Ecos do Véu

O mundo parecia mais silencioso do que ela lembrava.

Isadora acordou em seu quarto, mas havia algo errado. A luz do sol atravessava a janela com uma tonalidade diferente — mais fria, mais opaca. O relógio estava parado. E o livro que antes ficava sobre a mesa agora estava aberto em uma página que ela nunca vira.

> “O véu não se fecha. Ele apenas espera.”

Ela se levantou devagar, sentindo o peso da travessia ainda em seu corpo. A espiral em seu ombro continuava brilhando, mas agora com um tom prateado, como se tivesse absorvido algo do mundo entre véus.

Dona Célia entrou no quarto sem bater, os olhos mais fundos, como se não tivesse dormido.

— Você voltou. Mas não sozinha.

Isadora franziu o cenho. — O que isso significa?

A avó apontou para o espelho. Isadora se aproximou e viu seu reflexo... mas não era só ela. Atrás, por um breve segundo, os olhos prateados de Kael surgiram, como se estivessem observando através dela.

— Ele te marcou também — disse Célia. — Agora, vocês estão ligados.

Isadora sentiu um arrepio. Não era medo. Era algo mais profundo. Como se uma parte dela estivesse em outro lugar, vivendo outra realidade.

Ela saiu de casa e caminhou pelas ruas de Pedra Branca. Tudo parecia normal — mas ela via coisas que os outros não viam. Pequenas rachaduras no ar, como se o véu estivesse se desfazendo. Sussurros em línguas esquecidas. E sombras que se moviam sem luz.

> “Você está vendo,” disse Kael em sua mente. “O véu está enfraquecendo. E outros também estão despertando.”

Na praça central, uma garota a observava. Cabelos escuros, olhos dourados. Ela se aproximou com passos lentos, como quem reconhece um igual.

— Você é a marcada — disse. — Mas não é a única.

Isadora sentiu a espiral pulsar. A garota estendeu a mão, revelando uma marca semelhante — mas em forma de chama.

— Meu nome é Lira. E se você não agir rápido... o véu vai rasgar por completo.

Isadora encarava Lira, tentando decifrar se aquela garota era uma ameaça ou um aviso. A marca em forma de chama no pulso dela brilhava com intensidade, como se reagisse à presença da espiral de Isadora.

— Existem outros? — perguntou Isadora, sem conseguir disfarçar o receio.

Lira assentiu. — Poucos. E divididos. Alguns querem fechar o véu para sempre. Outros... querem atravessá-lo e nunca mais voltar.

Isadora sentiu o peso da escolha se aproximando. Ela ainda não sabia o que queria — só sabia que algo dentro dela estava mudando. A realidade parecia frágil, como vidro prestes a estilhaçar.

> “Você precisa se preparar,” disse Kael em sua mente. “Eles vão tentar te usar. Todos.”

Lira olhou para ela com seriedade. — “Você é a chave. A espiral é a marca da guardiã. Mas também pode ser a marca da ruína.”

Isadora recuou um passo. — “E você? O que quer?”

Lira sorriu, mas havia dor em seu olhar. — “Eu quero sobreviver. E se possível... salvar o que resta.”

Antes que Isadora pudesse responder, o chão da praça tremeu. Uma rachadura se abriu no ar — não no solo, mas no espaço entre as coisas. Como se o véu estivesse se rasgando ali, diante delas.

De dentro da fenda, uma sombra emergiu. Alta, sem rosto, feita de fumaça e brasas. As pessoas ao redor não pareciam ver — continuavam andando, rindo, vivendo. Mas Isadora e Lira sabiam: aquilo era um presságio.

A sombra se aproximou, e a espiral em Isadora queimou como nunca antes. Ela caiu de joelhos, tentando conter a dor. Lira se colocou à frente, a chama em seu pulso se expandindo como uma lâmina.

> “Você não está pronta,” disse a sombra, com uma voz que parecia vir de todos os lugares. “Mas o véu não espera.”

Com um rugido silencioso, a sombra desapareceu. A fenda se fechou. E o mundo voltou ao normal — pelo menos para quem não podia ver.

Isadora se levantou, ofegante. Lira a ajudou.

— Isso foi só o começo — disse ela. — E você precisa escolher logo em quem confiar.

Isadora olhou para o céu. As nuvens pareciam mais densas, como se escondessem algo. Ela sabia que Kael a observava. E que Dona Célia guardava segredos que ainda não havia revelado.

> “Se o véu está se desfazendo,” pensou, “então talvez eu precise atravessá-lo de novo. Mas dessa vez... por vontade própria.”

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