O carro preto estacionou às 6h29 em frente ao prédio modesto onde Lívia morava.
Ela já estava na calçada. Ansiosa. A pontualidade dele era quase assustadora — e completamente previsível.
O motorista saiu, educado, porém direto:
— Bom dia, senhorita Andrade. O senhor Ferraz pediu que eu a trouxesse. Diretamente ao 23º.
Diretamente.
Sem rodar, sem parar, sem respirar.
Era exatamente como ele: objetivo, impaciente, no controle.
Durante o trajeto, Lívia manteve os olhos na janela. Estava nervosa, mas determinada.
Ela precisava daquele emprego. Precisava do salário. Precisava da rotina.
Mas algo dentro dela ainda se remexia, inquieto, como se estivesse prestes a cair num jogo sem entender as regras.
Ao chegar, foi recebida por uma recepcionista com um sorriso gelado.
— Ah, você é a nova? — perguntou uma das funcionárias, de saia justa e batom vermelho. — Assistente pessoal do senhor Ferraz?
— Sim. Lívia Andrade. Começo hoje.
A mulher riu com sarcasmo.
— Então já te desejo sorte. Ele já demitiu três esse ano. Uma saiu chorando depois de dois dias.
Outra... — ela deu de ombros — se encantou demais e foi "gentilmente dispensada".
Lívia fingiu não ouvir. Manteve o queixo erguido e caminhou até o elevador.
No último andar, tudo era mais silencioso. Sofisticado. Quase estéril.
Um ambiente que parecia feito sob medida para ele.
E então, como se invocado, ele apareceu.
As portas do elevador se abriram e lá estava Dante.
Terno escuro. Gravata alinhada. Perfume sutil e perigoso.
Os olhos dele encontraram os dela no mesmo instante. E o silêncio entre os dois pareceu mais alto que qualquer palavra.
— Entre. — ele ordenou, sem ao menos um “bom dia”.
Lívia obedeceu.
O elevador subiu mais um andar, até o mezanino onde apenas ele tinha acesso.
— Está atrasada três segundos. — ele disse.
Ela arregalou os olhos, surpresa. Tinha conferido o relógio!
— O carro chegou às 6h29 em ponto, senhor Ferraz. Entrei assim que ele parou.
Ele virou lentamente o rosto para ela, o olhar fixo e carregado.
— E três segundos fazem diferença.
A pontualidade não é sobre chegar no horário. É sobre antecipar o comando.
Ela mordeu o lábio inferior, frustrada, mas não respondeu.
Não ia dar a ele o gosto da reação.
Quando as portas se abriram, ele saiu primeiro.
— Sala à esquerda. Quero relatório atualizado das reuniões do setor de marketing. Estudo de concorrência do último trimestre. E agende um jantar para amanhã à noite com o presidente da MaxCapital.
Ela o seguiu com o tablet em mãos.
— O jantar será com acompanhante, senhor?
Ele parou. Virou-se devagar.
— Será com você.
O coração dela parou por um segundo.
— Eu? Mas… eu sou nova. Não seria mais adequado a assistente de eventos ou…
— Eu não convidei ninguém. Dei uma ordem.
Ela engoliu seco.
— Sim, senhor.
Ele se aproximou, lentamente.
Chegou tão perto que ela sentiu o calor da presença dele no rosto.
— Vista-se como se soubesse o seu valor. Não tente me agradar.
E principalmente… — ele olhou nos olhos dela — não me desafie.
Ou você vai descobrir, muito cedo, o que acontece com quem tenta.
Lívia mal conseguia respirar.
Dante virou as costas como se nada tivesse acontecido. E desapareceu pelo corredor.
Ela ficou ali, parada, com o corpo tenso e a mente em chamas.
Era seu primeiro dia.
E já sentia que estava sendo puxada para um jogo onde as regras não estavam escritas em papel — mas na pele, no olhar e na intenção.
E no fundo, ela sabia:
Ele não contratou uma assistente.
Ele escolheu uma peça.
Não esqueçam de curtir e comentar ,beijinhos a garota do livro 😻
@ysa_silvaaa_
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 81
Comments