O dia amanheceu cinzento, carregado de nuvens pesadas, como se até o céu soubesse que algo sombrio pairava sobre Fernando López.
Ele havia passado a noite em claro, remoendo cada palavra trocada no velório, cada olhar disfarçado de Valéria, cada promessa que não fazia sentido.
Quando finalmente decidiu ir ao apartamento dela, era como se agarrasse um último fio de esperança, o último suspiro antes de se afogar.
Dirigiu pelas ruas de Madri em silêncio, apenas o ronco do motor e o peso das lembranças preenchendo o ar.
A porta do apartamento estava destrancada. Estranho...
Com a pistola em punho, ele entrou chamando o nome dela, o medo de que tivessem feito algo a ela era grande.
— Valéria?— a voz fraca, quase um sussurro.
O silêncio foi a única resposta. O apartamento estava estranhamente vazio, como se alguém tivesse arrancado a alma do lugar. O closet, antes repleto de vestidos caros e sapatos de grife, estava escancarado, com cabides vazios.
Fernando andou por todos os cômodos, nada...
Voltou para sala de entrada e, em cima da mesa do centro um envelope branco com seu nome escrito em uma caligrafia elegante e firme. Fernando sentiu o coração disparar. Ele se sentou, abriu lentamente o papel e começou a ler:
FERNANDO
"Não pense que essa decisão foi fácil para mim. Mas eu preciso de muito mais do que você pode me oferecer agora. Sempre me imaginei ao lado de um homem que pudesse me dar o mundo. Mas você escolheu um caminho que não é o que sonhei para mim.
Preciso viver a minha vida e ela não está ligada à sua. Adeus."
Era simples, frio e sem rodeios. Era uma faca que cortava o seu peito e perfurava o seu coração. Ele leu e releu as poucas linhas, tentando encontrar algum traço de arrependimento, mas não havia. Apenas a constatação de que ele havia sido um tolo em acreditar nos sentimentos de uma mulher.
O papel tremeu em suas mãos, e, antes que pudesse controlar a raiva e a dor, jogou a carta no chão e começou a derrubar tudo ao seu alcance. Um vaso de cristal se espatificou contra a parede, de uma pintura que ele mesmo havia dado a Valéria, foi rasgada com um único golpe. Pegou uma cadeira e a arremessou contra a estante. O som de vidro quebrado ecoou pelo apartamento, mas não trouxe alívio, apenas mais vazio.
— Droga!— gritou, com a voz embargada.
A empregada apareceu apavorada, mas não disse nada. Voltou para a área de serviço longe da ira daquele homem.
Fernando respirava pesado, as mãos tremendo as lembranças dos dois juntos vinham como punhaladas: os beijos nas madrugadas frias, As Viagens de fim de semana, dela impregnado nas roupas dele...
Ele saiu do apartamento sem olhar para trás. Entrou no carro, e dirigiu sem destino, como se fugir das ruas conhecidas pudesse fazê-lo fugir de si mesmo.
................
A primeira garrafa veio fácil. Num bar de esquina, ele pediu um whisky duplo, depois outro. Os rostos das pessoas ao redor eram apenas borrões. A música alta não abafava os pensamentos, apenas dava ritmo ao caos que o consumia.
Nas horas seguintes, ele passou de bar em bar, um náufrago que procura uma ilha, mas só encontra mais mar.
Amigos antigos apareceram, outros estranhos se juntaram, e, entre risos falsos e copos cheios, ele tentava esquecer que a mulher por quem havia se arriscado estava agora em algum aeroporto, talvez já em outro país.
Quando o sol nasceu no dia seguinte, ele já não sabia onde estava. A cabeça latejava, o corpo pedia descanso, mas o coração gritava por mais anestesia. Voltou a beber dois dias assim sem dormir direito, sem comer, apenas afogando-se no álcool e fumaça.
No terceiro dia, a madrugada o encontrou na porta de uma “boate” luxuosa, com paletó amassado, a gravata frouxa e um copo de alguma bebida cara que ele já não distinguia.
Foi quando observou o carro preto parado em frente.
A porta traseira se abriu e de lá saiu uma figura imponente, que dispensava a apresentações: Maria del Pilar, a matriarca da família López, a sua avó. Ao lado dela, como sempre, o secretário fiel, Raúl.
Fernando arregalou os olhos confuso.
— A vó? O que faz aqui?
E ela, firme e sem levantar a voz, apenas respondeu:
— O que deveria ter feito desde o dia em que o seu avô morreu. Trazer você de volta para casa.
Ele riu, um riso amargo.
— Casa? Não tenho mais casa ponto não tenho mais nada. A mulher que eu amo foi embora.
Maria del Pilar aproximou-se. Não havia julgamento no olhar dela, apenas a frieza calculada de quem já vira muitos homens se perderem e sabia quando puxar as rédeas.
— E vai deixar que ela leve o resto de você junto? Chega, Fernando. Entre no carro.
A matriarca falou, batendo à bengala na calçada, sinal claro de sua falta de paciência.
— Não vou... — ele começou, mas Raúl, discreto e rápido, tomou o copo da sua mão e o segurou pelo braço.
— Senhor Fernando, a senhora não está pedindo, está dizendo...
O toque de Raúl não era violento, mas era firme, Fernando sabia que resistir ali seria mais humilhante do que ceder. Ele respirou fundo, olhou para a boate atrás dele, para as luzes que piscavam, para a promessa vazia de mais uma noite igual as últimas, e decidiu entrar no carro.
No banco de trás o cheiro discreto de lavanda que a avó usava as décadas lembranças da infância, tempos em que ele não carregava o peso da vida adulta.
— Você não vai se destruir por alguém que nunca te mereceu.— disse Maria del Pilar, olhando para frente, como se falasse sozinha.
— E o que me resta vó?— ele perguntou, a voz quase sumindo.
— Resta o que sempre esteve aqui. A família... o legado de seu avô. E se você parar de se comportar como um garoto ferido, talvez ainda possa dar um rumo a sua vida.
A senhora puxou o neto para um abraço, o corpo dele se mexer, naquele momento, Fernando era apenas um menino...
— Vamos, acalme-se e haja como o homem que seu avô criou... você é capaz e saberá que o sumiço dessa mulher foi melhor.
Pela primeira vez em dias, Fernando López deixou-se ficar no abraço caloroso da matriarca Que tinha punhos de aço em respeito à "organização" e aquele pulso leve quando se tratava dos netos.
O carro seguiu pela cidade silenciosamente, deixando para trás as luzes da “boate”, os copos, os desconhecidos…
Tudo o que restava era um homem partido, voltando para casa, onde todos esperavam que ele fosse o próximo Don, que fosse o líder.
E, no fundo, ele sabia que não poderia mais fugir de suas responsabilidades...
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Atualizado até capítulo 24
Comments
Maria De Lourdes Guimarães
é Tânia eu queria saber aonde te acho para mim encontro o primeiro livro pois eu procurei e não achei não gosto de começar o segundo ano que terminar o primeiro eu fui começar o segundo e você contou o que é eterno Aonde eu encontro o primeiro comigo por favor
2025-09-19
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Mavia Dantas
amo essa família Lopes, meus parabéns autora, em felizmente ele mereceu pela as humilhações pela noiva ela não mereciam, mulher como a ex destrói o homem rápidamente em tempo, família e tudo e isso a matriarca a mostrou-se que na quedas a família vai tá la pra levanta
2025-08-29
3
Maria Oliveira Poranga
História linda Tânia , pena que pouco capítulos , não tô reclamando só constatação , num vejo hora Fernando assumir lugar avó
2025-08-29
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