Prisioneira do Mafioso
A livraria onde Helena trabalhava não era apenas um emprego para ela — era quase um refúgio. Localizada em uma rua pouco movimentada do centro da cidade, era um espaço pequeno, aconchegante, com prateleiras de madeira antiga que rangiam levemente quando se passava a mão sobre elas. O cheiro característico de papel, misturado ao aroma de café que ela sempre preparava para si, era algo que acalmava sua mente. Ali, entre romances, clássicos e poesias, Helena podia sonhar em silêncio, afastada do caos do mundo exterior.
Helena tinha 20 anos, mas ainda carregava no semblante a delicadeza e a inocência de alguém que jamais havia enfrentado o peso da vida adulta. Seus pais, rígidos e religiosos, sempre a protegeram de tudo. Enquanto outras jovens de sua idade viviam festas, namoros e experiências, ela se mantinha recolhida entre estudos, trabalho e a segurança de sua casa. Jamais havia namorado de verdade, nunca havia se entregado a um beijo profundo, e ainda menos a algo além disso. Guardava-se, não apenas por ensinamentos, mas porque seu coração sempre acreditou que o momento certo viria… que alguém especial apareceria.
Naquela noite chuvosa, Helena estava sozinha. Já passava das oito e a livraria costumava fechar às sete, mas ela havia se perdido arrumando um novo lote de livros que chegara. O som da chuva batendo contra a vidraça criava uma melodia constante, e a rua deserta do lado de fora parecia um cenário de filme.
Foi nesse instante que a porta se abriu. O sino de metal pendurado na entrada tilintou, e um vento frio invadiu o ambiente. Helena ergueu os olhos e, no mesmo instante, seu coração deu um salto no peito.
Um homem entrou.
Alto, de postura impecável, vestido em um terno negro sob medida que destacava a imponência de seus ombros largos. O cabelo escuro estava penteado para trás, e seus traços eram tão marcantes que pareciam esculpidos em pedra: mandíbula firme, boca cheia, olhar penetrante. Mas foram os olhos que prenderam Helena — um cinza profundo, gelado, que parecia atravessar qualquer barreira. Ele caminhava como alguém acostumado a ser obedecido, dono de uma autoridade natural que dispensava apresentações.
Helena engoliu em seco. Nunca tinha visto alguém assim de perto. Ele não parecia se encaixar naquele cenário modesto. Era como se a escuridão da noite tivesse tomado forma e decidido entrar em sua livraria.
— Está fechando? — a voz dele soou grave, firme, com um leve sotaque estrangeiro que tornava cada palavra mais envolvente.
Ela demorou um segundo para responder, surpresa com a presença dele.
— S-sim… já estou fechando — murmurou, ajeitando o cabelo atrás da orelha em um gesto nervoso.
O homem assentiu devagar, mas não se moveu em direção às prateleiras. Pelo contrário: caminhou direto até o balcão, cada passo ressoando no chão de madeira como se tivesse todo o tempo do mundo. Helena, sem perceber, segurava com força a caneta que tinha nas mãos, como se fosse uma âncora para não se perder naquela presença magnética.
Quando ele parou diante dela, a diferença de estatura a fez se sentir pequena, frágil. Ele se inclinou levemente sobre o balcão, aproximando-se de modo a que ela pudesse sentir o perfume amadeirado que o envolvia, intenso, sofisticado, perigoso.
— Qual é o seu nome? — perguntou, sem rodeios.
Helena piscou, surpresa pela pergunta direta. Ninguém costumava se interessar por ela daquela forma, ainda mais um homem tão… imponente.
— H-Helena — respondeu, quase num sussurro.
Um meio sorriso surgiu nos lábios dele, como se tivesse recebido a resposta que já esperava.
— Bonito nome… — disse em voz baixa, mas firme. — Combina com você.
O coração dela disparou. Não sabia o que estava acontecendo, mas cada palavra dele parecia carregada de um peso que a fazia sentir-se exposta. Sua mente buscava respostas: quem era ele? O que fazia ali? Por que olhava para ela daquele jeito, como se a conhecesse?
Tentando retomar a compostura, Helena se apressou em perguntar:
— P-posso ajudar a encontrar algum livro?
O sorriso dele aumentou um pouco, embora seus olhos permanecessem frios, analisando cada detalhe do rosto dela, como se estivesse gravando suas feições na memória.
— Talvez eu não esteja aqui por um livro… — respondeu enigmaticamente, inclinando ainda mais o corpo, diminuindo a distância entre eles.
Helena sentiu o rosto arder. Nunca estivera tão próxima de um homem antes, e a intensidade daquele olhar a deixava atordoada. A respiração dela acelerou, traindo o nervosismo que tentava esconder.
— Ent- então… — ela hesitou, baixando os olhos — p-posso perguntar o que veio fazer?
Dante — embora ela ainda não soubesse seu nome — a observava como um predador diante de uma presa rara. Havia conhecido inúmeras mulheres em sua vida: belas, sedutoras, experientes. Mas nenhuma como ela. Nenhuma com aquela pureza estampada no olhar, com aquele rubor inocente que denunciava o quão intocada ainda era para o mundo. Ele sentiu algo que não costumava sentir: curiosidade. Um desejo diferente, mais profundo, quase obsessivo.
— Talvez… apenas conhecer você — respondeu, em um tom baixo, quase íntimo, que fez um arrepio percorrer a espinha de Helena.
Ela ergueu os olhos devagar, surpresa, e encontrou novamente o olhar cinza que parecia engoli-la inteira. Sentiu as pernas tremerem, o coração martelar em seu peito, e não soube o que responder. Nunca ninguém havia falado com ela daquele jeito. Nunca.
O silêncio se instalou por alguns segundos, apenas o som da chuva preenchendo o espaço. Ele não parecia ter pressa. Permanecia ali, perto demais, com aquele olhar carregado de algo que ela não conseguia decifrar.
Finalmente, Helena recuou um passo, tentando se recompor.
— Eu… preciso terminar de fechar a loja… — disse, a voz falhando levemente.
Dante endireitou o corpo, observando-a com calma, mas sem deixar escapar aquele sorriso de canto que parecia mais uma promessa velada.
— Claro… não vou atrapalhar. — Ele deslizou um cartão preto sobre o balcão, tão simples quanto elegante, sem logotipo, apenas um número gravado em prateado. — Caso precise de qualquer coisa, Helena… me ligue.
Ela olhou para o cartão sem entender. Quando ergueu os olhos novamente, ele já se virava em direção à porta.
O sino tilintou outra vez quando ele saiu, deixando para trás apenas o eco de sua presença e um vazio estranho que pareceu engolir a livraria inteira.
Helena permaneceu parada por alguns instantes, sentindo o coração ainda acelerado, como se tivesse acabado de acordar de um sonho intenso. Segurou o cartão com as mãos trêmulas e leu o número novamente, sem compreender por que um homem como aquele lhe deixaria algo tão pessoal.
Mas, no fundo, sabia que sua vida jamais seria a mesma. Algo havia mudado.
Naquela noite chuvosa, sem perceber, Helena havia sido marcada pelo olhar de Dante Salvatore — um homem que carregava o peso da escuridão nos ombros.
E, pela primeira vez, a inocência dela começava a se entrelaçar com o perigo.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 31
Comments