Capítulo 2: O Primeiro Olhar
O salão de baile parecia pulsar com a energia dos convidados, risadas e conversas ecoando sob os candelabros brilhantes. No entanto, para Lady Madeleine Ashford, tudo ao seu redor havia se dissipado. Ela estava imersa na intensidade do olhar do Duque de Wycliffe, Alexander Blackwood. Havia algo quase magnético nele, um misto de mistério e autoconfiança que fazia com que ela não conseguisse desviar os olhos, mesmo enquanto o visconde de Everston tentava chamar sua atenção.
— Lady Madeleine, permita-me dizer que você está absolutamente radiante nesta noite — disse Everston, com um sorriso que parecia ensaiado. Ele era um cavalheiro agradável, com traços finos e modos impecáveis. Qualquer outra dama no salão ficaria encantada com sua atenção, mas Madeleine apenas ofereceu um sorriso educado enquanto sua mente estava em outro lugar.
— Muito gentil de sua parte, milorde — respondeu ela, com um tom polido, mas distante.
Everston começou a falar sobre sua propriedade no campo e suas colheitas de verão, um assunto que Madeleine mal conseguia fingir interesse. Seus olhos, quase por vontade própria, voltaram a buscar Alexander, que agora havia parado do outro lado do salão, conversando brevemente com o anfitrião, Lorde Harrington. Ele parecia deslocado em meio à leveza e frivolidade da festa, como se estivesse ali por obrigação e não por desejo. Ainda assim, sua presença dominava o ambiente.
Foi quando aconteceu. O Duque de Wycliffe começou a caminhar em direção a ela.
Madeleine sentiu seu coração acelerar, o calor subindo por suas bochechas. Ele estava vindo, e a ideia de que aquele homem tão enigmático escolhesse se aproximar dela era ao mesmo tempo fascinante e aterradora. O que ela diria? Como deveria agir? Não havia tempo para pensar. Ele já estava diante dela.
— Lady Madeleine Ashford, presumo? — disse Alexander, com uma voz grave e rica, tão encantadora quanto perigosa. Ele fez uma leve reverência, seus olhos verdes brilhando com uma intensidade que parecia penetrar sua alma.
Madeleine piscou, tentando se recompor. — Sim, sou eu, Vossa Graça. É um prazer conhecê-lo.
— O prazer é todo meu — respondeu ele, com um sorriso que era tão sutil quanto devastador. — Ouvi falar muito de sua beleza e graça, mas devo dizer que as descrições não fazem justiça.
Madeleine ficou sem palavras por um momento. Não porque ele a elogiava — isso era algo que ela ouvia frequentemente, embora de maneira mais superficial. Era o tom de sua voz, a forma como ele a olhava, como se ela fosse a única pessoa naquele salão. Era algo que ela nunca havia experimentado antes.
— É muito gentil de sua parte, Vossa Graça — disse ela finalmente, tentando soar calma, mesmo que seu coração estivesse disparado.
— Não sou conhecido por ser particularmente gentil, Lady Madeleine — respondeu ele, com um tom levemente divertido. — Apenas sincero.
Ela não pôde deixar de sorrir. Havia algo refrescante em sua honestidade, algo que o separava de todos os outros cavalheiros que ela conhecia. Eles eram todos tão cuidadosos, tão preocupados com as aparências. Alexander, por outro lado, parecia não se importar em absoluto com o que os outros pensavam dele.
Antes que Madeleine pudesse responder, sua mãe apareceu, como um falcão protegendo seu território. Lady Margaret Ashford era uma mulher de presença imponente, com olhos críticos que avaliavam cada pessoa ao redor como se fossem peças em um tabuleiro de xadrez.
— Vossa Graça, que honra tê-lo em nossa presença — disse Lady Margaret, com um sorriso que não alcançava os olhos. — Sou Lady Margaret Ashford, mãe de Madeleine.
— Lady Margaret, uma honra conhecê-la — respondeu Alexander, fazendo uma reverência educada. Sua expressão era cortês, mas havia uma leveza em seu tom que sugeria que ele não se sentia intimidado pela presença de Lady Margaret, algo que era raro.
— Espero que esteja aproveitando a festa. Lorde Harrington é conhecido por sua hospitalidade — continuou Lady Margaret, claramente tentando desviar a atenção de Alexander para si própria.
— É um evento memorável, de fato — disse Alexander, mas seus olhos permaneceram fixos em Madeleine. — Mas devo admitir que minha noite se tornou ainda mais interessante agora.
Lady Margaret pareceu visivelmente surpresa com a ousadia de sua declaração, mas antes que pudesse responder, Alexander voltou-se para Madeleine.
— Lady Madeleine, permitiria-me a honra de uma dança? — perguntou ele, estendendo a mão.
Madeleine sentiu o olhar de sua mãe praticamente perfurar sua pele, mas algo dentro dela a impulsionou a aceitar. Talvez fosse a curiosidade, ou talvez fosse o desejo de escapar, ainda que por alguns minutos, das expectativas sufocantes que sempre a cercavam.
— Seria uma honra, Vossa Graça — disse ela, colocando delicadamente sua mão na dele.
Enquanto ele a conduzia para a pista de dança, Madeleine teve a estranha sensação de que todos os olhos no salão estavam sobre eles. A orquestra começou a tocar uma valsa, e Alexander a puxou para mais perto, sua mão firme em sua cintura enquanto eles começavam a se mover.
— Espero não ter causado problemas com sua mãe — disse Alexander, com um leve sorriso.
— Minha mãe é… protetora, digamos assim — respondeu Madeleine, tentando não se perder nos olhos dele. — Mas acredito que ela ficará satisfeita em saber que estou dançando com um duque.
— Ah, então é o título que importa? — perguntou ele, inclinando-se levemente para ela. — E eu que pensava que era meu charme.
Madeleine riu, um som leve e genuíno que surpreendeu até a si mesma. — Talvez um pouco dos dois, Vossa Graça.
— Alexander — corrigiu ele, suavemente. — Prefiro que me chame de Alexander.
Ela hesitou por um momento, mas acabou cedendo. — Alexander, então.
— Madeleine — disse ele, como se experimentasse o nome em seus lábios. — Um nome bonito para uma mulher ainda mais bonita.
Ela sentiu o calor subir por suas bochechas novamente. Havia algo em sua maneira de falar, tão direta e intensa, que fazia com que ela se sentisse… viva. Como se ela fosse mais do que apenas a filha de um visconde, mais do que uma peça em um jogo social.
Enquanto dançavam, Madeleine percebeu que o mundo ao seu redor havia desaparecido. Não havia mais salão, nem orquestra, nem olhares curiosos. Havia apenas Alexander, e a estranha sensação de que, de alguma forma, ele era o destino que ela nunca soube que estava esperando.
Mas, no fundo de sua mente, uma pequena voz sussurrava: isso não pode terminar bem.
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Atualizado até capítulo 35
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