O sol ainda não havia nascido completamente quando Niran chegou ao estacionamento da Pannarai Tech.
O ar fresco da manhã trazia consigo um cheiro de chuva distante, e o silêncio da cidade naquele horário contrastava com o turbilhão que se formava dentro dele.
Na mão, segurava uma mala discreta, suficiente para uma viagem rápida. O motorista já aguardava, mas Niran sabia que não entraria no carro antes que Krit Chaisawat chegasse.
Às seis e quarenta e cinco, como se o relógio fosse uma extensão dele, Krit surgiu. Vestia um terno azul-escuro impecável e trazia a pasta de couro em uma das mãos. A outra segurava o celular, onde digitava algo com expressão impassível.
— Bom dia — disse Niran, abrindo a porta para que o chefe entrasse primeiro.
— Bom dia. — A voz de Krit era tão calma e controlada quanto sempre, mas havia um peso quase imperceptível nela.
O carro partiu. Durante a primeira meia hora, o som predominante era o leve ruído do motor e o toque ocasional no celular de Krit. Niran manteve os olhos na janela, tentando não se deixar levar pela lembrança de quantas vezes, na época da escola, eles haviam viajado juntos para competições e passeios… tempos em que a distância entre eles não parecia tão impossível.
— Você dormiu bem? — A pergunta veio de repente, quebrando o silêncio.
Niran piscou, surpreso.
— Dormi… sim. E o senhor?
— O suficiente. — Krit desviou o olhar para a janela, como se a pergunta não tivesse sido nada demais.
Mas para Niran, foi o bastante para acender uma chama de esperança.
O voo até Bangkok foi rápido, mas os minutos pareciam se arrastar. Krit passou a maior parte do tempo revisando documentos no notebook, enquanto Niran organizava relatórios impressos. De vez em quando, seus olhares se cruzavam — e, sempre que isso acontecia, um deles desviava primeiro.
No desembarque, o clima era úmido e quente. O motorista enviado pela filial já aguardava, e os levou direto para a sede local da Pannarai Tech. A reunião começou quase imediatamente, e Niran entrou no modo profissional, digitando cada detalhe, observando o fluxo de decisões e anotações de Krit.
Era impossível não admirar a postura do CEO. Ele controlava a sala como se fosse um tabuleiro de xadrez, calculando cada movimento, e, ao mesmo tempo, mantinha aquele olhar inexpressivo que escondia emoções demais para serem reveladas.
Já passava das sete da noite quando finalmente encerraram os compromissos. Niran estava exausto, mas nem mesmo pensou em reclamar. Krit, por outro lado, parecia intacto — como se pudesse passar mais cinco horas ali sem perder o ritmo.
— Temos o jantar. — Foi tudo o que disse antes de se afastar para atender uma ligação.
Niran ajeitou a gravata diante do espelho do banheiro da filial, respirando fundo. Não era apenas um jantar. Era… algo que ele ainda não sabia nomear, mas que o deixava inquieto.
O restaurante escolhido ficava em um andar alto de um hotel de luxo. O vidro panorâmico revelava uma vista iluminada da cidade, com as luzes refletindo no rio Chao Phraya. As mesas eram amplamente espaçadas, garantindo a privacidade que Krit havia solicitado.
O garçom os conduziu até um canto isolado, onde a iluminação suave criava um ambiente quase íntimo.
— Espero que goste de comida tailandesa tradicional — disse Krit, após pedir os pratos sem sequer consultar o cardápio.
— Gosto, sim. — Niran se sentou, um pouco hesitante. — O senhor já veio aqui antes?
— Algumas vezes. — Krit recostou-se na cadeira, observando-o de maneira direta. — É um bom lugar para… conversar sem interrupções.
A escolha das palavras fez Niran engolir seco.
— Conversar… sobre o trabalho?
Um leve sorriso — raro, quase imperceptível — surgiu nos lábios de Krit.
— Entre outras coisas.
O jantar começou de forma quase formal, com pequenas trocas de comentários sobre projetos e viagens da empresa. Mas, aos poucos, o assunto foi se afastando do escritório.
— Ainda mantém contato com alguém da nossa turma da escola? — perguntou Krit, mexendo distraidamente no copo.
A pergunta pegou Niran de surpresa.
— Alguns… mais pelas redes sociais. E o senhor?
— Não. — A resposta foi rápida, mas o olhar de Krit se manteve fixo nele. — Só com você.
O silêncio que se seguiu não foi desconfortável — ao contrário, era carregado de significado.
Quando a sobremesa chegou, Niran já sentia o peso daquela atenção. Era como se Krit o estudasse, não apenas com os olhos, mas com a mente. E ele, por sua vez, tentava não se deixar enganar por aquele ar frio, sabendo que algo mais se escondia ali.
— Niran… — disse Krit, num tom mais baixo. — Há quanto tempo trabalha para mim?
— Quatro anos, senhor.
— Certo. — Krit deixou o copo de lado. — E em todo esse tempo… nunca pensei em trocar de secretário.
— Fico… grato — respondeu Niran, tentando manter a voz firme.
Krit inclinou-se ligeiramente para a frente.
— Não é gratidão que quero que sinta.
O coração de Niran deu um salto.
— Então… o quê?
Krit manteve o olhar nele por longos segundos, mas não respondeu. Apenas se recostou novamente, como se tivesse decidido que não era a hora de dizer.
O jantar terminou com a mesma calma com que começou, mas no ar havia algo novo — uma tensão silenciosa, um fio invisível que parecia puxar os dois para mais perto.
No carro de volta ao hotel, Niran olhava pela janela, mas sentia o peso do olhar de Krit sobre ele. Não eram palavras, mas a sensação era clara: algo estava prestes a mudar.
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Atualizado até capítulo 50
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