Um empreendimento.

Eles achavam que ela estava falando com o grupo.

Mas cada palavra era para mim.

Eu notei.

Cada detalhe.

A raiva engolida, o medo disfarçado, a dor camuflada de força.

Amanda já tinha sido agredida.

E agora sorria como se tivesse vencido.

Mas o corpo dela ainda carregava os resquícios, sua fragilidade disfarçada atraia olhares, ela cheirava a proteção e muitos não entendiam, a viam como quem protegia, quando, na verdade, era o oposto.

Aquilo me incomodou.

Mais do que eu queria admitir.

Talvez porque eu conheça bem o tipo de homem que faz isso.

Talvez porque eu tenha sido moldado por um, porque eu já tenha sido um.

Mas não...

Não foi só isso.

A provocação foi sutil. Um recado direto.

“Sou forte. Não vou cair.”

Mas, mesmo assim, ela falou, era sua arma, sua defesa, a muralha erguida que eu quis derrubar.

Quis proteger.

Quis tocar.

E não podia.

Ela saiu com um carro velho, conseguia ver do meu carro a forma como ela ajustava o batom, como seu peito subia e descia, ela buscava a normalidade, mas tinha encontrado as sombras, minhas sombras.

A tarde já em casa, sentado na varanda com o café esfriando ao lado, o celular vibrou.

Era uma foto.

Ultrassom.

Dois pontinhos. Dois corações.

Elisa e Ethore.

Senti os olhos arderem. Sorri sem mostrar os dentes.

Me levantei como se alguma coisa tivesse sido ativada.

Aquela energia voltou, não vou só reabilitar, vou criar meu império.

Não bastava prometer.

Era hora de construir algo. De provar.

Peguei o carro e segui até uma área mais escura da cidade, conhecida pelas festas noturnas, brigas escondidas e negócios que não passavam por bancos.

Vi um galpão antigo, tijolos queimados, janelas altas com vidros gastos pelo tempo.

Perfeito.

O corretor me esperava. Camisa justa demais, sorriso artificial.

— A localização é boa para eventos masculinos, senhor... Daniel, né? — Ele conferiu a ficha. — Mas vou ser direto. O lugar precisa de reforma. Não sai por menos de $800.000,00 dólares.

Assenti com a cabeça, entrando no espaço.

O chão de cimento bruto.

As paredes com marcas do tempo.

Mas eu enxergava tudo.

Camarote em cima.

Bar de um lado.

Jaula de lutas no fundo.

Música pesada, luzes vermelhas, neon escorrendo pelas paredes.

Nada que fosse impossível, mas tudo... intenso.

Como eu.

— Posso mostrar outras opções mais dentro de um orçamento flexível, se quiser… — ele tentou, olhando minha camiseta preta e tatuagens expostas.

— Não precisa. — interrompi. — Vai ser esse.

Ele riu.

— Certo. Posso ver um financiamento com o banco. Entrada de…

— Eu vou pagar à vista. — cortei, seco.

O sorriso dele sumiu.

Olhou de novo para ficha. Depois para mim.

— À vista? Tudo?

— Dinheiro limpo. Transferência direta. Só me diga o nome do cartório.

O silêncio dele foi delicioso.

A mesma cara que eu vi tantas vezes quando meu pai fechava negócios em cima da mesa com gente que nunca imaginava o quanto tínhamos.

Mas agora era meu.

Meu nome.

Meu império.

E seria por eles.

Por Ester, Elisa.

Por Ethore.

E talvez…

Por ela também.

No cartório, o ambiente era frio e formal, contrastando com o fervor dos meus planos. O corretor, agora numa tentativa enfiada de ser solícito, não largava o assunto.

— Tenho aqui uma lista de fornecedores e decoradores que podem transformar esse espaço. Imagine só: iluminação, móveis, equipamentos de som… — dizia ele, espalhando papéis sobre a mesa.

— Não vou precisar disso. — Cortei, impaciente. — Tenho meus contatos certos. Quero fechar o negócio à vista, sem intermediários.

O corretor hesitou por um instante. Mas depois, com um sorriso amarelo, inclinou-se e entregou os documentos.

— Então, só falta assinar e efetuar o pagamento, senhor.

Assinei. Cada traço era um pacto silencioso com a nova vida que eu queria construir.

Aquele gesto selava o fim de um passado e o início de um império de festas, de lutas e, de certa forma, de redenção à minha maneira.

Paguei à vista.

Sai rapidamente do cartório, com os papéis firmemente guardados, pouco depois, ela me ligou, estava aguardando em frente ao lugar, assenti e segui para lá.

— Daniel, que bom te ver, ansiosa em saber o que te trouxe de lá, do império do Rio. — ela falou me abraçando.

— Outra hora te conto, que bom te ver Luana, vem, vamos entrar. — respondi abraçando seu corpo e seguimos.

O cheiro de tinta fresca ainda pairava no ar do galpão. Concreto exposto, paredes brutas, o tipo de lugar onde tudo pode começar, ou acabar. A estrutura era firme, como eu precisava que fosse. As ideias estavam em movimento.

Agora era minha.

Luana andava devagar entre os pilares de ferro, de salto alto, a saia justa demais para ser discreta. A luz do fim da tarde passava pelos vãos das janelas, cortando o ambiente com listras douradas que atravessavam seu corpo como faca em carne crua.

— Você não perdeu tempo — ela disse, sorrindo ao ver as plantas jogadas no chão. — Sabia que o lugar é perfeito para você, é a sua cara, isso.

— Tempo é uma coisa que eu não gosto de desperdiçar — respondi, direto.

Ela se virou para mim, encostou-se numa das colunas e cruzou os braços.

— Nem eu. E já que a gente se entende… — Seus olhos escureceram, um brilho perigoso surgiu na boca dela.

Luana se aproximou com um passo firme, parou a poucos centímetros do meu corpo e me puxou pela gola da camisa. Seus dedos deslizaram pela minha nuca até se fecharem em meu cabelo, e me beijou como se quisesse provar algo, ou alguém.

O beijo era urgente. Boca quente, língua atrevida. Ela mordeu meu lábio e sussurrou:

— Não quero compromisso, Daniel. Só quero o que é fácil. Sem culpa. Sem apego.

Me afastei só o bastante para olhar nos olhos dela.

— Ótimo. Também não tô atrás de nada que dure mais do que deve.

Com um movimento rápido, a ergui pela cintura e a coloquei sobre a coluna de concreto. Ela soltou uma risada rouca, satisfeita.

— Direto ao ponto. Sabia que ia gostar disso aqui.

— Eu sou isso aqui.

Minhas mãos estavam em sua cintura, os dedos afundando em sua pele como se eu pudesse apagar qualquer lembrança anterior. Puxei sua calcinha para o lado, ela me entregou o preservativo, trouxe porque sabia o que faríamos, coloquei e entrei nela, ela gemeu, estoquei extravasando do jeito que ambos gostavam. Ela puxou minha camisa, a jogou no chão, éramos um só corpo ali, e ambos estavam gostando.

Ali, no centro do galpão vazio, a única regra era esquecer.

Nenhum nome foi mencionado.

Nada foi prometido.

Só corpos e urgência.

E por um instante, só por um…

Amanda deixou de existir.

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