Capítulo 3: O Segredo no Jardim
A noite havia avançado, mas o salão de baile continuava cheio de vida. As risadas ecoavam pelas paredes, enquanto os casais giravam ao som da música que a orquestra tocava ininterruptamente. No entanto, para Lady Madeleine Ashford, o brilho do salão já não parecia tão fascinante quanto antes. Sua dança com Alexander Blackwood, o Duque de Wycliffe, havia deixado uma marca em sua mente — e em seu coração. Ela sentia como se algo profundamente importante tivesse acontecido, algo que ela não podia simplesmente ignorar, por mais que sua mãe ou a sociedade esperassem que o fizesse.
Madeleine estava agora junto a Lady Charlotte, sua amiga mais próxima, enquanto ambas observavam o salão de um canto mais reservado. Charlotte estava animada, como sempre, comentando sobre os cavalheiros presentes e suas perspectivas matrimoniais. Mas Madeleine, embora sorrisse educadamente e respondesse aos comentários de sua amiga, estava distraída.
— Você está muito quieta esta noite, Madeleine — observou Charlotte, franzindo ligeiramente as sobrancelhas. — Isso não tem nada a ver com o Duque de Wycliffe, tem?
Madeleine tentou esconder o rubor que subia em suas bochechas, mas ela sabia que Charlotte era perspicaz demais para ser enganada. — Não sei do que você está falando — disse ela, com um leve sorriso. — Ele foi cortês, mas nada além disso.
Charlotte arqueou uma sobrancelha, claramente não convencida. — Madeleine, minha querida, eu a conheço bem demais. Não me venha com essa desculpa. Ele é… intrigante, admito. Mas você deve ser cautelosa. Há muitos rumores sobre ele.
Madeleine virou-se para olhar para Charlotte, curiosidade brilhando em seus olhos. — Que tipo de rumores?
Charlotte baixou a voz, como se temesse que alguém pudesse ouvi-la. — Dizem que o Duque tem um passado complicado. Ele passou muitos anos no exterior, em circunstâncias que ninguém realmente compreende. Alguns dizem que foi por causa de negócios. Outros… bem, outros dizem que foi para fugir de um escândalo.
— Um escândalo? — Madeleine repetiu, surpresa. — Que tipo de escândalo?
Charlotte hesitou, claramente desconfortável. — Não sei os detalhes, mas dizem que envolve uma mulher. Uma tragédia, talvez. Você sabe como as pessoas adoram exagerar histórias, mas… ele não é um homem comum, Madeleine. Ele é perigoso de uma maneira que nenhum outro cavalheiro neste salão é.
Madeleine sentiu um arrepio percorrer sua espinha, mas não era de medo. Ao contrário, era de algo mais próximo da excitação, da curiosidade. Alexander Blackwood era, de fato, diferente de qualquer outro homem que ela já havia conhecido. E, embora soubesse que deveria ouvir os conselhos de sua amiga, não conseguiu evitar o impulso de saber mais sobre ele.
Foi nesse momento que ela o viu novamente. Alexander estava ao lado de uma das grandes janelas do salão, observando a noite lá fora. Ele parecia alheio à agitação ao seu redor, como se estivesse em um mundo à parte. Madeleine sentiu seu coração acelerar novamente, e, antes que percebesse o que estava fazendo, começou a caminhar em direção a ele.
— Madeleine, o que você está fazendo? — chamou Charlotte, mas Madeleine não respondeu.
Quando finalmente chegou perto de Alexander, ele se virou para olhá-la, um pequeno sorriso curvando seus lábios. — Lady Madeleine. Não esperava a honra de sua companhia novamente esta noite.
— Vossa Graça — respondeu ela, tentando manter a compostura. — Achei que poderia estar precisando de companhia. A noite parece… solitária para alguém que não participa ativamente da dança.
Alexander riu suavemente, um som baixo e rouco que fez Madeleine sentir um estranho calor no peito. — Você é perspicaz, Lady Madeleine. De fato, multidões como esta não são exatamente o meu ambiente favorito. Mas devo dizer que sua presença torna tudo mais suportável.
