####A Entrada de George

O som de passos firmes no corredor não era apenas um homem caminhando. Era um anúncio. A pedra polida parecia vibrar de leve a cada compasso, como se o espaço inteiro reconhecesse quem vinha antes mesmo de vê-lo. E quando a figura atravessou a cortina pesada, o semicírculo de máscaras não apenas se abriu: recuou em reverência muda.

George Callaghan Herrington Lancaster.

Não precisavam dizer seu nome. Bastava sentir.

A máscara negra cobria o rosto até as maçãs, deixando à mostra apenas a linha da mandíbula e o recorte severo dos lábios. Era mais que disfarce: era coroa. Uma máscara que não escondia, mas engrandecia. Aquilo que poderia ser anonimato, nele se tornava presença. Quem o via não pensava “quem será?”; pensava: “é ele”.

O terno era preto, impecável, sem brilho. Costura invisível, corte perfeito, tecido que não refletia a luz das tochas — absorvia. As luvas ajustadas, lisas, feitas sob medida, conferiam-lhe não apenas higiene, mas ritual. George era meticuloso até naquilo que tocava. Não havia acaso. Nunca.

Não olhou para ninguém.

Não precisou.

Sua altura e a postura ereta faziam com que, mesmo em silêncio, dominasse o espaço. Ombros retos, queixo elevado, o andar calculado de quem sabe que o mundo se organiza à sua passagem. Era como um maestro que, antes mesmo de erguer a batuta, já tem a orquestra afinada.

O público não aplaudiu — ali não se aplaudia. O respeito era demonstrado com silêncio. E o silêncio que tomou a Sala de Sodoma e Gomorra não era ausência de som: era reverência. Olhos mascarados o seguiam, alguns brilhando em expectativa, outros se desviando discretamente, como quem evita encarar o sol diretamente.

George caminhou até o centro do salão. O X de ferro o aguardava, erguido como altar. Ao seu lado, duas assistentes surgiram das sombras, vestidas de preto, as mãos cruzadas às costas, a cabeça levemente inclinada. Eram extensão dele, não pessoas, quase sombras materializadas em carne.

O mestre de cerimônias, recuado num canto, inclinou a cabeça num gesto mínimo. Era o sinal de que a noite, de fato, havia começado.

George removeu o relógio do punho, peça discreta e pesada, e entregou à assistente. Não era um relógio qualquer, mas o gesto que importava: retirar o tempo. Dentro da masmorra, o tempo comum não existia. Ele ditaria o compasso.

Em seguida, tirou as luvas. Primeiro a esquerda, depois a direita, dedo por dedo, sem pressa. Cada costura soltava-se como se fosse um segredo revelado apenas a quem tivesse paciência de esperar. E, a cada pequeno movimento, o público parecia se inclinar um pouco mais, como atraído por uma gravidade invisível.

Seu olhar, por trás da máscara, não se fixava em ninguém. Mas, de algum modo, todos sentiam como se fosse neles. Era isso que o tornava diferente dos outros Doms: ele não precisava tocar para possuir. Sua presença já era posse.

Quando finalmente ergueu a mão em direção ao X, a música mudou. Cordas graves, lentas, como um coração que bate não de medo, mas de expectativa. A sala, que já era silêncio, se tornou respiração contida. E George, sem dizer palavra, apenas inclinou o queixo, como quem autoriza o destino a avançar.

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