O escritório de Don Enrique López ainda exalava poder. A madeira escura, o cheiro de charuto impregnado nos móveis e a cortina de veludo pesado bloqueando qualquer vestígio de luz natural, criavam a atmosfera perfeita para decisões inegociáveis.
Fernando entrou com passos firmes, mas os olhos pesavam.
Agora, aos 30 anos, era um homem moldado por cicatrizes. A ausência dos pais já não ardia no peito, mas deixara um vazio preenchido por obrigações, perdas e, sobretudo, escolhas mal feitas.
Mais de uma década ao lado de Valéria Garcia transformara-o num sobrevivente emocional. A paixão da juventude dera lugar a um amor tortuoso, marcado por idas e vindas, escândalos abafados e promessas vazias.
Sentado atrás da mesa, o velho Dom Enrique López o observava com a frieza de seus quase 80 anos.
— Sente-se.
Fernando permaneceu de pé.
— Prefiro ficar de pé.
O avô ergueu uma sobrancelha, como quem via ali a repetição de um padrão queria mais tolerar.
— São dez anos, Fernando. Dez anos de protelação. De adiamento, de vergonha silenciosa para esta família. Você não é mais um garoto.
— Eu sou o que você fez de mim.— respondeu Fernando, sem hesitar.
Don Enrique López ignorou a provocação.
— Já fui paciente o suficiente. Deixei você viver tua ilusão com aquela mulher. Mas o tempo acabou.— Dom Enrique bateu a mão sobre a mesa.— O casamento com Elena Gutiérrez irá acontecer.— os olhos do homem mais velho se estreitaram — Ou você perderá o direito ao comando.
O nome Elena pairou como uma acusação. Fernando apertou os punhos.
— Isso é chantagem.
— Isso é destino. — rebateu Dom Enrique com voz grave — Você jurou à sua mãe, no leito de morte, que honraria o acordo da família. Jurou diante de mim que cumpriria o seu papel.
Fernando aproximou um passo com um olhar ameaçador.
— Eu tinha 20 anos. Havia acabado de enterrar os meus pais. Estava perdido.
— E eu te ofereci estrutura!— gritou o velho, erguendo-se da cadeira com dificuldade e sentindo o peito apertar.— Dei a você a direção. E tudo o que peço agora é que cumpra a sua parte. Elena Gutiérrez esperou por uma década. Discreta, leal... ela sabe mais sobre nossos negócios do que você imagina. Ao lado dela, você será como um rei. Ao lado dessa Valéria...
Dom Enrique soltou uma risada seca.
— Você será só mais um homem humilhado por amar uma mulher que ama mais o espelho do que a você.
Fernando apertou os dentes.
— Não posso viver uma mentira. Chamar de esposa uma mulher sem atrativos algum.
— Então assista o seu irmão assumir o seu lugar. Alejandro está pronto. E diferente de você, ele não confunde lealdade com desejo, ele reconhece o valor de Elena Gutiérrez.
O silêncio explodiu como um tiro entre os dois. Fernando encarou o avô por alguns segundos e depois sem dizer mais nada, virou as costas e caminhou até a porta.
Antes de sair, falou sem olhar para trás:
— Eu prefiro perder tudo que viver com uma mulher não amo. Alejandro que faça bom proveito.
E bateu a porta com a força de quem acabava de romper anos de devoção.
O apartamento que Fernando mantinha para Valéria, localizava-se no centro de Madri.
Era um luxo meticulosamente montado para impressionar. Tudo gritava status: as poltronas italianas, as obras de arte moderna, os espelhos de molduras douradas. Mas nada ofuscava o brilho dela, que mesmo aos 28 anos, parecia cada vez mais deslumbrante.
Estava em frente a penteadeira, passando um batom escarlate quando a campainha tocou.
Sorriu. Sabia quem era.
Fernando entrou sem esperar convite, os olhos carregando ainda o peso da discussão com o avô.
Valéria Garcia saiu do quarto e correu até ele com entusiasmo, abraçando-o como sempre fazia quando queria algo.
— Chegou cedo... não o esperava.— mentiu ela.
Ele não respondeu ao abraço, estava tenso.
— Aconteceu algo? — ela perguntou, recuando ligeiramente.
