Katherine ficou encarando a tela do celular como se pudesse extrair dela alguma resposta. A mensagem ainda estava lá, como uma bra acesa. "Espero que tenha gostado do meu presente."
Sem nome. Sem foto. Sem número visível. Ela mordeu o lábio inferior, sentindo o gosto amargo do arrependimento da noite passada misturado ao perfume adocicado da rosa. O quarto parecia carregado de uma energia estranha, como se algo ainda parasse ali invisível mas, vivo.
Sentou-se na cama, o corpo ainda pesado, o coração inquieto. Tocou delicadamente a rosa vermelha dentro do copo com água. A flor parecia pulsar, como se guardasse um segredo em casa pétala. Então, respirou fundo, pegou o celular e digitou lentamente.
— Quem é você? — Pensou por alguns segundos.
Apagou. Reescreveu:
— Obrigada pela rosa... Mas não sei quem é. Você me conhece?
Mais uma vez hesitou apagou tudo de novo por fim, escreveu apenas:
— Por quê?
Apertou "enviar" antes que pudesse mudar de ideia. A mensagem sumiu da tela, e com ela, uma parte do controle que ela julgava ter sobre sua própria vida. Por longos minutos, não houve resposta.
Katherine se levantou e foi até a janela. Abriu-a lentamente, observando a floresta adiante. O vento que veio de lá era frio, quase cortante. E, por um instante, ela teve a sensação de estar sendo observada de novo. Mas não havia ninguém só as folhas dançando e o som distante de um corvo solitário.
Voltou para dentro, fechou a janela e sentou-se novamente até que o celular vibrou.
Mensagem recebida.
Número Desconhecido:
"Porque você me pertence."
O frio que percorreu sua espinha não vinha do vento, vinha das palavras. Simples e diretas como se quem as escreveu não tivesse dúvidas.
— Isso é algum tipo de brincadeira? — Murmurou para si mesma.
Mas uma parte dela sabia que não era. Seu corpo lembrava a sensação de ser tocada enquanto dormia. O arrepio que desceu pelo couro cabeludo o sussurro... "Você é minha."
Ela digita outra mensagem:
— Eu não pertenço a ninguém! — Mas não enviou.
Em vez disso, deixou o celular ao lado, pegou uma blusa e desceu para dar uma volta. Precisava de ar, de clareza, de distância daquela presença. Caminhou até a parte de trás do vilarejo, onde havia uma pequena trilha entre as árvores. Era um lugar onde costumava ir para pensar mas naquele dia, o som dos galhos pareciam mais altos e os pássaros ausentes, o ar mais denso.
Ela continuou andando, mesmo com receio crescendo no peito. Quanto mais se afastava das casas, mais sentia algo diferente se aproximando uma espécie de... familiaridade assustadora.
De repente, ouviu passos atrás de si. Parou e o coração acelerado.
— Quem está aí? — Perguntou, virando-se com rapidez.
Nada... Não era ninguém...
Mas então, no ponto exato onde a luz do sol filtrava entre os galhos, algo surgiu. Uma sombra alta e silenciosa, os mesmos olhos dourados que ela julgava ter sonhado na noite anterior brilharam entre as árvores.
Ela recuou um passo, o peito arfando.
— Isso é real? — Perguntou em voz baixa, quase para si mesma.
A figura saiu da penumbra.
Era um homem alto e imponente, cabelos negros levemente bagunçados, pele clara e firme. Vestia uma roupa escura, elegante e antiga, como a tivesse saído de outro século. Mas o mais assustador era a tranquilidade com quem ele caminhava em sua direção, como se tivesse feito aquilo muitas vezes antes.
— Katherine — Disse, com uma voz rouca e melódica que parecia acariciar seus ouvidos. — Você se lembra de mim, não lembra?
Ela recua mais um passo.
— Quem é você ? Por que está me seguindo?
Ele parou a poucos metros dela e seus olhos não a deixavam escapar.
— Eu não estou te segundo. Estou... Voltando para você. — Sorriu levemente. — Sempre volto.
Katherine sentiu um nó na garganta. Sua mente tentava encontrar lógica, mas seu corpo parecia reconhecer aquele homem.
— Eu não conheço você... — Murmurou.
Ele se aproximou mais um passo a floresta ao redor pareceu silenciar por completo.
— Seu coração conhece, seu corpo também. Só sua mente ainda não despertou.
— Isso é loucura...
— Talvez ou talvez... seja a verdade que você sempre evitou.
Ela sentia as pernas tremerem, mas não conseguia fugir. Então ele estendeu a mão longa, de dedos firmes e veias marcadas a mesma não que ela sentiu sobre seu cabelo na noite anterior.
— Eu nunca quis te assustar — Disse. — Mas precisava que você me visse.
— Me visse como? Um stalker? Um lunático que entra no quarto de mulheres dormindo ?
Ele abaixa a cabeça, um gesto quase... triste.
— Eu sou muitas coisas, Katherine. Algumas delas você vai odiar, outras... vai amar mais do que pode imaginar.
— Isso é algum tipo de feitiço?
Ele ergue os olhos e sorriu de novo mas agora havia dor nesse sorriso.
— Sim e não.
Um silêncio tenso pairou entre eles e então ele deu um passo para trás.
— Não vou forçar nada, não ainda. Mas vou deixar uma verdade. — Tira algo do bolso.
Era uma pequena pedra negra, lisa e brilhante. Colocou no chão, bem diante dos pés dela.
— Quando estiver pronta, segure embaixo da luz da lua e você verá.
— Ver o quê?
— A mim. A você e o que nos conecta. — Seus olhos brilharam. — Até lá... cuide da rosa, ela está viva.
E então, sem mais uma palavra, ele se virou e desapareceu entre as árvores como se fosse parte delas. Katherine caiu de joelhos, sentindo as pernas fracas, pegou a pedra com os dedos trêmulos, estava quente mesmo no meio da floresta fria aguardando.
Ela sabia, no fundo, que sua vida jamais voltaria ser a mesma.
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Atualizado até capítulo 35
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