Madeleine sentiu um pequeno sorriso surgir em seus lábios, mas antes que pudesse responder, Alexander fez um gesto em direção à porta de vidro que levava ao jardim. — O ar está um pouco pesado aqui dentro. Aceitaria um passeio nos jardins? Prometo que será breve. E, claro, completamente respeitoso.
Ela hesitou por um momento, sabendo que tal ato seria considerado impróprio se alguém os visse. Mas havia algo em Alexander, algo em sua maneira de falar e na intensidade de seu olhar, que fazia com que ela quisesse arriscar. Talvez fosse a promessa de algo mais, algo além da monotonia de sua vida controlada.
— Sim, eu aceito — disse ela, finalmente, e Alexander abriu a porta para que ela passasse.
O ar fresco da noite a envolveu imediatamente, carregado com o perfume das flores que preenchiam os jardins impecavelmente cuidados dos Harringtons. O som do salão de baile tornou-se distante, e Madeleine sentiu uma estranha sensação de liberdade ao caminhar ao lado de Alexander, longe dos olhares atentos da sociedade.
— Parece que você não é muito fã de bailes, Vossa Graça — disse Madeleine, tentando aliviar a tensão que sentia crescer entre eles.
Alexander sorriu levemente, mas havia algo melancólico em sua expressão. — Não é que eu não goste de bailes, mas… digamos que prefiro ambientes menos complicados. Aqui, tudo é sobre aparência, sobre quem você conhece e como você se comporta. É cansativo.
Madeleine sentiu uma pontada de empatia. Ela conhecia bem aquela sensação. — É verdade. Muitas vezes sinto que estou desempenhando um papel, em vez de ser realmente eu mesma.
— E quem é você, realmente, Lady Madeleine? — perguntou Alexander, parando para olhar diretamente para ela.
A pergunta a pegou de surpresa. Ninguém jamais havia perguntado isso a ela antes. Todos sempre presumiam que sabiam quem ela era — a filha perfeita de um visconde, a jovem bela e recatada destinada a um bom casamento. Mas, pela primeira vez, ela sentiu vontade de responder honestamente.
— Eu… não sei — admitiu ela, finalmente. — Acho que ainda estou tentando descobrir.
Alexander assentiu, como se entendesse exatamente o que ela queria dizer. — Bem, se isso a conforta, acho que todos estamos tentando descobrir quem somos. Alguns de nós, no entanto, temos mais segredos para esconder do que outros.
Havia algo no tom dele, algo que sugeria um peso que ele carregava. Madeleine sentiu uma onda de curiosidade, mas também de cuidado. — E você, Alexander? Quem é você realmente?
Ele desviou o olhar, como se estivesse considerando se deveria ou não responder. — Sou um homem que cometeu erros. Que viu coisas que preferia esquecer. Mas também sou um homem que busca algo… algo que ainda não encontrou.
Madeleine sentiu seu coração se apertar ao ouvir suas palavras. Havia uma vulnerabilidade em Alexander que ela não esperava, e isso apenas o tornava ainda mais fascinante. Mas, antes que pudesse dizer qualquer coisa, ele se aproximou um pouco mais.
— Madeleine, há algo em você que me faz querer ser melhor, mesmo que eu saiba que não mereço. — Sua voz era baixa, quase um sussurro. — Mas você deve saber… ficar perto de mim pode ser perigoso.
Ela não sabia de onde veio a coragem, mas ergueu o olhar para ele, determinada. — Talvez eu não tenha tanto medo do perigo quanto você pensa.
Alexander a observou por um longo momento, antes de finalmente sorrir. — Você é realmente extraordinária, Lady Madeleine.
Mas, antes que pudessem continuar, o som de passos ao longe os interrompeu. Alexander deu um passo para trás, recuperando sua postura de cavalheiro, enquanto Madeleine sentia o coração disparar novamente. Quem quer que estivesse se aproximando, eles não poderiam ser vistos juntos ali.
— Acho que nosso passeio termina aqui — disse Alexander, com um leve sorriso. — Mas espero que esta não seja a última vez que conversamos.
E, com isso, ele se afastou, deixando Madeleine sozinha no jardim, com mais perguntas do que respostas.
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Atualizado até capítulo 35
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