O Silêncio

Katherine caminhava lentamente pela trilha de volta para casa. A floresta, que antes parecia um abrigo de paz, agora era um eco constante do que acabara de acontecer. Seus passos estavam pesados, e a pequena pedra negra que carregava na palma da mão queimava de leve, como se quisesse lembrá-la de que tudo aquilo era real.

Ela apertava o objeto com os dedos, tentando não pensar no olhar daquele homem dourado, intenso, antigo mas era impossível. "Seu coração conhece. Seu corpo também. Só sua mente ainda não despertou."

As palavras ecoavam como sussurros dentro de sua cabeça. Mesmo tentando afasta-las, elas grudaram na pele, no pensamento, como se tivessem sido tatuadas em sua alma.

Chegando ao vilarejo, Katherine se surpreendeu com o silêncio. Era estranho ver as ruas tão vazias àquela hora do dia, como se algo tivesse se escondendo sob a rotina das casas.

Ela destrancou a porta de casa com certa urgência, como se apenas o interior familiar pudesse afastar os arrepios que sentia. Entrou e largou os sapatos no canto, deixando a mochila com a pedra sobre a poltrona da sala. A luz do entardecer pintava as paredes com tons de ouro e sangue e o ar estava quente, quase sufocante.

— Mãe? — Chamou, subindo os degraus devagar. — Voltei...

Silêncio.

Foi até o quarto da mãe. A cama feita, o ambiente em ordem, mas sem sinal dela. Katherine sentiu o coração acelerar um pouco. Não havia bilhete colado na geladeira, nem mensagem no celular. Quando finalmente entrou no próprio quarto, sentiu um arrepio.

Sobre a mesa da cabeceira, havia um envelope branco com seu nome escrito em letras cuidadosas. Ela pegou com as mãos hesitantes a caligrafia era da mãe, rompeu o lacre devagar e leu:

..."Minha filha, fui passar alguns dias fora da cidade, na casa de sua tia. Preciso de um tempo para respirar, pensar em algumas coisas, estou bem não se preocupe. Cuide de si e da casa. ...

...Se precisar de mim, estarei sempre a uma ligação de distância....

...Te amo....

...Mamãe."...

Katherine sentou-se na beira da cama, sentindo um vazio repentino. Mesmo com todos os sentimentos confusos causados pelo homem misterioso, aquela ausência parecia mais assustadora ela agora estava sozinha em casa.

Dobrou com cuidado e guardou na gaveta. Depois, pegou o celular, a tela se acendeu e o coração dela quase pulou, mas... nada. Nenhuma nova mensagem, nenhum número Desconhecido, nenhuma palavra e nem mesmo um "Olá".

— Claro... — Murmurou, decepcionada. — Ele some quando quer, aparece quando quer...

Abriu o histórico e releu todas as mensagem do número anônimo. Aquela última, "Porquê você me pertence", ainda causava um arrepio incômodo e ao mesmo tempo, excitante.

Ela colocou no campo de mensagem, mas não digitou nada. Apenas ficou ali, encarando a tela como se o simples ato de olhar pudesse invocar uma resposta.

A noite foi chegando devagar. Os barulhos da casa vazia pareciam mais altos do que o normal. O tique taque do relógio, os estalos da madeira, o vento soprando pelas frestas da janela do banheiro, tudo parecia observa-la.

Katherine deitou-se, mas não conseguia dormir. Ao lado da cama, no copo com água, a rosa vermelha ainda estava viva quase perfeita como se o tempo não a tocasse.

O celular em sua mão se manteve aceso por longos minutos. Nada, nenhuma notificação apenas o brilho da tela iluminando sua expressão cansada.

Ela Suspirou e se virou de lado. Fechou os olhos, mesmo que sua mente estivesse a mil.

"Seu corpo já sabe... seu coração lembra..."

A frase dela mesma voltou como um sopro nos ouvidos e com o peso da solidão, do silêncio e da curiosidade que doía, Katherine adormeceu. Então ela começou a sonhar...

Ela caminhava por um corredor de pedra, nu, frio e úmido. As paredes pulsavam como se fossem vivas, cobertas por raízes que mexiam lentamente, como serpentes adormecidas. A luz era escassa, vinda de uma lua avermelhada que brilhava por uma abertura no teto. Estava descalça, vestida com uma camisola fina que colava ao corpo.

O chão estava úmido sob seus pés. Ao longe, ouvia o som de respiração pesada, como se uma fera estivesse prestes a despertar. O ar cheirava a ferro, rosas e terra molhada.

— Katherine... — Uma voz sussurrou no escuro. Era a mesma voz do homem.

Ela se virou rapidamente, mas não viu ninguém.

— Onde você está ?

O som de passos rápidos e firmes. Ela recuou, os olhos tentando focar nas sombras. Então ele surgiu alto, ainda mais imponente, os olhos dourados brilhando como brasas. Seu rosto parecia mais nítido agora: belo, afiado, quase cruel de tão perfeito. Usava uma camisa preta aberta até o peito, revelando parte do corpo forte, marcado por uma cicatriz sobre o coração.

— Você me chamou — Disse, aproximando-se.

— Eu não... — Ela hesitou. — Isso é um sonho?

— Isso é o que sempre esteve dentro de você. — Ele ergueu a mão e tocou levemente o queixo dela. — Você me viu, você me tocou... mesmo sem lembrar.

Ela se arrepiou. O tique dele parecia real demais para ser sonho.

— Que é você? — Sussurrou.

Ele a olhou com intensidade — A pergunta certa é: quem é você, quando está comigo?

E então a envolveu nos braços o cheiro dele era inebriante, rosas negras, terra e algo primal, antigo. O mundo ao redor sumiu tudo que existia era o calor daquele abraço, a pulsação dos dois se alinhando como se fossem parte do mesmo corpo.

Ela tentou resistir, mas não havia força para isso. Ele levou os lábios ao ouvido dela e sussurrou:

— Em breve... sob a lua... você vai se lembrar de tudo.

Katherine despertou com o coração acelerado, o corpo suado e as mãos tremendo. A rosa, ao lado da cama, parecia mais vermelha do que nunca. O copo d'água estava vazio, como se a flor tivesse sugado mais do que o normal durante a noite.

Ela olhou para o celular, a tela estava acesa.

Mensagem recebida — Número Desconhecido:

— "Eu estive com você... mesmo nos seus sonhos".

O coração dela parou por um segundo. Então, com os dedos trêmulos, respondeu:

— O que você é?

A resposta veio em menos de um minuto:

— Apenas aquele que nunca deixou de te buscar.

Ela se levantou foi até a mochila, pegou a pedra e segurou com força. A superfície estava quente novamente. E aquele instante, soube que a próxima noite de lua cheia estava chegando e com ela, viria uma escolha.

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