A Torre esquecida

A noite caiu com um peso diferente.

Isadora observava o céu da varanda, onde as estrelas pareciam mais distantes, como se o véu estivesse se esticando entre ela e o universo. Lira estava no porão, estudando os símbolos deixados pela sombra feminina. E Dona Célia... ela não dormia mais. Apenas vigiava.

> “A terceira força não é apenas uma entidade,” dissera Célia. “Ela é o reflexo do desequilíbrio. E agora, ela quer se manifestar.”

Isadora sentia a espiral em seu ombro vibrar com frequência. Às vezes, ela ouvia sussurros vindos da pedra brasa. Outras vezes, via Kael em sonhos — mas não como antes. Ele estava diferente. Mais sombrio. Mais distante.

Na manhã seguinte, Lira apareceu com um mapa antigo, encontrado entre os papéis de Célia. No centro, um local marcado com tinta escura: A Torre Esquecida.

— É lá que a terceira força foi selada — disse Lira. — E é lá que Kael está agora.

Isadora hesitou. — Como você sabe?

Lira olhou para ela com um misto de dor e certeza. — Porque ele me chamou. Não com palavras. Com fogo.

A jornada até a torre foi silenciosa. A floresta parecia mais viva, mais hostil. Criaturas feitas de sombra observavam entre as árvores, mas não atacavam. Apenas esperavam.

Ao chegarem à torre, encontraram ruínas cobertas por símbolos que pulsavam em tons de cinza e violeta. No centro, uma fenda — e dentro dela, Kael.

Ele estava ajoelhado, cercado por correntes feitas de luz e sombra. Seus olhos prateados estavam apagados, e sua pele parecia marcada por rachaduras.

Isadora correu até ele, mas ao tocar sua mão, uma onda de energia a lançou para trás.

> “Ele está preso entre forças que não pertencem a este mundo,” disse uma voz. Era a sombra feminina, agora mais nítida. — “E vocês vieram tarde demais.”

Lira ergueu a mão, a chama em seu pulso crescendo. — “Não vamos deixar que ela o consuma.”

A sombra sorriu. — “Ele já se ofereceu. Vocês só vieram assistir.”

Isadora se levantou, a espiral em seu ombro brilhando com força. Ela sabia que não podia salvar Kael com força. Teria que entrar na fenda. Teria que atravessar o véu... de novo.

> “Então me leve,” disse ela. — “Mas se eu entrar, não volto igual.”

A sombra se curvou levemente. — “É o preço de quem carrega a espiral.”

E com isso, o véu se abriu.

A fenda diante da Torre Esquecida pulsava como uma ferida aberta no tecido da realidade. Isadora sentia o chamado em cada parte do corpo, como se a espiral em seu ombro estivesse sendo puxada por algo que não era deste mundo — ou de nenhum.

Lira tentou segurá-la. — Se você entrar, não sei se volta.

Isadora olhou para Kael, ainda ajoelhado, preso entre correntes de luz e sombra. Ele não dizia nada, mas seus olhos apagados pareciam implorar.

— Eu não posso deixá-lo — disse ela. — E talvez... eu precise entender o que sou.

Célia, que havia chegado silenciosamente, observava com pesar. — O véu não é gentil com quem entra por vontade própria. Ele mostra tudo. Até o que você não quer ver.

Isadora respirou fundo. A fenda se abriu mais, revelando um corredor de fumaça e brasas. Ela deu um passo. Depois outro. E então, foi engolida pela escuridão.

🌫️ Entre Véus

O espaço dentro da fenda não obedecia a lógica. Havia fragmentos de memórias flutuando como folhas ao vento — lembranças que não eram dela, mas que pareciam familiares. Ela viu Kael criança, treinando com guardiões antigos. Viu Célia jovem, selando a terceira marca com lágrimas nos olhos. E viu a si mesma... em três versões.

Uma envolta em luz.

Uma consumida por sombra.

E uma rachada, como o véu.

> “Você é todas,” disse uma voz. Era Kael, mas não o Kael preso. Era o Kael que existia ali, entre mundos.

Ele apareceu diante dela, livre, mas diferente. Os olhos prateados agora tinham rachaduras, e sua pele parecia feita de pedra e fogo.

— Você veio — disse ele. — Mas não para me salvar. Para se encontrar.

Isadora tentou tocá-lo, mas sua mão atravessou o corpo dele como fumaça.

— O que aconteceu com você?

Kael olhou para a fenda atrás dela. — Eu fui marcado pela terceira. Quando tentei protegê-la... ela me escolheu.

Isadora sentiu a espiral em seu ombro queimar. A rachadura no véu estava crescendo. E ela sabia: se não tomasse uma decisão ali, tudo se perderia.

> “Você pode selar o véu,” disse Kael. “Mas vai perder a ligação com tudo que existe entre mundos.”

> “Ou pode atravessá-lo por completo. E se tornar o que ele teme.”

Ela olhou para as três versões de si mesma. E então, para Kael.

— E se eu quiser ser algo novo?

Kael sorriu. — Então o véu vai se curvar. Mas o mundo... talvez não sobreviva.

A fenda começou a se fechar. Isadora correu, atravessando o corredor de brasas, levando consigo a espiral, a chama, e a rachadura.

🌒 De volta à torre

Ela caiu de joelhos diante de Lira e Célia, ofegante. A espiral brilhava em três cores agora — vermelho, dourado e violeta.

Célia se aproximou, com lágrimas nos olhos. — Você não é mais só guardiã. Você é o elo.

Isadora se levantou. — Então vamos descobrir o que isso significa.

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