Fernando a olhou nos olhos. Os olhos cor de âmbar dela ainda o hipnotizava, mesmo depois de tantos anos. Mesmo com todas as brigas, as mentiras e as reconciliações, parte dele ainda queria acreditar que havia amor ali.
— Ele quer que eu me case Elena Gutiérrez.— disse.
Valéria piscou algumas vezes, surpresa.
— Isso não é novidade. Esse assunto volta todos os anos.
— Dessa vez é definitivo. Ou me caso com ela, Alejandro assume a organização.
Ela cruzou os braços na defensiva. Não estava em seus planos perder o status de senhora López.
— E o que respondeu?
— Que prefiro ficar com você.— ele a estreitou num abraço.— Deixei claro que não me importo com o poder. Disse que posso recomeçar em outro lugar, uma nova vida com você.
O silêncio se seguiu foi gélido.
Valéria Garcia arregalou os olhos. O sorriso que antes moldava o rosto bonito como uma máscara, desapareceu. Ela recuou dois passos.
— Você... recusou o comando da organização?
— Sim.— Fernando respondeu, sério.
— Fernando! Você recusou a organização? Por mim?
— Sim, por nós. Pela nossa história. — ele deu um sorriso torto— Finalmente livre, sem joguinhos e sem fingimentos.
— E seu avô?
— Esquece. Tenho 30 anos, algumas economias e investimentos, posso cuidar de você...
— Fernando... a organização…
Antes que ele continuasse, o seu telefone tocou, era a sua avó Maria del Pilar.
📱— Fernando, venha para casa.
📱— Não, vó. Eu não me unirei a uma criança Valéria e ficarei com ela.
📱— O seu avô não está bem...
📱— Chame um médico. Não retrocederei da minha decisão. Ele estava muito bem quando saí daí...
📱— Ele não está mais e ele pediu por você.
A voz trêmula da sua avó, fez com que Fernando percebesse que algo estava errado. Pegou o casaco e correu para fora do apartamento luxuoso em que mantinha Valéria Garcia há 10 anos.
Quando chegou a mansão, a noite já caía. As luzes da casa não estavam todas acesas, e havia carros diferentes estacionados.
Maria Del Pilar o esperava, o rosto grave e olhos úmidos.
— Ele ainda está consciente. Pede por você...
Fernando respirou fundo, tentando engolir um nó que subia pela garganta.
— Isso é sério?
— Muito. Seus irmãos estão chegando em breve.
Ele passou por ela sem dizer mais nada. A cada passo que dava pelos corredores, memórias vinham: as aulas forçadas, as broncas, as ordens inquestionáveis...
A sombra de Dom Enrique sempre estivera presente em cada decisão de sua vida.
Ao entrar na ala reservada apenas para atendimentos médicos, encontrou o avô deitado, pálido, com tubos conectados ao nariz e um monitor cardíaco apitando em ritmo lento.
Dom Enrique abriu os olhos ao sentir a sua presença. Pela primeira vez a sua expressão não era de comando. Era de súplica.
Fernando sabia que a partir dali, a sua vida mudaria, mas não fazia ideia do quanto.
💥💥💥OLÁ AMADINHAS...
Hoje é dia 26/08/25
Eu quero pedir para que compreendam que não sou escritora formada, que escrevo por prazer nas horas vagas. O livro não está concluído. Eu crio o capítulo no papel, depois dígito no celular, depois a plataforma libera 1 capítulo por vez. Costumo entregar no mínimo 4 capítulos por semana, pois tenho um bar que funciona por 15 hs, vendo meus caldos no IFOOD, tenho 2 filhos, 1 marido, 1 casa, 1 cachorra dissimulada e ZERO funcionários. Tenho 55 anos e pouca intimidade com tecnologia.
Agradeço a compreensão...
BJS DE LUZ 💓💓💓
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Atualizado até capítulo 24
Comments
Aldeir Rodrigues
autora faz ele quebrar a cara q a noiva dele seja dessas q não abaixar a cabeça não aceita traição e coloca ele no cabresto kkkkkk isso é de 4
2025-08-27
6
Edna Costa
Gostei 👍 da parte da cachorra dissimulada, onde tu arrumou essa pois eu também tenho um dissimulado safado parabéns autora
2025-08-27
2
Maria Oliveira Poranga
vai no seu tempo Tânia ,pois eu estarei esperando por atualização d livro , tenho certeza será sucesso como todos os livros seus
2025-08-27
4