mas deixando claro que, a partir daquele instante, não a soltaria.
— Boa garota — murmurou, e o tom de sua voz fez um arrepio percorrer a espinha dela.
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Do lado de fora, estacionado em frente à livraria, havia um carro preto luxuoso. O motorista, um homem de terno igualmente impecável, saiu rapidamente e abriu a porta traseira. Helena parou na calçada, o coração disparado.
— Eu… não posso entrar nesse carro — disse, em um fio de voz.
Dante virou-se para ela, o olhar cinza mais intenso do que nunca.
— Pode sim. — A voz dele era calma, mas carregada de autoridade. — Porque agora está comigo. E comigo, ninguém toca em você.
As palavras penetraram fundo, atravessando seus medos. Contra toda lógica, ela acreditou.
Respirou fundo e entrou no carro.
O interior era luxuoso, revestido de couro negro, com detalhes cromados que refletiam as luzes da cidade. O ar estava impregnado com o mesmo perfume dele, preenchendo cada espaço. Helena se sentou nervosa, as mãos sobre o colo, enquanto Dante se acomodava ao lado dela.
O motorista fechou a porta, entrou na frente e o carro partiu suavemente pelas ruas molhadas de Nova York.
Helena manteve os olhos fixos na janela, observando os arranha-céus iluminados, as pessoas correndo sob guarda-chuvas, os letreiros de neon piscando. Mas, por mais que tentasse se distrair, sentia o olhar dele sobre si. Pesado. Impossível de ignorar.
— Você nunca esteve com um homem antes… esteve? — a voz grave dele soou de repente, quebrando o silêncio.
Helena virou-se bruscAmente, chocada, e sentiu o rosto incendiar.
— O quê? Como pode perguntar isso?! — gaguejou, a voz embargada.
Dante sorriu de lado, satisfeito com a reação dela.
— Eu sei reconhecer a inocência quando a vejo. — Seu olhar percorreu o rosto dela lentamente. — E você, Helena, é a coisa mais pura que já encontrei.
Ela desviou o olhar, mordendo o lábio inferior. O coração parecia querer saltar do peito.
— Não precisa ter medo de mim — ele continuou, o tom firme, quase protetor. — Não sou um homem fácil. Nem sou um homem bom. Mas, com você… será diferente.
Helena respirou fundo, tentando se recompor. Voltou os olhos para a janela, mas suas mãos tremiam.
— Para onde estamos indo? — perguntou, a voz baixa.
Dante recostou-se no banco, mas sem desviar os olhos dela.
— Para o meu mundo. — A resposta veio enigmática. — Onde você vai entender quem eu sou.
Um arrepio percorreu o corpo dela. Parte de si queria que o carro desse meia-volta, que ela pudesse correr de volta para o conforto da livraria, para o silêncio dos livros. Mas outra parte — mais intensa, mais ardente — queimava de curiosidade.
Quem era Dante Salvatore, afinal? E por que, apesar do medo, ela não conseguia resistir?
Helena fechou os olhos por um instante, sentindo o carro deslizar pelas ruas iluminadas. Sabia que, a partir daquele momento, nada seria igual.
Dante a havia arrancado de seu mundo seguro e a levado para o dele — um mundo de luxos, sombras e perigos.
E, mesmo sem perceber, Helena já estava prisioneira.
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Atualizado até capítulo 31
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