O Peso das Palavras Não Ditas

Os dias começaram a se misturar, como se o tempo tivesse perdido a vontade de seguir. Pela manhã, ela ainda se pegava olhando para o lado da cama, esperando encontrar o calor dele, apenas para se lembrar, com um aperto no peito, da ausência definitiva.

O caderno tornou-se um refúgio. Todas as noites, antes de dormir, ela escrevia para ele. Às vezes, cartas longas e carregadas de sentimentos; outras, apenas uma frase curta, mas sincera: "Sinto sua falta" ou "Hoje pensei em você o dia todo". Não importava o tamanho — escrever era a única forma de conversar com ele.

A cada página preenchida, sentia que um pequeno peso era retirado dos ombros. Mas, junto com o alívio, vinha um medo silencioso: o de que, com o tempo, a lembrança dele se tornasse distante. Por isso, ela guardava cada detalhe — a maneira como ele franzia a testa ao se concentrar, o riso que ecoava quando algo realmente o divertia, o calor das mãos grandes segurando as dela.

Certo dia, ao folhear o caderno, percebeu que estava criando uma coleção de memórias. Não apenas sobre o que viveram, mas também sobre como ele a ensinou a amar e a ser amada.

Naquela tarde, decidiu voltar à cozinha. Fez novamente a lasanha — o prato favorito dele. Não para alguém, mas para si mesma. Enquanto preparava o molho, lembrou de como ele dizia que o segredo estava em deixar o tomate cozinhar devagar, para o sabor se intensificar. Seguiu à risca, como se ele estivesse ali, supervisionando com aquele olhar orgulhoso.

Quando se sentou para comer, sozinha à mesa, sentiu um misto de tristeza e gratidão. Tristeza por ele não estar ali; gratidão por ter vivido um amor que valia a pena ser lembrado.

Naquela noite, os sonhos vieram. Ela o viu em um campo florido, com o mesmo sorriso de sempre. Ele não disse nada, apenas a olhou como quem diz: "Você vai ficar bem". Ao acordar, não chorou. Pela primeira vez, sentiu paz.

Os dias seguintes não foram livres de dor, mas algo nela havia mudado. Era como se estivesse aprendendo a caminhar novamente, um passo de cada vez.

Ela decidiu ir a praça, e encontrou uma senhora idosa. Elas conversaram por um tempo. A mulher contou sobre o marido que havia perdido há décadas, e como ainda conversava com ele em pensamento.

— O amor não acaba, minha filha. Ele só muda de forma — disse a idosa, apertando sua mão com delicadeza.

E naquele instante, ela entendeu que seguir em frente não significava esquecer. Significava carregar aquele amor dentro de si e permitir que ele fosse a força que a manteria de pé.

Guardou essa certeza no coração e, ao voltar para casa, abriu o caderno. Escreveu apenas uma frase:

"Hoje entendi que você nunca foi embora de verdade."

E pela primeira vez, não sentiu que estava escrevendo para alguém ausente. Sentiu que ele estava ali, em cada batida do seu coração, porque mesmo no silêncio que morava naquela casa ela podia ouvir o seu coração chamar por ele.

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