Vozes na Escuridão

A porta do sótão estava aberta.

Adeline subiu devagar, cada degrau rangendo como um aviso. O ar ali era diferente — mais denso, mais frio, como se o tempo tivesse parado. A luz da manhã não alcançava aquele espaço. Era como entrar em outro mundo.

No centro do sótão, havia uma cadeira de madeira cercada por velas apagadas. E atrás dela, um espelho coberto por um pano escuro. Adeline se aproximou, hesitante, e puxou o pano.

O espelho não refletia o sótão.

Refletia o porão.

E nele, a cadeira com correntes estava ocupada.

Por ela.

Adeline recuou, o coração disparado. Mas antes que pudesse fugir, as velas se acenderam sozinhas. E as vozes começaram.

Sussurros. Frases desconexas. Gritos abafados.

> "Ela voltou."

> "O sangue é dela."

> "O ciclo não pode ser quebrado."

Adeline tapou os ouvidos, mas as vozes estavam dentro dela. Como memórias que não eram suas. Como lembranças de vidas que nunca viveu.

Ela caiu de joelhos, e o chão do sótão se transformou. As tábuas sumiram, revelando um círculo de símbolos brilhantes. No centro, o diário de Beatriz flutuava, aberto em uma página que queimava lentamente.

> "A verdade está no nome. O nome que foi esquecido. O nome que ela precisa lembrar."

Adeline tentou ler, mas as letras se apagavam diante dos seus olhos. E então, uma voz mais clara, mais firme, falou:

— Você não é a primeira. Mas pode ser a última.

Ela olhou ao redor. A figura do Observador estava ali, mas agora havia outros. Rostos distorcidos, olhos vazios, todos presos ao espelho. Todos esperando.

Adeline se levantou, tremendo, e encarou o reflexo.

— Quem sou eu? — sussurrou.

O espelho respondeu:

— Você é a chave.

E então, tudo escureceu.

Adeline acordou no chão do sótão. As velas estavam apagadas, o espelho coberto novamente. Mas algo havia mudado.

Ela não se lembrava de ter dormido.

Ao descer, encontrou o corredor diferente. Os quadros nas paredes haviam mudado — agora mostravam cenas da própria vida dela, momentos que ninguém mais poderia ter registrado. O aniversário de oito anos. A noite em que chorou sozinha no hospital. O dia em que recebeu a chave da mansão.

Cada quadro pulsava, como se estivesse vivo.

No escritório, o diário de Beatriz estava fechado. Mas ao tocá-lo, uma nova página se revelou, escrita com tinta escura e irregular:

> "As vozes não são ecos. São memórias. E você é feita delas."

Adeline sentiu uma vertigem. As vozes que ouvira no sótão não eram fantasmas. Eram fragmentos de si mesma — partes esquecidas, reprimidas, enterradas.

Ela correu até o porão. O círculo de símbolos ainda estava lá, mas agora brilhava com uma luz fraca. No centro, uma figura a esperava. Não o Observador. Uma mulher.

Beatriz.

— Você ouviu, não foi? — disse ela, com voz serena. — As vozes são nossas. São de todas que vieram antes. E agora, são suas também.

Adeline se aproximou, sem saber se aquilo era real ou mais uma ilusão da casa.

— Por que eu? — perguntou.

Beatriz sorriu, triste.

— Porque você é a primeira que escuta. E a última que pode escolher.

A luz do círculo se apagou. Beatriz desapareceu. E no chão, restava apenas uma frase gravada em carvão:

> "Capítulo 5: Revelações. A verdade não liberta. Ela transforma."

Adeline subiu as escadas em silêncio.

Ela não era mais uma visitante.

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