Cap. 5

Após um dia diferente, cheio de tensões e embates, Bruno decidiu que precisava de um pouco de ar antes de voltar para casa. O relógio já tinha passado das sete da noite quando ele saiu da sede da Essência Salvatore Móveis, com o céu da cidade escuro. 

 Bruno caminhou até um bar despretensioso a poucos quarteirões da sede da empresa, um ponto de encontro frequentando por profissionais do ramo do design e arquitetura. A fachada de madeira rústica e as luzes quentes do Bar o convidavam, e ele não resistiu a entrar.

Bruno pediu um uísque com gelo e se acomodou em uma mesa no canto, deixando o peso do dia se dissolver no primeiro gole.

Não demorou muito para que uma figura familiar se aproximasse. Rafael, um amigo de longa data de  Bruno, se aproximou com um sorriso no rosto, segurando uma cerveja artesanal.

_ Bruno Salvatore, o homem do momento! Brincou Rafael, puxando uma cadeira sem cerimônia e sentando-se ao lado dele. _Ouvi falar da fusão da sua empresa... Essência Salvatore Móveis, hein? Parabéns, cara. Isso é grande.

Bruno sorriu, erguendo o copo em um brinde silencioso antes de tomar um gole.

_Valeu, Rafael. Ainda estamos nos ajustando, mas o potencial é enorme. Respondeu confiante, mas com uma ponta de cautela. A imagem de Íris, com seu coque firme e olhar cortante, passou pela sua mente, mas ele a afastou rapidamente.

Rafael inclinou a cabeça, com um sorriso como se ele soubesse de algo que Bruno não estava contando.

_E a nova sócia? Íris Almeida, não é? Perguntou, cim os olhos brilhando de curiosidade. _Eu conheço a Íris, já trabalhei com ela algumas vezes. Que mulher incrível, Bruno. Sério. Maravilhosa, inteligente, e… ele fez uma pausa dramática, rindo baixo. _ Bem humorada, quando você consegue passar pela muralha dela. Contou Rafael que era Arquiteto e por isso conhecia Iris.

Bruno ergueu uma sobrancelha, quase engasgando com o uísque. Ele pousou o copo na mesa, o gelo batendo contra o vidro, e riu sem acreditar.

_Bem humorada? Perguntou com ironia. _Você está falando da mesma Íris Almeida que eu? Porque a que eu conheci parece que nasceu com a cara fechada.  Eu até dei a ela um apelido: senhorita Gravata, de tão certinha que ela é.

Rafael jogou a cabeça para trás, rindo alto o suficiente para atrair olhares de algumas mesas próximas. Ele balançou a cabeça, ainda sorrindo, enquanto apontava a garrafa de cerveja para Bruno.

_Senhorita Gravata? Essa é boa! Rafael achou graça no apelido dado por Bruno. _ Mas, sério, Bruno, dá um tempo para ela. Íris é durona no começo, toda focada, toda profissional. Mas quando você ganha a confiança dela, vai descobrir que ela é uma das pessoas mais leves que você vai conhecer nessa cidade. Ela tem um senso de humor afiado, do tipo que te pega desprevenido. E, cara, ela é brilhante no que faz. Aquela mulher tem um olho para design que é de outro mundo.

Bruno se recostou na cadeira, os dedos deslizando pelo copo, o sorriso ainda presente em seu rosto, mas agora com um toque de curiosidade. A ideia de Íris ser uma pessoa tranquila e bem humorada, parecia quase absurda, considerando o jeito como ela agia com ele, com respostas cortantes e um olhar que parecia capaz de perfurar aço. Mas as palavras de Rafael plantaram uma semente de dúvida , ou talvez, de interesse.

_Brilhante, eu até acredito… Bruno estava mais pensativo, lembrando do sorriso que ela deu antes do almoço. _Realmente ela tem uma visão ímpar para o design. Mas essa história de senso de humor… vou precisar de provas.

Rafael riu novamente, tomando um gole da cerveja antes de responder.

_Dê tempo ao tempo, amigo. Íris não é do tipo que se abre de cara. Ela é como um daqueles projetos que você precisa estudar antes de entender a genialidade. Mas quando entender… Rafael fez uma pausa, com um olhar malicioso. _Cuidado para não se apaixonar, hein? Porque ela tem esse efeito nas pessoas.

Bruno bufou, balançando a cabeça como se a ideia fosse ridícula, mas o comentário o atingiu mais do que ele gostaria de admitir. Ele tomou outro gole do uísque, o líquido queimando levemente na garganta, enquanto tentava ignorar a imagem de Íris que voltava à sua mente, ainda sentindo o cheiro dela que parecia impregnado em sua memória.

_Apaixonar? Eu? Bruno retrucou, o tom carregado de sarcasmo, mas com um leve desconforto que ele tentou disfarçar. _ Jamais! Eu não nasci para me apaixonar, e a Iris não faz o meu estilo, Rafael. E, pelo que vi, ela é imune a qualquer charme. Acredita que eu a convidei para jantar, para celebramos a nossa parceria e ela me dispensou como se eu fosse um estagiário oferecendo café.

Rafael riu ainda mais alto, quase derrubando a cerveja.

_Essa é a Íris! Exclamou, batendo na mesa com a mão. _Ela não caiu no seu charme de conquistador barato… Rafael provocou. _Mas, olha, vou te dar um conselho se se apaixor por ela: não tente forçar a barra com ela. Seja você mesmo, mas… sei lá, mostre que você respeita o que ela faz. Ela valoriza isso mais do que qualquer papo furado.

Bruno refletiu sobre o que disse Rafael com o olhar perdido no copo por um momento. As palavras do amigo faziam sentido, mas ele não estava pronto para admitir que Íris já ocupava um espaço maior em seus pensamentos do que ele gostaria.

_ Vamos ver como ela se sai no dia a dia …  Se ela é tão maravilhosa quanto você diz, vai ter que provar. E, quem sabe, talvez eu consiga arrancar um sorriso da senhorita Gravata, só isso, nada de me apaixonar por ela.

Rafael sorriu, erguendo a garrafa em um brinde.

_Boa sorte, Bruno. Você vai precisar.

Eles riram, o clima ficando mais leve, e enquanto conversavam sobre outros assuntos, Bruno não conseguia evitar que sua mente voltasse para Íris. A ideia de que ela pudesse ser mais do que a mulher rígida e controlada que ele conheceu, era intrigante. E, pela primeira vez em muito tempo, ele se pegou ansioso por algo além de uma parceria bem sucedida. Ele queria descobrir quem era Íris Almeida, e estava disposto a enfrentar quantos embates fossem necessários para isso.

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